Da Terra ao Céu - Capítulo 23
Ele acordou cedo pela manhã devido a uma dor de cabeça que começou enquanto ainda estava dormindo. Foi muito incomum, na verdade.
O céu, que não se levantou apesar de já ter amanhecido, estava completamente escuro para o horário e mesmo assim, existia uma pequena luz que se estendia através da janela de vidro e ia diretamente até sua cama.
Noah parou diante da janela com a cabeça baixa, encarando fixamente o deserto que continuava da mesma forma de quando chegou. Quanto tempo havia se passado desde então? O tempo era escuro e solitário, fazendo-o entender a razão pela qual Sasha disse que era um bom lugar para refrescar a mente. Só de olhar para o deserto arenoso, submerso no mais infinito dos silêncios, fazia Noah sentir como se suas preocupações não fossem nada importantes.
No entanto, enquanto seus pensamentos se tranquilizavam, a repentina avalanche de dor não desapareceu, só fez com que os nervos de Noah ficassem ainda mais agitados. Provavelmente era graças ao plano de Sasha que ia ser levada a cabo neste mesmo deserto em algumas horas e mesmo fingindo que não, estava mais preocupado e nervoso do que queria demonstrar.
— Maldição! Por que o teste tem que ser justamente hoje?
Noah deu a volta e estalou a língua. Pensou que deveria tomar algumas pílulas para a dor de cabeça o mais rápido possível porque realmente se sentia PIOR do que mal e além disso, seu coração não parava de bater contra seu peito com “tum tum tum” uma e outra vez, provavelmente devido à mesma sensação.
Durante o tempo em que havia estado com Sasha nunca havia acontecido nada como isso antes e era estranho que ocorresse logo agora. As palavras de Caleb lhe importou o suficiente para arruinar sua condição? Olhando para trás, não acreditava nessa possibilidade.
Em qualquer caso, devido a seu mal estado físico e dor de cabeça, descobriu que o amanhecer no deserto estava se afastando tão rápido, que começou a se sentir culpado por não apreciá-lo como era devido; Não sabia quando poderia voltar a observar um espetáculo assim, o que era um pouco lamentável.
Lamentável, mas inevitável e certeiro.
Ele saiu do quarto, pensando somente no horrível desejo de se desfazer da dor de cabeça. O som de seus próprios passos enquanto caminhava pelo corredor, que ainda não estava iluminado, ressoou alto o suficiente para fazê-lo pensar que o som era desagradável. Quase como se a madeira não quisesse largar seus calcanhares desta vez.
***
Como Sasha havia explicado anteriormente, o caminhão estava equipado com um sistema informático interessante. Noah sorriu enquanto encarava os computadores que enchiam a metade do veículo e até se deu o luxo de passar as pontas dos dedos pelas bordas. Ao que parecia, tudo estava programado para que a bomba fosse ativada ao mesmo tempo em que acessasse a RAM. E isso só podia significar que todo esse “bom equipamento” era descartável. Era como um lembrete de que o doutorzinho tinha muito dinheiro
— É tudo bom demais para ser uma instalação de uso único. É uma pena.
Noah murmurou para si mesmo, sentando-se em uma cadeira dobrável. logo, colocou o celular que Sasha tinha lhe entregado sobre a mesa onde estava o monitor e olhou para baixo em completo silêncio para começar a organizar suas coisas.
— Noah…
E de repente, a voz de Sasha, chamando-o enquanto colocava a pílula para dor de cabeça na palma da mão, soou como se estivesse acima de sua cabeça. O homem estava incrivelmente bem vestido apesar de ser bem cedo e mesmo que ele sempre parecesse muito bonito, naquele dia parecia “brilhantemente encantador”. No caso, havia feito a barba cuidadosamente e penteado o cabelo com bastante cuidado. Ele disse que ia até a base aérea para uma prova de rotina mas, ao que parecia, havia terminado com os preparativos muito antes do que pensou.
Noah desviou o olhar em um instante porque pensou que o estava encarando descaradamente demais para seu próprio bem. Sentiu como se a vergonha o apunhalasse naquele momento. Engoliu o remédio que estava em sua boca com bastante água para se desfazer do gosto e logo fechou os olhos, como se observasse se a forma como o medicamento chegaria ao seu estômago era adequada. Enquanto isso, Sasha se aproximou.
— São pílulas para…?
— Minha cabeça está doendo.
— Não conseguiu dormir por causa da dor?
Sasha, que verificou a caixa do remédio, perguntou isso franzindo o cenho. Era certo que não havia conseguido dormir bem, porém não foi completamente devido a isso. Foi por estar refletindo sobre todos os assuntos relacionados à ELE. E quando finalmente conseguiu se sentir cansado, acordou porque estava experimentando uma palpitação constante e avassaladora na base da cabeça. Obviamente, como resultado disso, descobriu que sua condição além de desorganizada ficava cada vez mais lamentável.
— Talvez…
Noah evitou seu olhar e passou a massagear as sobrancelhas com uma das mãos. As rugas na testa de Sasha se tornaram ainda mais profundas.
— Não precisa se preocupar tanto. Já tomei remédio, então vou ficar bem. Não haverá nenhum problema com o trabalho.
Não queria que Sasha soubesse que não se sentia bem quando tinham um evento tão importante nas mãos. Ademais, não desejava que se sentisse incômodo por confiar nele e não queria que ele pensasse que Noah podia estragar as coisas.
Não tinha nenhuma razão real para que isso se tornasse um impedimento, então, na realidade, não era necessário que isso o incomodasse.
— Se você não se sente bem…
— Estou bem. Não sou tão fraco ao ponto de não conseguir trabalhar por uma dorzinha, certo?
Noah amarrou seu cabelo em um rabo de cavalo alto e terminou de encolher os ombros enquanto explicava as razões pelas quais Sasha devia confiar nele. Logo, bebeu o resto da água e sentou diante da mesa na intenção de encerrar o assunto. Sasha, que parou e encarou Noah cara a cara, respirou fundo e se aproximou mais um passo. Tinha uma expressão bastante determinada, como se tivesse decidido algo alguns segundos atrás.
— Noah, não há necessidade de se esforçar por isso.
— Não estou me esf-
— Está bem que deixemos o teste. Vamos para casa.
Foram palavras estranhas.
Não. Nunca imaginou que Sasha diria algo assim para começar.
Confundido, Noah pareceu esquecer o que tinha a dizer. Assim, simplesmente arregalou os olhos e fitou o homem que estava parado muito perto dele, com uma expressão que gritava “Desculpa?”. Não houve nenhum som durante um tempo e a única coisa em que podia pensar era: Que merda?! Realmente escutei bem?!
— Está bem se eu desistir?
Quando finalmente perguntou, Sasha penteou nervosamente seu cabelo para trás com os dedos.
— Dá para notar que você está nervoso em trabalhar dentro de um caminhão com bombas instaladas.
— Não, de verdade. Tudo bem deixar esse trabalho por enquanto? Mesmo depois de tudo que passamos para chegar até aqui?
Perguntou, mas não teve nenhuma resposta. Sasha estava mordendo os lábios, olhando para outro lugar, coçando a cabeça e atuando muito mais nervoso que da última vez. Não era como se tivessem que fazer um truque louco e desordenado com uma bomba, então não sabia porquê ele estava se comportando assim.
— É porque estou preocupado de que sua condição física tenha deteriorado rapidamente durante esse tempo. Digo, nada de bom pode acontecer com esse plano se você não estiver são.
— Você se preocupa por nada.
Por que diabos estava dizendo isso?! Até se atreveu a entrar no caminhão bomba com ele, assim que ao contrário da imagem que tinha do passado, o Sasha que estava preocupado até a morte pela situação era tão ridículo e feio que Noah estalou em um montão de gargalhadas muito exageradas. Não foi até que Noah tentou fazer graça, que Sasha o agarrou pelo braço e disse:
— Apenas vamos.
— isso dói.
— Olha, sempre acreditei que o melhor para o plano era explodir os computadores para não deixar rastro. Era tudo em que eu podia pensar.
— Eu sei…
Ele certamente não entendia porque o homem estava repetindo informação que já tinha entendido. Ao mesmo tempo, podia-se dizer que o teste já estava em andamento, assim que Noah franziu o cenho e sacudiu o braço que Sasha estava segurando várias vezes, para que ele entendesse a indireta e o deixasse trabalhar. Sasha não se moveu.
— Antes de te contratar, planejei esse trabalho pensando apenas em mim mesmo. Nunca tive nenhuma consideração por você.
— Sério? Uau!
— Mas agora mudei de opinião. Se você está doente, não precisa fazer isso.
Sasha era alguém que gostava de brincar cedo pela manhã? Era uma suspeita que surgiu do nada devido às suas palavras e obviamente, também se tratava de uma suposição completamente ridícula. Era alguém que não fazia piadas nunca, muito menos no trabalho… Contudo, tinha que dizer que Sasha Lambert não estava atuando como o Sasha Lambert de costume. E cada palavra era tão absurda que não podia evitar pensar que podia ter dito isso mais cedo para fazer pouco dele.
— Oh, meu Deus! Você parece mais louco agora do que quando não parava de insistir em assumir essa tarefa estúpida.
E se o que Sasha estava dizendo naquele momento não era piada, então a outra opção era que obviamente ele tinha enlouquecido um pouco mais.
— Quero dizer, doutor, você ao menos entende o que está falando?
— Entendo.
— Sim? Então, por que está fazendo isso depois de tudo que aconteceu? Não vale a pena se render agora.
— Eu penso igual.
Não houve uma só vacilação na resposta de Sasha, então a mente de Noah ficou em branco novamente. Não só estava estupefato, também estava mais tonto que de costume. Como se fosse pouco, a dor pulsante em sua cabeça piorou no momento em que a pílula que tomou estava prestes a fazer efeito, assim Noah levou as pontas dos dedos até sua cabeça e conteve a respiração por um momento que pareceu largo demais. Logo, abriu os olhos de novo e olhou diretamente para Sasha. O homem estava parado ali, como se estivesse cravado no solo. Seus olhos escurecidos estavam cheios de confusão.
— Doutor, chega disso. É difícil que eu me renda facilmente. Porra, basicamente não posso fazer isso porque seria desperdiçar meu esforço e tempo dedicados a esse plano! É uma humilhação! Não importa que seja uma bomba ou algo assim, estou certo de que posso ir até o fim.
Estava claro que ele mesmo estava louco por responder desta maneira. Depois de tudo, não faz muito tempo que acusou Sasha por estar “demente” ao ponto de planejar hackear um programa, com uma puta bomba em um caminhão parado no deserto. Quando lhe pediu que se detivesse, disse que não podia se dar por vencido e que era quase um “assunto de honra”. O Sasha que de repente queria deixar tudo para trás algumas horas antes da prova estava fazendo Noah desenvolver um tic terrível no olho esquerdo. Quando pensava em Caleb, quem conheceu alguns dias atrás, sentia-se como se sua irritação estivesse crescendo cada vez mais. Era como perder contra ele.
— Temos que fazer com que o teste falhe para que a expressão desse… Estúpido Alfa sorridente seja esmagada até desaparecer. O que há com isso que você está dizendo? Não me diga que não quer fazer ele pagar depois de dizer que você estava louco. Se vingar, porra! Para de ser um bom menino!
Enquanto Noah falava bruscamente, o rosto de Sasha se distorceu até formar um pequeno sorriso. Encarou seu rosto fixamente por um momento e então, um suave suspiro escapou de entre os lábios obstinadamente fechados do homem.
— É que… Tenho os nervos à flor da pele — disse.
— Por quê? O que te deixa assim?
Ao fazer essa pergunta, Sasha evitou seu olhar e deixou escapar um largo e profundo gemido. Era ele quem não podia dormir, mas Sasha parecia mais exausto do que nunca antes.
— Pensar que você tem que trabalhar dentro de um caminhão bomba… Não sei o que estava pensando quando… Não suporto imaginar que algo saia mal e você acabe se machucando por minha culpa. Estou… Tão preocupado e ansioso por ti, que sinto que podia morrer.
Uma voz grave ressoou em seus ouvidos. Noah o encarou sem pestanejar porque não sabia como responder. era como se seu cérebro tivesse se tornado estúpido porque, depois de tudo, havia dito algo que pareceu encantador.
Noah ficou ali, imóvil, como um louco que havia perdido o rumo da conversa. Sasha tampouco continuou falando assim que foi óbvio que um largo silêncio ia começar a se prolongar entre os dois. Então, o que exatamente estava acontecendo e como estava ocorrendo? De repente, tal pergunta passou em sua mente e ainda assim, possivelmente era uma resposta difícil que não podia encontrar em nenhum lugar e que talvez não deveria ser respondida. Inclusive, a lembrança de como o tempo passou ante disso era difuso:
Sasha, que estava tremendo enquanto tomava café da manhã, saiu primeiro da mansão porque parecia ser incapaz de apagar sua expressão preocupada. Depois de um instante, Noah se moveu também e colocou todo o plano que tinha em mente em andamento. O homem foi guiado por dois garotos Beta que haviam recebido indicações de antemão de Sasha e logo depois disso, colocaram-no em um sedã e o conduziram tranquilamente pela estrada como se estivessem em um dia de campo comum. Por fim, talvez uma hora mais tarde, chegaram aos arredores de um pequeno povoado, próximo de um edifício abandonado. A área ao redor estava tão vazia e sombria que não tinha visitas ou rastros de vida, se atrevia a dizer que sequer as formigas se atreveriam a passar por ali. Era um lugar abandonado que parecia ser uma fábrica e possuía um caminhão de aspecto antigo estacionado do lado. Era um veículo que não tinha nenhum problema e ainda assim, à primeira vista, estava claro que era o caminhão que Sasha preparou para ele.
Noah saiu do sedã, com um movimento tranquilo de seu corpo, entrou na caminhonete sem dizer uma só palavra. Os dois homens que o guiaram até ali esperaram instruções de Sasha e logo, desapareceram para deixar no ar a promessa de que viriam buscá-lo depois. Literalmente ficou completamente sozinho no meio do deserto remeto, então dali em diante, parecia que tudo o que acontecesse seria completamente responsabilidade de Noah. Não estava assustado e, claro, sentia como se não houvesse espaço para isso.
Assim que Noah entrou na caminhonete, fechou a porta e ligou o sistema. Como era um espaço realmente pequeno, escutou o som do computador funcionando e girando, viu a luz do monitor piscando quando acendeu. Se sentou em sua cadeira e olhou os papéis com as instruções. Ao observar a forma em que estavam funcionando a raiz e o tronco, respirou fundo e começou a repassar o plano em sua cabeça. O celular que Sasha lhe entregou estava em silêncio, então Noah olhou para ele por um momento, como se esperasse algo, logo observou diretamente o monitor e ficou em branco por outro longo instante. Não tinha tempo para nada mais.
Depois de verificar a hora, começou a executar o programa. Logo, luzes vermelhas piscaram atrás do do sistema e um flash pequeno mas imediatamente familiar, começou a fazer “click, click, clik” recordando que a bomba relógio começou a funcionar. Pensou que as luzes vermelhas, que acenderam naquele canto, eram como os olhos dos monstros que tentavam devorá-lo em seus pesadelos.
Noah engoliu em seco sem perceber.
O interior de sua garganta estava áspero, como se tivesse engolido um punhado de areia.
— Merda. Estou realmente louco.
Noah estalou a língua e riu com desespero em lugar de tentar ajudar a si mesmo. De certo modo, foi porque pensou que o verdadeiro demente não era Sasha, senão ele mesmo.
— Caleb, você definitivamente apontou para a pessoa incorreta. Se queria vigiar Sasha, ao menos deveria escolher um homem mais normal para fazer o trabalho. Por que você veio até mim quando obviamente estou pior que Sasha?
Noah murmurou isso para si mesmo.
Na verdade, não tinha a mais mínima culpa por estragar seu teste e tirar o míssil da órbita. Quando escutou pela primeira vez sobre o plano de Sasha, naturalmente se surpreendeu porque estava mais que claro que ele tinha um plano surpreendentemente estúpido. Obviamente, Noah não era um homem bom e correto, sequer era um cara com uma consciência que lhe fizesse sentir culpa. No entanto, mesmo estando longe de ser “bom” e “solidário”, ainda sabia distinguir algo razoável de um puta plano suicida. Foi divertido aprender algo desconhecido sobre si mesmo agora que estava dirigindo esse plano louco e malvado de Sasha para arruinar um teste de mísseis que envolvia até mesmo a Força Aérea dos EE. UU. E sim, precisava admitir que era emocionante. Obviamente, não tinha ideia de quanto dano causaria à empresa a qual Sasha e Caleb estavam envolvidos, mas ela não era sua, então por que se preocupar? O mesmo estava acontecendo com os golpes que daria à Força Aérea de EE. UU. Não sabia, não trabalhava para eles e definitivamente não se importava. Até o fim, Noah, que se movia principalmente por seus próprios interesses, pensou que só devia se concentrar e aproveitar o momento.
Caleb queria ser informado se Sasha estava fazendo algo ruim quando era ele quem tinha uma bomba na ponta de seus dedos. Pensou que deveria mudar a direção do míssil e dispará-lo na cara dele para lhe dar uma lição!
— Ah…
Noah suspirou e começou a mover sua mão sobre a mesa. Restavam menos de 30 minutos para que começasse o teste do míssil, então era hora de relaxar, pensar e acessar o programa dentro do sistema L & M. Os golpes do teclado estavam ressoando com força pelo interior do caminhão e Noah parecia não poder sequer piscar ou deixar seus braços em paz. Durante as últimas duas semanas, as janelas que encarou todo dia da casa de Sasha finalmente pareciam se abrir e com isso, seus nervos deixaram de lutar para manter o controle e relaxar. Lambeu o lábio e sentiu que cada um de seus dedos começou a esfriar à medida que numerosas letras e palavras se erguiam rapidamente na tela…
E foi no momento em que estava lendo várias janelas e letras ao mesmo tempo, que Noah deixou de respirar sem perceber.
A dor de cabeça que o atormentou desde o amanhecer voltou.
Graças a Deus tomei o remédio para dor pela manhã. havia estado tranquilo até agora mas… Era evidente que estava retornando neste momento como se quisesse deixá-lo estirado no chão para que parasse de trabalhar. E não apenas isso. Suor frio escorreu lentamente por suas costas. Não era uma reação que aparecia devido a tensão do hack operacional. Não parecia isso.
Noah respirou fundo e mordeu os lábios. Disse “porra” e deixou que palavrões saíssem de sua garganta. Não era só a dor de cabeça, nem seus nervos. Parecia como se essas pontadas também estivessem dando uma febre leve que se estendia lentamente por entre seus ossos e nervos.
Noah finalmente se deu conta do motivo dessas reações: Era um presságio do ciclo de calor que havia tentado esquecer até agora.
***
Acidente não planejado.
Sasha, que havia deixado Noah para voltar ao teste, bateu na borda do celular em sua mão com as pontas dos dedos.
Toc, toc.
Toc, toc.
TOC, TOC, TOC.
Era óbvio que o celular estava em silêncio, porque Noah não mandou nenhuma mensagem, nem mesmo uma brincadeira, devido a sua personalidade. Ainda menos quando ele tinha trabalho a fazer e MUITO MENOS depois que o havia mandado embora.
Sasha não conseguia tirar os olhos do telefone, mesmo sabendo disso.
— Por que você está olhando para o seu celular tão atentamente?
Sasha levantou a cabeça, guardou o telefone no bolso e se virou para Caleb.
O homem tinha um sorriso impressionante no rosto.
— Você está esperando uma ligação importante?
Como sempre, foi uma atitude e tom de voz que o fez querer chutar a cabeça dele. Os olhos, que sorriam suavemente, e os lábios, que pareciam carnudos e brilhantes, estavam tão atraentes como sempre, e ainda assim Sasha não ignorava que tudo que o homem mostrava a ele era mais uma simulação.
— Você tem tempo para se preocupar comigo quando há um teste pendente?
— Nós pesquisadores desenvolvemos o dom de fazer muitas coisas ao mesmo tempo. No entanto, o que não é normal é ver você tão desesperado.
— E não é normal você ser tão falante.
— Sasha, por favor. Estou preocupado.
Com as palavras de Caleb, Sasha se virou para olhá-lo mais uma vez.
— Você não tem que estar, não te pedi isso.
— Acho que o acionista majoritário da minha empresa é claramente um assunto do meu interesse.
Caleb riu, mas Sasha não estava convencido.
— Se eu sou um acionista majoritário, como você diz, então isso significa que eu só tenho que relatar os resultados e ir para casa. E a verdade é que isso é difícil o suficiente sem ter que suportar a sua voz no meu ouvido
No entanto, era Caleb, não Sasha, que estava arriscando seu pescoço nessa provação. A posição deles poderia mudar dependendo do sucesso ou não, porque afinal, a primeira coisa que Caleb decidiu tocar logo depois de assumir o cargo após a morte do ex-CEO foi justamente o desenvolvimento do teste do míssil. Ele até mudou todos os projetos que estavam em fase de conclusão e elegeu Sasha, que era o pesquisador-chefe, para absorvê-lo como um mero trabalhador que agiria conforme sua vontade. Se o teste fosse bem-sucedido, sua posição seria incrivelmente fortalecida, mas se falhasse, teria de aceitar toda a culpa e começar tudo de novo. Ele pode até ter que se demitir do cargo de CEO que acabara de assumir.
E valia a pena correr esse tipo de risco.
— Então, por favor, me deixe em paz para que eu possa fazer com que tudo isso faça algum sentido.
Os lábios de Caleb se torceram. Era como se uma rachadura surgisse em seu rosto toda vez que ele dizia algo inesperado.
— Se você não pode trabalhar sob pressão, talvez seja hora de pensar em férias novamente.
Sasha riu por dentro. As ações de Caleb e seu desejo de esfaqueá-lo pelas costas eram tão visíveis de todas as direções que só aumentavam seu desejo de continuar o confronto. Ele era uma pessoa que não havia mudado em nada! Ele tinha muita ganância e carregava consigo uma horrível sensação de inferioridade que queria preencher, não importando como o fizesse ou de quem passasse por cima para obtê-lo.
E agora que Lawrence estava morto…
— Ah, agora que penso nisso, você não está assim porque Noah está esperando por você na cama para começar a foder?
— Cala a boca, seu idiota de merda. Eu não te disse para não dizer nada sobre o meu namorado?
Assim que o nome de Noah saiu da boca de Caleb, Sasha perdeu a compostura e respondeu bruscamente. Sentiu que não tinha escolha a não ser fazê-lo, mas a verdade é que ele também não planejou. Noah devia estar hackeando em um caminhão carregado de bombas agora.
Sozinho.
No meio do nada.
E era verdade que sua cabeça estava cheia dele desde a manhã. Tão nervoso com o que poderia acontecer que não conseguia tirar os olhos do telefone em sua mão enquanto se perguntava se ele estava bem ou mal ou ocupado o suficiente para ignorá-lo. E estava tão chateado que quando Caleb disse o nome de Noah, foi como se não aguentasse mais. Foi uma provocação que recebeu uma reação exagerada. Mas mesmo sabendo disso, ele não desviou o olhar e não se desculpou nem por um momento.
Caleb, que olhou para Sasha com olhos surpresos, de repente levantou os cantos da boca para continuar:
— Basta olhar. Acho que Noah é realmente especial para você.
Os olhos do homem se iluminaram como se ele gostasse de se agarrar a sua fraqueza.
Ficou claro que se mostrar demais tinha sido um erro, no entanto, ele pensou que não era algo que já não tinha imaginado quando o apresentou a Noah como seu namorado. Talvez fosse tarde demais para se arrepender do que havia causado.
— E? Isso é importante o suficiente para você acreditar que tem autoridade para invadir minha casa sem permissão tarde da noite quando eu não estava lá?
A voz de Sasha, subindo bruscamente enquanto se lembrava do que havia acontecido, pareceu cortar seu oponente até que seu rosto encheu-se de algo parecido com vergonha.
— Ouça, eu aguentei isso naquela noite porque eu estava na frente de Noah… Mas minha paciência é muito curta. Caleb, se você agir dessa forma com as pessoas com que eu me importo, não ficarei quieto da próxima vez.
— Qual é?! Eu já te contei o que aconteceu. Fui ver Noah naquela noite porque estava preocupado com você.
— Preocupado com o quê?
Sasha bufou e deu um passo para mais perto de seu corpo. Claro, por causa disso, era como se a cabeça de Caleb fosse puxada para trás por reflexo. Esmagado por um homem que se julgava ser um Beta, mesmo que parecesse como um Alfa.
— Não pense que eu não sei o que você está fazendo. Você nem estava interessado em Betas para começar, mas, depois que descobriu que eu estava dormindo com Angela, do nada você começou a gostar dela e a ligar para ela então se aproximou o suficiente para dormir com ela.
— Que absurdo!
— Depois de tomar o lugar de Lawrence você até a chamou para ser sua secretária. Por favor, você sempre foi assim! O tempo todo está cobiçando e tentando roubar o que eu tenho. E você faz isso porque sabe, no fundo, que eu sou mais forte e muito mais inteligente do que você.
Seus olhos, olhando diretamente para Caleb, brilharam ferozmente. Era como uma fera que escancarava os dentes para depois morder o pescoço da presa. Caleb engoliu em seco, como se não pudesse suportar a estranha energia ao seu redor.
— Você acha mesmo que eu não te conheço? Você achou que estava me enganando? Por favor, suas intenções sempre foram bem claras para mim, então se você acha que eu sou idiota, você está errado.
A voz baixa de Sasha já era ameaçadora o suficiente para Caleb olhar para ele com ansiedade. Então, ele rapidamente capturou todas essas emoções e colocou uma de suas expressões tristes “muito famosas” em seu rosto.
— Sasha, cara, você está errado. Você está seriamente vendo coisas onde não tem. Não é hora de admitir que precisa de tratamento psiquiátrico? Sua paranóia parece estar piorando a cada dia.
— Claro, minha paranóia
— Olhe ao seu redor, Sasha. Quem está aqui com você para realizar este teste estúpido?
— …
— Não há ninguém aqui! Não há mais ninguém com você. Mesmo aqueles que uma vez acreditaram em você e te seguiram foram embora devido à sua hipersensibilidade e paranóia. Agora é a hora de encarar a realidade. Você precisa de tratamento para voltar.
Sasha manteve a boca fechada com a resposta dele, e então os olhos que olhavam para Caleb simplesmente escureceram. Parecia que eles tinham ficado completamente pretos. Percebendo isso, Caleb deu um passo para trás.
Então…
— O que vocês dois estão fazendo? O teste vai começar em breve! Vamos!
Era Ângela.
A tensão que havia na sala foi quebrada, e ainda assim era como se o fluxo de energia ainda estivesse insuportavelmente frio entre os dois.
Após um breve silêncio, Sasha deu o primeiro passo para trás, Caleb deu de ombros e lhe deu um tapinha nas costas.
— Eu não percebi que não tínhamos mais tempo para conversar. Sasha, acho que discutiremos isso mais tarde.
Caleb, usando seu habitual olhar de negócios, acenou com as mãos e se dirigiu para a outra sala. Sasha não respondeu. Ele apenas ficou lá e observou as costas de Caleb e Ângela se afastando dele enquanto um monte de pensamentos começaram a passar por sua mente. Havia coisas que ele não gostava nada e coisas que pareciam diferentes. Então, ele respirou fundo e começou a andar lentamente na mesma direção que ambos haviam desaparecido.
Suas pernas estavam pesadas.
O teste do míssil começou sem problemas.
Não houve erros de velocidade, direção ou qualquer coisa. O míssil disparou perfeitamente dentro do cronograma e voou rapidamente sobre a areia branca do deserto. Um sorriso encantador flutuou nos rostos dos oficiais que assistiam ao teste e, no entanto, pouco antes de pousar no alvo, o míssil de repente mudou de direção e foi para a direita. Não foi um grande erro, mas claramente não era normal. Ele não conseguiu acertar e caiu apenas para desencadear uma explosão que parecia terrível.
O esquadrão prendeu a respiração com o resultado inesperado, naquele momento, parecia que ninguém seria capaz de abrir a boca novamente. Os envolvidos na pesquisa e desenvolvimento ficaram desnorteados, como se não pudessem acreditar no que tinha acontecido e como se procurassem culpados. Até Ângela. Felizmente, Caleb manteve sua expressão habitual e agiu como se tudo estivesse sob controle. Ele era um homem incrivelmente bom em gerenciar suas expressões faciais e Sasha poderia facilmente dizer que ele estava com raiva de qualquer maneira. Por quê? Porque Caleb estava puxando sua mandíbula e ele tinha uma veia saliente em sua cabeça que parecia prestes a estourar. Inclusive Ângela, que estava a poucos centímetros de distância, olhou para o homem, ficou inquieta não deixando de apertar as mãos as.
Todos perto dele trocavam conversas em voz baixa.
Algumas pessoas ordenaram que descobrissem o que aconteceu, outras pediram que fizessem um relatório primeiro, e houve pessoas que queriam trazer o chefe da equipe de I.D e fazer uma reunião imediatamente a fim de punir os culpados. O murmúrio ficou mais alto com o passar do tempo e depois se tornou desordenado. Sasha era o único que estava em silêncio e, para ser honesto, não era como se ele estivesse tão agitado também. Em vez disso, ele estava tentando fazer a inquietude ir embora, embora o objeto de seu desconforto fosse muito diferente de todos eles.
Sasha estava preocupado com Noah.
Segurando o telefone com força na mão, ele assistiu ao show que havia adormecido, então tentou ouvir um pouco do que os chefes estavam dizendo. Ninguém havia encontrado nenhum sinal interferência, então eles pensaram que o programa tinha apenas uma falha.
Sasha riu amargamente por dentro, forçando seus lábios que estavam prestes a se abrir em um sorriso, então suspirou quando pensou em Noah pela segunda vez. Ele o disse para ir embora e não se preocupar e depois o fez prometer voltar ao teste para que pudesse continuar com o trabalho. Eles juraram que se veriam novamente e então conversariam.
Vurrr.
Naquele momento, seu telefone vibrou como se os dois tivessem uma sintonia quase perfeita.
Sasha finalmente sacudiu seus pensamentos e exalou com muita força. Ele pegou o telefone que estava segurando entre os dedos, então verificou a mensagem para poder responder.
No entanto, parecia que ele havia congelado no lugar. Era como se ele nem piscasse ou respirasse…
O homem leu cada letra uma a uma e começou a sentir um frio terrível.
Crunch.
Crunch.
O som de seus molares se encaixando ressoou terrivelmente. As pontas de seus dedos ficaram brancas devido a força com a que segurando o telefone e então milhares de emoções e pensamentos correram como um maremoto em seu peito.
Era um sentimento desconhecido. Algo que nunca tinha experimentado antes.
Um hálito quente escapou de sua boca.
Gotas de suor escorriam por sua têmpora, pingando da ponta de seu queixo e deixando um pequeno rastro ao longo de seu pescoço.
***
Noah se recostou profundamente na cadeira e tentou abrir os olhos. Tudo estava fora de foco. No entanto, as luzes vermelhas piscantes, as que pertenciam às bombas que haviam sido instaladas em toda a sala, eram visíveis mesmo à distância. Um gemido rasgou de seu peito no momento em que pensou o quão fodido ele era para um ciclo de calor começar tão inesperadamente sem querer ir embora.
Antes de começar a trabalhar, o calor se espalhou tanto que quase conseguiu estragar tudo. Ele estava nervoso, as pontas dos dedos no teclado ainda estavam tremendo, então agarrou sua mão, que estava agindo como um membro inútil, e se obrigou a continuar o maior tempo possível. Claro, não tinha cabeça nenhuma e era difícil escrever os códigos corretamente. Ele nem sabia como diabos acabou hackeando nesse estado! Se ele não tivesse praticado o suficiente para mover as mãos com os olhos fechados durante as últimas semanas em que esteve na mansão de Sasha, isso teria sido um fracasso completo.
— Graças a Deus pelas pessoas rigorosas.
Noah, deixando a cabeça cair para trás na cadeira, gemeu levemente pela segunda vez. Sua forma e condição física estavam uma bagunça, mas ele podia dizer que pelo menos estava feliz que o trabalho que Sasha queria já estava riscado de sua lista de tarefas. Ele até se sentiu aliviado com a imagem mental do enorme rosto de decepção no estúpido Caleb. No entanto, o alívio não durou mais do que alguns segundos. As luzes vermelhas das bombas borradas na frente de seus olhos começaram a contagem regressiva, então foi o suficiente para criar uma sensação INCRÍVEL de tensão. Esse era o plano, certo? Que depois do trabalho ele saísse dali.
Noah, que pegou o celular que Sasha tinha lhe dado, se levantou e então… Caiu. Aparentemente, sua condição física havia chegado a um ponto de “sem retorno”, naquele momento um sorriso impressionante escapou de seus lábios quando descobriu que havia se ferrado totalmente. Realmente, foi estúpido! Ele não se importava porque estava se concentrando em fazer seu trabalho bem sucedido, mas agora os feromônios já estavam enchendo todo o lugar. Se esse caminhão não estivesse ao lado das ruínas de um deserto sem gente, se estivesse no meio do centro por exemplo, os alfas já estariam batendo na porta como se fossem zumbis.
Uuuh, que assustador.
Só de imaginar isso fez arrepios subirem por todo o corpo dele. Noah engoliu em seco, esfregou a palma da mão no braço e suspirou uma última vez. Ele tinha que sair de lá agora, mas suas pernas não estavam se movendo. Além disso, depois de sair, para onde iria? O que deveria fazer a seguir? Não poderia responder a nenhuma dessas perguntas com sabedoria.
Vamos ver, os homens de Sasha prometeram buscá-lo depois do trabalho. E eles eram betas, não alfas. Isso resolveu um ponto, mas não poderia ser suficiente para deixá-lo completamente calmo. Além disso, o feromônio de um Omega dominante pode ter efeito sobre um beta. E se o calor do cio se tornasse mais intenso, talvez ele nem conseguisse se controlar. Era muito provável que ele quisesse sexo. Quer dizer, ele não ia se importar com quem era a outra pessoa e ia apenas correr para atender suas necessidades básicas sem pensar nas consequências. Noah suspirou e balançou a cabeça. Seria terrível se transformar em uma fera e imediatamente ser cegado pela luxúria. Ele odiaria fazer isso e certamente preferiria morrer a se entregar. Mas em um lugar como este, era impossível lutar contra o instinto.
Como um cachorro.
Noah lutou para se levantar, preocupado com o som latejante em sua cabeça. Ele cambaleou até a porta traseira do caminhão, agarrou o telefone com força e começou a rastejar.
Ele pegou a maçaneta e tentou abrir a fechadura.
Um som estridente indicou que a trava interna havia sido liberada, mas… Ele não conseguiu sair.
Noah olhou para a manga com os olhos arregalados.
Toda vez que ele girava a maçaneta, fazia um barulho alto. Screech, screech, e outro screech, mas só isso. A porta nem se movia. Ele gritou com um grande estrondo, jogou todo o seu corpo e tentou acertar o metal, mas sem sucesso
— Ah, não. Ah, ah, tem alguém aí?!
Ele engasgou, respirou fundo que atingiu seu queixo e gritou. Mas não conseguia ouvir nenhum som além do que ele próprio estava fazendo. O rosto de Noah, encharcado de suor frio, ficou pálido em um instante.
A porra da porta estava trancada do lado de fora!
Estava definitivamente fechado.
Não havia como sair deste lugar sozinho, a menos que alguém o abrisse para ele. E quando percebeu a realidade que estava enfrentando, sua cabeça doeu novamente e ele caiu de joelhos. O que aconteceu? Fecharam a porta de propósito? Quem? Os servos de Sasha? Sasha? Não, o que ele estava dizendo!? Não podia ser ele, então certamente era obra deles. Caleb os contratou? Foi ele mesmo? Inúmeras perguntas caíram em sua cabeça, mas, é claro, nenhuma delas ajudou. Seus olhos estavam embaçados. Ele estava no cio e com um assunto inesperado em suas mãos, então nem tinha um plano. Apenas… esfregou as pontas dos dedos, então rastejou pelo chão e foi até o centro do caminhão. Ele estendeu a mão e pegou uma daquelas bombas vermelhas piscando. Queria ver se poderia pará-la. No entanto, a bomba gerada mecanicamente não era algo que ele pudesse manipular. Se a tocasse da maneira errada, poderia fazê-la explodir em um segundo, então, percebendo isso, suas costas enrijeceram.
Procurando nas bombas, tudo o que ele conseguiu encontrar foi um número piscando de 12:47 na parte de trás. Era a contagem regressiva para a explosão. O número 12 não indicava hora como “12 horas”, então significava que faltavam apenas 12 minutos antes de ele morrer.
— Ah, ótimo.
Noah caiu e recuou lentamente. Ele sorriu novamente. Devido ao ciclo de calor, estava tão bravo que parecia começar a rir de seu infortúnio em vez de chorar. Talvez fosse bom, ele não sabia. Logo, como uma fera no cio, seus olhos ficariam diferentes, ele não saberia exatamente o que fazer e atacaria a todos como naquele iate, mas multiplicado por mil. Seria melhor para ele morrer aqui do que rastejar assim. Ainda assim, não podia acreditar que hoje sua vida iria acabar… Ele não conseguiu nem se despedir do lindo Benjamin ou da linda Callie, do melhor homem do mundo, Isaac, do avô que sempre cuidou de ele, Vincenzo, ou ao maldito filho da puta do Félix.
Ele não podia dizer adeus a Sasha.
Milhares de pensamentos apareceram em sua mente atordoada e depois desapareceram de novo e de novo.
O celular, que estava no chão, ficou preso na ponta dos dedos e então Noah olhou para ele e respirou fundo. O que estava dizendo? Ele não queria entrar em contato com sua família. Nesse estado, não queria deixar nenhuma saudação estúpida. Noah pegou seu celular e abriu o aplicativo de mensagens de texto. Ele tinha apenas um contato armazenado e, no entanto, quando tentou digitar, descobriu que as pontas dos dedos também não estavam se movendo. Ele não conseguia nem se lembrar do que queria dizer, então ficou sentado ali por um momento como um idiota. Então balançou a cabeça e pensou que não tinha tempo para isso.
Suas pontas dos dedos tremeram quando ele tocou na tela, e logo após digitar e deletar repetidamente enquanto as letras eram digitadas incorretamente várias vezes, ele finalmente conseguiu apertar o botão enviar. Ao mesmo tempo, o celular caiu e o barulho parou. Talvez fosse a última vez de sua vida e agora ele estava arrependido. Teria sido melhor ligar para ele, mas se ouvisse sua voz, não conseguiria controlar as bobagens que ia dizer.
Noah abraçou as pernas. Ele queria sexo mesmo que fosse morrer! Foi estúpido! Começou a rir porque ser um Ômega era tão, tão patético.
Patético!
Ele gemeu.
Então pensou, não doeria um pouco menos quando a bomba explodisse agora que estava no cio? Eram pensamentos estúpidos, mas ele não podia evitá-los. Era absurdo que ele morresse ofegante de tanto calor. Não era esta a morte perfeita para um pervertido como seu primo? Ele sorriu com o pensamento e então disse: “Droga”. Tentou forçar Félix a sair de sua mente para que ele não fosse o último que visse antes de morrer.
Ele caiu pela segunda vez.
Então gemeu com a súbita onda de calor e acabou torcendo seu corpo inteiro. Curiosamente, o calor se espalhou com mais intensidade no momento em que pensou em Sasha e começou a queimar dos pés à maldita cabeça. À medida que sua pele se tornava mais sensível, até mesmo o toque de suas roupas encharcadas de suor lhe dava uma sensação de coceira completamente estranha.
Os arredores ainda estavam silenciosos como se anunciassem sua morte.
Noah olhou lentamente para o outro lado do caminhão, depois fechou os olhos. E no celular que caiu ao lado de Noah, que já estava inconsciente, surgiu um sinal de que a outra parte havia lido a mensagem. A mensagem que Noah havia enviado para Sasha, a única pessoa armazenada em seu celular, era simples:
[A porta do caminhão está trancada e não consigo sair.]
[… Adeus.]
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Continua…
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Tradução:Cherry 🍒
Revisão:Rize