Da Terra ao Céu - Capítulo 18
Fisherman ‘s Wharf foi mais incrível do que pensava. Havia muitas pessoas em todos os lugares, lojas vendendo coisas estranhas para turistas e muitos, muitos restaurantes também. Era algo como uma rua comercial movimentada. De um lado da rua, havia filas de vendedores ambulantes empilhando caranguejos e cozinhando-os ali mesmo. Era uma visão pouco comum em outras cidades. Depois de andar um pouco, ele pode entender vagamente o motivo pelo qual havia tantos turistas no local. Pode ser considerado um prazer caminhar devagar e olhar ao redor.
Noah olhou em volta com uma expressão curiosa e entrou em um restaurante que se destacava pela forma como estava organizado. Por ordem de Sasha, a refeição começou com ensopado de mariscos e salada como aperitivo, seguido por pratos de caranguejo Dungeness, massas de frutos do mar e bolinhos de caranguejo. Pela explicação do pedido de Sasha, soube que em San Francisco, que era completamente cercada pelo mar, frutos do mar eram essenciais. Embora fosse uma seleção que poderia ter comido em outros restaurantes, tinha que admitir que na verdade não foi nada ruim. Não, na verdade foi bem gostoso. Estava tão delicioso que Noah, que tinha uma boca pequena, muitas vezes empurrava mais e mais para dentro depois de dar algumas mordidas. Quase esvaziou tudo. Foi uma refeição satisfatória porque a cerveja também combinava com os pratos, então logo sentiu como se tivesse desfrutado da iguaria mais deliciosa desde o dia em que Sasha o sequestrou sem aviso prévio e o trouxe aqui. Isso não significava que a comida que Sasha preparou durante todo esse tempo não tivesse sabor. Suas habilidades culinárias eram tão altas que se perguntava seriamente quando ele deixaria a empresa e se tornaria um chef. Mas, infelizmente, sentar ao lado dele sempre causava uma discussão. Cada vez que se olhavam, agarravam-se pelos cabelos, criticavam-se e ridicularizavam-se. No final, muitas vezes terminava com Noah largando o garfo e levantando-se de seu assento em vez de comer. Longe de desfrutar de um espaço tão tranquilo, como hoje. Era até raro ele esvaziar completamente o prato! Talvez estivesse com fome ou porque entraram no restaurante tarde, mas qualquer que seja o motivo, Noah conseguiu sair do restaurante com o estômago cheio e até mesmo com uma sensação ligeira de embriaguez.
— Viajar não é tão ruim se for assim!
É claro que não veio a San Francisco para viajar e não comeu no Fisherman ‘s Wharf para variar na culinária ou por entretenimento. Ainda assim, era isso que pensava. Achava que não era nada ruim viajar para um lugar desconhecido onde as pessoas se reuniam se isso significasse se sentir tão bem. Algum dia, quando tiver oportunidade, pensou que seria bom fazer uma viagem de volta.
— Viajar é sempre divertido. É bom abrir uma janela que está fechada há muito tempo para liberar o ar estagnado.
Noah olhou para Sasha, que havia falado sobre viagens de uma maneira que nunca havia considerado antes.
— Sem mencionar, que é melhor se está viajando com boa companhia.
Acrescentou, sem parar de andar. Naquele momento, Noah parou. Poderia ser por causa de sua voz tranquila? De repente sentiu… Como se faltasse alguma coisa ou como se precisasse de algo mais para ser completo. Noah ficou parado e olhou para as costas de Sasha à distância. Os centímetros entre os dois terminavam em três ou quatro passos e havia uma brisa fresca da noite soprando como se quisesse envolvê-los. Foi como quando se conheceram há três anos, com a brisa salgada do mar e o frio.
Então Sasha notou que Noah havia parado de andar.
Nesse momento:
Puck, alguém esbarrou no ombro de Noah em um gesto muito agressivo. Seu corpo girou completamente errático e, como resultado, os vários pensamentos que vagavam em sua cabeça desapareceram como uma nuvem de fumaça.
— Por que não olha para frente!?
O homem que colidiu com o corpo de Noah foi o primeiro a gritar. A palavra “desculpe” provavelmente seria usada neste caso, mas Noah apenas cerrou o punho por reflexo. Seus olhos cor de azeitona, que estavam olhando para o sujeito, já estavam brilhando de raiva e quando estava prestes a atacar, alguém de repente estendeu a mão e o agarrou com força pelas costas. Era Sasha. O calor vinha dos dedos e dos braços em volta de seus ombros. Devido a ação inesperada, Noah parou de respirar e até mesmo de tentar xingar.
— Acho que deveria reconsiderar quem estava andando sem olhar para frente.
Sasha olhou para o homem que havia empurrado Noah asperamente. As pupilas fortemente forjadas e a ira que dominava o oponente deram lugar à ilusão de que estava prestes a ser atingido por ele. O rosto do homem pareceu se distorcer.
— Isso, eu… eu não vi.
O homem, esmagado pela intimidação de Sasha, finalmente desistiu.
Se desculpou por seu comportamento e saiu correndo da calçada. Até então, Sasha permaneceu imóvel com os braços ainda em torno de Noah, mesmo depois que o homem desapareceu. Noah, que estava meio que o abraçando, relutantemente gritou e o empurrou. Talvez por causa de sua postura desajeitada ou por conta do calor que subia no local onde Sasha o estava tocando a tal ponto de ser difícil de suportar.
— Aquele era um Alfa.
Sasha disse, soltando o braço que segurava Noah. E assim, seu toque e o calor do corpo que parecia apenas um suave ardor finalmente desapareceram, deixando em seu lugar o frio do vento noturno. Noah acenou com a cabeça, disse: “É”, e esfregou a mão sobre o ombro novamente. Era porque o frio pareceu começar a ficar estranhamente assustador agora que Sasha não estava agarrado às suas costas.
— Seu ombro está doendo? Não parar de tocá-lo…
De repente, Sasha olhou para Noah e perguntou algo assim. Parecia pensar que era por causa da dor que ele estava esfregando a mão no ombro.
— Estou bem.
— Se tiver inchaço ou dificuldade para se mover, não se segure e me diga imediatamente. O ombro é uma área que se machuca mais facilmente do que se pensa.
Noah assentiu silenciosamente com sua explicação. E parecia estar se comportando como um bom ouvinte.
— Aqui, use isso.
De repente, uma voz profunda caiu do topo de sua cabeça. Noah parecia achar difícil entender as palavras dele, e manteve uma distância bastante significativa. Então, imediatamente, antes mesmo que pudesse processar a situação, sentiu um estranho calor em seus ombros. A jaqueta que Sasha usava até alguns momentos atrás agora estava em cima dele! Não aconteceu algo semelhante quando foram para a mansão pela primeira vez? Naquela época, houve um momento em que Sasha tirou a camisa que estava vestindo e a enrolou em volta dele. Lembrando a temperatura e o odor corporal semelhantes aos daquele momento, Noah se encolheu em seu lugar involuntariamente.
— Parece que estamos namorando, não acho que vão incomodá-lo novamente.
— …
— Embora, é claro, não sei se isso vai ajudar.
Sua voz, misturada com a brisa do mar, era infinitamente agradável. Os olhos que o observavam se escureceram e então o rosto inteiro do homem estava pintado com uma expressão que tornava difícil adivinhar o que ele estava pensando. Noah, que o observava em silêncio, finalmente sorriu. Embora parecesse mais um gesto de desamparo do que feliz.
— Você parece ter um dom para surpreender as pessoas.
— Não realmente. O que você acabou de dizer é algo que estou ouvindo pela primeira vez.
Sasha seguiu as palavras de Noah e então estreitou os olhos. Havia algo no olhar do Ômega que ele não conseguia entender e que foi combinado com um estranho sorriso malicioso. Poderia até dizer que seu “comportamento amigável” o fez pensar que se tratava de mais uma de suas piadas.
— A propósito, doutor. Devíamos pelo menos fazer algo assim para parecer que estamos realmente namorando.
Noah então caminhou até Sasha e colocou um de seus braços em volta de sua cintura. E como se essa ação não fosse esperada, a expressão chocada de Sasha pareceu começar a permear cada poro de sua pele. Como se isso não bastasse, a sensação não era nada desagradável, então Noah agarrou a cintura de Sasha com um pouco mais de força e apertou um pouco as mãos ao redor dele. Ele estava com uma camisa fina, seu cinto estava apertado então pensou o quanto queria tirá-lo e tocá-lo em detalhes… Se pudesse, é claro.
Nota: SAYURI (Não julgo, também quero)
— Não vai fazer o mesmo e envolver seus braços em volta de mim? É o que os casais fazem, não é?
Enquanto lentamente acariciava sua cintura de forma divertida perguntando se o homem não queria brincar com ele de um um modo mais real, ouviu Sasha soltar um suspiro curto. Ainda assim, sem dizer nada, ele levantou os braços também e segurou os ombros de Noah até que o abraçou completamente. Foi uma atitude tão “fofa” que era óbvio que qualquer um pensaria que eles estavam namorando de verdade. Como se quisessem mergulhar ainda mais no papel de “apaixonados”, se abraçaram com força enquanto caminhavam pela rua. Estavam tão próximos que quase pareciam um par de baratas comendo uma a outra.
— Nossa, estamos indo muito bem, não acha?
Noah parecia zombar enquanto caminhavam, mas na verdade era evidente que estava prestando muita atenção ao peso e temperatura corporal transmitidos pelos braços de Sasha, que ainda estavam em volta dele. Talvez fosse por causa de sua atitude encantadora, mas parecia que os estabelecimentos não estavam mais à vista, embora estivesse bem na frente deles. Não conseguia ver as luzes dos postes de luz ou as inúmeras pessoas que passavam por ele, as barracas, ou mesmo os vendedores ambulantes nas ruas da cidade. Seu olhar estava completamente fixo no homem e tudo o que podia sentir eram os dedos descansando em suas costas e a cintura ao redor de suas mãos. Estava ficando mais sedento e mais ambicioso. Nem sabia por que gostava tanto do seu calor ou o por quê de se sentir assim.
— Isso é estranho.
Foi enquanto caminhavam pela rua, sem dizer uma palavra um para o outro e sem saber exatamente para onde estavam indo, que Sasha de repente soltou um suspiro e se dignou a abrir a boca. Noah, que ainda estava meio aconchegado em seu corpo, desviou o olhar.
— Isso é porque o doutor disse que odiava os homens.
Ainda se lembrava claramente do que ele havia dito três anos atrás no cruzeiro. Ele disse que não tinha o hobby de sair com ômegas e também que não gostava de homens. Nem dele nem de ninguém. Mas três anos depois, estava andando pelas ruas com uma atitude tão descarada que parecia que provavelmente já havia esquecido.
— Não, quero dizer, é a primeira vez que ando na rua segurando alguém. Inclusive… não me lembro quem foi a última pessoa com quem andei de mãos dadas.
Sasha disse isso baixinho, então os olhos de Noah se arregalaram diante da explicação.
— Você nunca andou assim com alguém com quem estivesse namorando?
Claro, Noah também não teve a experiência de andar pela rua juntinho com alguém. Mas tinha visto muitas pessoas, que pareciam apaixonadas, abraçadas passando por ele. No entanto, estava relutante em conhecer ou namorar em primeiro lugar e Sasha normalmente não deixava seu laboratório. Ainda assim, ele era tão popular e próximo a Ângela que era surpreendente que nunca tivesse feito algo assim. Especialmente agora, quando o abraçava pelos ombros com tanta ternura.
— Nunca.
Sua resposta foi tão seca quanto sua expressão. Era uma conversa para a qual ele nem parecia ter respostas.
— Então, o que fazia quando namorava?
— Nada. Porque não gosto que as pessoas se aproximem muito de mim.
— Ei, o problema é que você é teimoso e não sabe como criar um clima. As garotas com quem namorou provavelmente acabaram ficando muito chateadas.
Sasha franziu a testa com o tom brincalhão de Noah. Disse que não gostava quando as pessoas se aproximavam tanto dele, mas agora parecia gostar de estar agarrado ao seu corpo. Quer dizer, tinha uma expressão que revelava a verdade profunda de que para ele era difícil agir de forma romântica e fofa, então não o surpreendeu que fosse tão desajeitado em descobrir seus verdadeiros sentimentos. Por causa disso, vê Sasha se comportar assim perto dele… Isso o fez querer implicar ainda mais.
— Posso ver que você não gosta muito, mas eu acho isso muito interessante.
Sasha estalou a língua e olhou para Noah que de repente fechou os olhos. Ele levantou as mãos que estavam em volta da cintura do homem e lentamente as deslizou para baixo de suas calças. As nádegas, que se encaixam perfeitamente com a palavra “delícia”, foram espremidas sob as palmas de suas mãos e, claro, nem é preciso dizer que as sobrancelhas de Sasha pareciam completamente franzidas por causa disso.
— Mas, olha. Você não me solta de jeito nenhum. Nem mesmo enquanto passo as mãos na sua bunda… Parece que nem se importa com o olhar das pessoas, certo? Quem te viu, quem te vê.
Por que era tão engraçado e divertido ver sua expressão tão derretida enquanto mostrava seu desgosto ao mesmo tempo? Talvez fosse um pervertido, como Félix disse. Ficou claro que Sasha odiava, mas Noah estava adorando vê-lo ficar com raiva. Noah estava tão ciente disso que não removeu a mão que havia apalpado a nádega por um longo tempo, o que fez o homem começar a bufar. Disse que não gostava de pessoas dando em cima dele, mas, na verdade, Noah estava indo ainda mais longe do que apenas “chegar mais perto”. E foi divertido provocá-lo, ver sua testa distorcida e seus cílios tremendo como loucos.
Sem se mexer, Sasha, que olhava para Noah em uma posição reta como a de um general, estremeceu e disse: — Estou envergonhado.
— O que há para se envergonhar? Quero tocar meu amante. Isso é tudo.
Noah estava ocupado apertando as mãos dentro das calças de Sasha, flertando provocantemente com suas deliciosas e firmes nádegas. Mas como ele continuou a fazer uma careta, como se desaprovasse a situação, Noah não conseguia afastar o pensamento de que, mesmo em uma situação como essa, ele era bastante encantador.
Então Sasha agarrou o pulso de Noah e perguntou:
— Você não vai parar?
— Por que a pergunta? Você não disse que era para fingirmos ser amantes em um encontro.
— Isso mesmo, é pra fingir. Eu não disse ‘Vá me assediar sexualmente’. Ah…
A voz quebrada se misturou com o vento e acabou ressoando vertiginosamente em seus ouvidos. Sem perceber, a saliva escorreu por sua garganta e até o leve sorriso em seus lábios desapareceu sem que ele percebesse. As mãos de Sasha e a parte de trás de suas costas tremiam tanto que seus braços de repente envolveram os ombros de Noah e o apertaram com força. Neste momento, uma dor severa percorreu o corpo de Noah e até mesmo o aperto que Sasha estava fornecendo o fez acreditar que poderia ser torcido a qualquer momento. Isso era tão perigoso que um alarme começou a ressoar em sua cabeça.
A brincadeira não era mais uma brincadeira.
Noah se virou para se afastar, mas não foi porque ele queria. Se não fosse por Sasha apertando seus pulsos com mais força do que o normal, como se Noah estivesse tentando sair de lá, eles não estariam nessa situação estranha.
— Noah, você é muito bom em fazer as pessoas perderem a cabeça.
— O que você…?
— Eu sei que isso é apenas uma piada para você, mas ainda assim… Você me deixa louco.
Sasha lentamente soltou suas mãos e começou a acariciar seu cabelo. Ao contrário de seu olhar afiado, os dedos que direcionavam o cabelo de Noah para atrás da orelha eram infinitamente macios. E enquanto as pontas dos dedos desciam e começavam a acariciar suas bochechas também, uma sensação de calafrio agora percorria sua espinha. Realmente era perigoso. Noah podia sentir o sangue correndo para sua virilha pouco a pouco…
— Do que você está falando? Me solta!
— Não me provoque e cale a boca se você não quiser ver o que posso fazer com você.
Uma voz baixa e rouca começou a invadir seus ouvidos, o deixando apavorado. Foi nesse momento que ele se perguntou se poderia realmente escapar.
— Sasha…
Mas em vez de responder, pareceu estender lentamente os dedos para soltar o cabelo dele. Era como se estivesse lendo seus pensamentos e soubesse que estava fazendo mais do que o homem podia controlar. Ainda assim, não foi fácil para eles ficarem parados e apenas… acabaram interrompendo o clima muito sem jeito.
Estavam quase sem fôlego.
A mão dele, segurando o cabelo de Noah, pode ter caído para o lado, mas seu olhar ainda estava completamente travado nele. Os olhos de Sasha, que se tornaram mais escuros que o céu noturno, o seguiram a cada passo até que sua boca ficou bem seca.
— Bem. Eu não estou brincando mais. Nós apenas… Nós deveríamos… Nós deveríamos nos afastar.
—…
— Antes que a atmosfera piore.
Noah disse, apertando sua mão trêmula com força. Ele queria sair dessa situação. O tipo de sensação que ele e Sasha compartilhavam era claramente o mais puro desejo lascivo. Ele não podia recusar. No entanto, a excitação que vinha dessas coincidências e a que vinha das profundezas de seus impulsos não era nada boa. Eles não tinham conversado sobre isso, nada havia sido planejado e não parecia que eles queriam chegar aos finalmentes. Não havia nada de bom em se encantarem no meio da rua, ficar preso nessa atmosfera de puro desejo e cruzar a linha sem qualquer preparação. Pode-se dizer que estavam a poucos passos de experimentar o próprio inferno.
Então eles tinham que parar de fingir que não sentiam ou que não havia nada acontecendo entre eles. E Sasha sabia disso melhor do que ninguém.
A mão do homem, que segurava o ombro do outro, lentamente se soltou. Noah deu um passo para trás e se afastou dele.
— Vamos passear um pouco. Acho… acho que preciso esfriar a cabeça.
Ele notificou Sasha e se virou de costas muito antes de permitir que ele respondesse. Quando se tocou, Noah já estava andando imprudentemente pela estrada. Ele não sabia para onde estava indo, mas entendia que tinha que sair dali. Sasha também não o impediu, então eles continuaram caminhando alguns passos em silêncio.
Já fazia algum tempo desde que deixaram o movimentado Fisherman ‘s Wharf para trás, mas ainda havia muita gente nas ruas, tanto turistas quanto moradores locais. Foi quando Noah caiu em si e levantou a cabeça como se quisesse observar melhor: as ruas estavam ladeadas de prédios antigos e pequenas árvores. A maioria eram motéis ou hotéis, e embaixo havia placas de neon com as palavras “XXX” brilhando de forma deslumbrante. Noah olhou para longe e esfregou o rosto, envergonhado. Droga. Para variar, ele não sabia como, mas a rua estava cheia de lugares de aluguel de filmes para adultos e lojas que vendiam fantasias e suprimentos sexuais. Na maioria das cidades uma loja dessas ficava no canto de trás da cidade, mas aqui… embora não o surpreendesse, ele sentiu que não era certo e que tinha que voltar.
— Quero voltar.
Foi nesse momento que ele se virou para olhar para Sasha, que ainda estava atrás dele. O homem, que estava olhando em volta assim como Noah, notou seus nervos e imediatamente fez contato visual com ele:
— Bem, nós podemos.
— Ah, mas, doutor, você não disse que queria me dar um presente para aliviar meu estresse?
— É verdade.
Sasha encarou Noah, com sua expressão chocantemente perplexa enquanto eles estavam em uma rua remota repleta de outdoors para adultos.
— Me compra alguma coisa?
— …Espere, você quer que eu te compre um presente aqui?
Noah apontou com orgulho para uma loja de brinquedos adultos. Desejos não resolvidos pareciam empilhados um após o outro e, mesmo que parecesse estar ficando louco, estar com Sasha definitivamente piorou tudo dentro dele. Noah não pôde deixar de sentir a tensão em sua virilha ao ser abraçado pelo outro ao redor de ombros, ou através do aperto em seus pulsos, ou quando sentiu que os dedos dele estavam tocando as pontas de seu cabelo… Tudo isso aumentou o estresse, e o estresse lhe deu desejo. Além disso, não havia nenhuma lei que dissesse que seus desejos não deviam ser satisfeitos. Até porque não havia como impedir o corpo de reagir novamente a uma pessoa com quem os sentimentos sexuais colidiram, seja por casualidade, impulso ou por qualquer outro motivo. E como era muito esperto, sabia que sentiria um desejo estranho por Sasha novamente. E dessa vez tinha medo de desejá-lo o suficiente para derrubá-lo de costas e subir em suas coxas. A ideia de que eles poderiam passar por isso, de repente veio a sua mente por causa da sua forte frustração e, não surpreendentemente, ele se apavorou.
Ah, só de pensar nisso era tão terrível que preferia sentir vergonha agora.
— Eu não sabia o quanto precisava de um presente até que ele apareceu bem na minha frente.
Noah assentiu com uma expressão determinada e apontou novamente para a loja. Sasha soltou um longo suspiro.
— Noah, pare de falar bobagem em um momento como este.
— Bobagem? Estou falando sério. Por que você acha que o Félix me dá esses presentes quando fico estressado com o trabalho?
— Espera… O Félix te dá… itens de uma loja para adultos?
— Sim, ué.
Com a resposta de Noah, uma das sobrancelhas de Sasha se ergueu. Era uma expressão bastante clara de desgosto. Um novo sinal de que ele não gostava de seus hobbies. De qualquer forma, Noah entrou na loja. Sua cabeça estava cheia de soluções para resolver de alguma forma os “problemas” crescentes que Sasha o fazia sentir. De qualquer forma, como Sasha teria coragem de questionar Noah sobre? Como e por que Sasha achava que tinha esse direito quando era algo que ajudaria a ambos?
— Sabe, eu não preciso de você. Não preciso de você para comprar isso, mas não tenho dinheiro agora. Não tenho celular nem carteira porque você me sequestrou. Queira ou não, vai ter que me dar. É sua obrigação.🤣🤣🤣
Sasha soltou um suspiro curto, não tendo certeza se o pedido descarado de Noah era ultrajante ou ele apenas queria ser muito irritante. Ainda assim, caminhou devagar como se não tivesse escolha a não ser acenar com a cabeça e deixar Noah abrir a porta da loja de adultos para permitir que os dois entrassem.
O interior do local estava um pouco escuro. As prateleiras estavam densamente alinhadas e havia todo tipo de artigos diversos nas estantes. Eram literalmente para adultos, focados especialmente no sexo: livros com conteúdo sexual, jogos de tabuleiro, roupas íntimas lúdicas, eróticas e algumas fantasias. Havia até chocolates e pirulitos em forma de genitais.
— O quê? Você está imaginando comprar isso para chupar?
Noah pegou o pirulito em forma de pênis na mão perto de Sasha e olhou para ele muito a sério. A embalagem dizia que era sabor morango.
— Eu gosto do sabor de morango. Você tem um bom gosto.
Irritado, Sasha pegou o pirulito da mão de Noah e o colocou de volta no lugar. Noah riu. Havia coisas inesperadamente fofas em todas as direções – brinquedos e bonecas – e quanto mais adentravam a loja, mais autênticos os brinquedos sexuais pareciam. Além disso, como era a primeira visita de Noah a uma loja para adultos, tudo parecia interessante e novo.
— Impressionante.
Afinal, ele estava vendo essa vitrine pela primeira vez em sua vida. Dildos alinhados em fila variavam em tamanho, forma, presença ou ausência de vibração e até cor. Os para uso anal estavam na prateleira ao lado e, comparados aos dildos, os lindos plugues, contas e correntes, estavam cheios de lubrificante para colocá-los no corpo corretamente. Visitar uma loja pessoalmente era muito diferente! Quer dizer, havia muita diferença entre ver fotos em uma página da web e sentir a vibração e a textura de um brinquedo com a mão. Alguns eram tão quentes quanto um corpo real e outros eram muito duros. Ele nem havia notado a passagem do tempo enquanto segurava essas coisas e olhava para elas com uma cara bastante séria.
— Quando você se senta na frente do computador, você fica com um rosto morto, sem expressão. Mas assim que chegou aqui, seus olhos ficaram bem vívidos.
De repente, uma voz suave veio do lado. Noah olhou em volta surpreso e piscou. Estava absorto o suficiente para esquecer que estava com Sasha.
— Você vai querer esse? Sinceramente, ele parece muito feio.
Sasha riu. Na mão de Noah, um enorme vibrador de silicone estava se contorcendo para frente e para trás. Ele estava tão excitado que quase deixou a saliva escorrer pela boca.
— Devo deixá-lo?
— Sim.
— Mas eu gosto.
— Não importa.
Não importa o quão sério Noah olhasse para ele, Sasha apenas balançou a cabeça severamente. Ainda sim, foi decepcionante largar o vibrador gigante que se contorcia como um peixe. Era difícil encontrar algo que ele gostasse em primeiro lugar e era um pouco difícil não ficar animado com o pensamento de que Sasha seria o único a comprar. Era como se aquele calor não parasse de subir.
— Você está dizendo que não vai comprar um desses mesmo tendo sequestrado uma pessoa que estava vivendo uma vida boa e o transformar em um mendigo sem um tostão!? É isso!?
— Eu posso te dar outra coisa.😏
Sasha, que estava olhando para Noah, com os braços cruzados sobre a barriga, respondeu friamente. Mas não importava o que ele dissesse ou quão temperamental ele fosse, Noah não pode mudar de ideia.
— Não, me dê esse como recompensa. Você ainda me deve muito.
— Eu me recuso.
— O que diabos você está dizendo?! Por quê?
Noah murmurou e pegou o vibrador em suas mãos.
— Você é um idiota. Eu realmente gosto deste!
— Bem, eu não me importo.
Sasha pegou o vibrador com um único movimento da mão de Noah, virou-o como se não quisesse vê-lo e o colocou de volta na vitrine com um clique aterrorizante. Na verdade, não foi diferente de jogá-lo.
— Me escuta!
— Não importa o que você diga, isso não está certo.
— Eu não me importo se você acha certo ou não! Eu quero usar esse na minha bunda e acabou. Você acha que pode me dizer o que posso ou não enfiar em mim?
— O dinheiro é meu, certo? Qualquer coisa que eu comprar ficará no meu histórico para sempre.
— Bastardo sem coração!
Tentou olhar para ele com olhos ameaçadores, mas Sasha apenas deu de ombros. Não poderia estar mais triste por não ter um celular ou uma carteira agora. No final, Noah teve que se virar com os ombros caídos.
— Com certeza vou comprar mais tarde.
— Ótimo. Mas não na minha frente.
Noah olhou para Sasha com olhos raivosos.
— Então o que eu faço? O que você vai me comprar?
Sasha inclinou a cabeça de um lado para o outro quando perguntado, mal-humorado, olhando ao redor das prateleiras com os olhos semicerrados. Ele então, imprudentemente, pegou uma pequena caixa.
— Esse
— Doutor, isso é um plug, não um vibrador.
Era um plug do tamanho de um dedo. Na caixa estava escrito com orgulho que o plugue rosa, alongado e em forma de ovo poderia ajudar na estimulação em três níveis. Mas para Noah, foi mais decepção do que alívio. Meu Deus, um brinquedo do tamanho de um dedo! Para que ele quer isso? Para fazer cócegas!?
— Isso é demais. Pelo menos me deixe comprar um vibrador.
Noah protestou com uma expressão lamentável no rosto, mas Sasha não piscou. Ele então apontou para a caixa menor ao lado dele, pegou e o entregou. Era um pênis simples, sem vibrações.
— Se você não quer que eu mude de ideia, apenas pegue e me siga.
— …!
O calor da raiva desapareceu e seu rosto ficou vermelho… Mas Sasha se virou e foi para a caixa registradora sem nem mesmo parar para falar com Noah. Eu gostaria de poder pegar um vibrador gigante da prateleira e bater nas costas do Sasha com ele! Mas, se o fizesse, provavelmente perderia até o plugue de ovo. Noah não teve escolha a não ser morder o lábio e o seguir.
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Continua…
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Tradução: MiMi
Revisão: Rize