Da Terra ao Céu - Capítulo 17
Noah gemeu baixinho e caiu de bruços na frente da mesa. Seus olhos estavam bem abertos e seu rosto estava seco e escamoso como se estivesse encharcado de fadiga. Foi a primeira vez que ele percebeu o que era estar realmente exausto.
— Puta merda.
Palavrões vazaram dos lábios de Noah enquanto estava deitado de bruços na mesa. Pensando que Sasha estava agindo como um patrão cruel que espremia seus trabalhadores por uma semana inteira, sem lhes dar descanso ou água, ele só podia xingar e lamentar mental e verbalmente. Se soubesse que isso aconteceria, teria pedido um pagamento maior do que apenas um piano. E considerando que ele nunca tinha estado na sala de música até agora, exceto por um ou dois dias, era ainda mais irritante.
Este era claramente um acordo injusto.
Ângela, uma convidada inesperada, deixou a mansão no dia seguinte. Ela não questionou Noah sobre seu relacionamento com Sasha, ou tentou descobrir o que ele estava fazendo ou qual era seu verdadeiro trabalho na mansão. Talvez ela tivesse percebido que, mesmo que perguntasse, não descobriria nada de nenhum deles. E assim que Sasha a cumprimentou sem emoção quando de repente se aproximou, tudo o que ela fez foi acenar ao sair. Como se nada tivesse acontecido para começar.
No entanto, assim que Ângela saiu da mansão, Sasha sentou Noah em seu escritório e começou a ensiná-lo sobre cada um dos negócios existentes.
Para um hackear, primeiro era necessário entender corretamente o sistema. Para mergulhar no programa de mísseis, capturar as informações desejadas e alterar o movimento do míssil em tempo real, foi necessário conhecer rapidamente o sistema e o software da empresa. Era puro escaneamento e enumeração, mas não era tão fácil quanto parecia. Em primeiro lugar, a parte mais difícil foi que o programa que Sasha construiu era diferente dos sistemas gerais com os quais Noah estava lidando até agora. Além disso, o tempo era curto. Faltava menos de uma semana para a data do teste com o míssil. Embora, é claro, seu orgulho não lhe permitisse desistir facilmente. Ele estava com medo de que parecesse uma criança chorando, então cerrou os dentes e continuou subindo. Ele estava cheio de pensamentos de que deveria acabar com isso rapidamente, então fez isso mesmo enquanto era noite. Porque a única resposta era aprender o fluxo correto para se infiltrar no programa e extrair as informações o mais rápido possível. Era natural se cansar, claro, mas teria que ser muito mais suportável para um desenvolvedor que sabia o que fazer com o sistema e como remover os cabos um a um.
Infelizmente, Sasha não era um bom professor. O homem, que geralmente era franco e de coração frio em vez de gentil, era muito pior quando estava na frente de um computador. Ele o tratava como se estivesse falando com uma máquina e sempre que não conseguia entender direito a explicação, o homem olhava para ele com olhos frios e dizia que tinha que prestar mais atenção. Não podia contar quantas vezes ficou chateado por Sasha olhar para ele daquele jeito! Se soubesse de antemão que aprender algo com alguém próximo a um “gênio” seria uma tarefa tão cansativa, teria chamado o avô para vir buscá-lo.
— Espero que seu plano funcione, seu desgraçado.
Mais uma vez, sentiu pena dos investigadores que trabalhavam com ele. Além disso, comparado a esse cara, Félix, que era apenas um criminoso, era muito mais acessível e divertido. Mesmo que estivesse gritando com ele por não ser capaz de terminar algo rapidamente, lhe daria tempo para aprender um programa desconhecido para facilitar as coisas.
Ah Merda. Pensando assim, ele parecia quer ver Félix.
— Oh meu Deus! Estou sentindo falta dele! Eu perdi a cabeça!
Mas depois de um tempo, soltou um longo suspiro permitindo que seus ombros caíssem para frente.
— Bem… Ele muitas vezes me dava presentes para aliviar meu estresse.
Félix lhe comprava dildos e vibradores o tempo todo. Toda vez que Noah ficava bravo no trabalho, o primo jogava um catálogo de vibradores na cabeça dele e dizia para pedir o mais bonito.
Noah, que estava pensando sobre isso, de repente estendeu a mão e tentou calcular a data. Depois de ser capturado por Sasha, ele gemeu quando percebeu que não usava um vibrador ou outro brinquedo há muito, MUITO tempo. Claro, esta não era uma situação onde poderia usar um vibrador assim, mas foi bastante surpreendente para Noah passar tantos dias em abstinência. Ele estava cheio de estresse, então ficou surpreso por ter esquecido seus brinquedos quando ficou claro que eles eram um alívio para sua alma.
— Incrível.
Noah murmurou um pouco e então estalou a ponta da língua. Ele bagunçou seu cabelo comprido e pensou que talvez o estresse o tivesse enlouquecido. Ou seja, esqueceu seu próprio prazer porque estava ocupado, mas era evidente que, uma vez que se lembrou, começou a sentir um formigamento por dentro do corpo. Para ser exato, queria comprar algo agora e enfiar no rabo. Só de pensar por um momento, ele parecia ver um monte de brinquedos expostos no armário de seu quarto. Um vibrador de coelho e um vibrador colorido que piscavam impiedosamente na frente dele. Ele pensou que a saliva escorreria por suas bochechas, então enxugou o rosto com as costas da mão. Não sabia por que tinha começado a pensar em algo assim quando era completamente impossível.
— Droga, eu preciso de um vibrador.
— Mesmo no meio disso você fica excitado.
— Ah, filho da…!!!
De repente, uma voz pesada veio por trás de suas costas. Assustado, Noah gritou e pulou de pé.
— Por que você está tão assustado?
Sasha, não entrou no escritório, mas observou Noah com um olhar bastante intrigado da porta. Claro, ele não poderia responder essa pergunta imediatamente. Aquele cara de repente veio para surpreendê-lo. Neste momento e justamente quando estava pensando em coisas embaraçosas!
— Como eu não vou surtar quando você aparece assim do nada, seu bastardo? Bata antes de entrar!
Aborrecimento surgiu em sua voz e ele simplesmente se inclinou um pouco. Ele estava ficando tão excitado só de pensar em seus velhos vibradores, então seu pênis cresceu o suficiente para formar uma tenda de circo em suas calças. Era a mesma postura que tinha antes de Sasha entrar, mas dessa vez a intenção era de cobrir a virilha.
— Eu queria bater, mas a porta estava aberta.
— Então mostre um sinal ou tossa ou me diga que você está chegando. Alguma coisa.
Na verdade, era difícil dizer se a porta estava aberta ou fechada porque o estúdio estava muito bagunçado. Além disso, a entrada estava longe de onde estava sentado e como ele e Sasha eram as únicas pessoas que moravam na mansão, não sentiu que precisava manter qualquer senso de privacidade.
— Meus passos fazem muito barulho, mas, se você não me ouviu, vou ter que me anunciar da próxima vez. Como você disse.
Sasha, que se aproximava dele, parecia falar com muita calma.
— Por que você está fingindo ser legal?
Noah ainda não conseguia ficar de pé e se sentou em sua mesa, então apenas levantou a cabeça para tentar olhar para ele. Sasha deu de ombros.
— Eu sempre fui legal. É só que você nunca percebeu.
— Uh-huh, deve ter sido isso.
— A propósito… você não vai… me dizer quem é o homem que você diz que sente falta?
Noah estalou a língua e levantou lentamente a parte superior do corpo.
— Desde quando você está escutando?
Enquanto observava Sasha, que tinha talento para deixar as pessoas cansadas, felizmente a excitação que havia tomado conta de sua virilha parecia estar diminuindo.
— Não, não. É só que pude ouvir você gritando desde que estava andando pelo corredor.
Oh, ele se lembrou de ter elevado a voz porque estava chateado com essa situação em que sentia falta de Félix enquanto morava com Sasha. Envergonhado, Noah coçou a bochecha.
— Então quem é?
Diante da pergunta persistente, Noah franziu a testa.
— Você é curioso sobre tudo. O que você quer?
— Eu posso te dar outro piano se você me disser.
Ele riu, mas não foi engraçado.
— Não é nada, então não fale bobagem e vá agora. Estou muito ocupado porque, como você pode ver, alguém me deu lição de casa suficiente para durar mil vidas. Eu sou um escravo.
— Então eu vou ter que te dar um presente para aliviar seu estresse.
— Você já é muito bom em me dar comida e remédios para dor. Só não me estresse.
Com uma bufada, Noah virou a cabeça e olhou para o monitor com a codificação alinhada vertiginosamente à sua frente. Então Sasha de repente estendeu a mão e desligou o computador.
— Por que você ainda está aqui? Você não comeu e também não foi dormir para descansar.
— É por causa do seu maldito trabalho!
— Mas não precisa ser agora!
— Você me disse para fazer isso rápido! Foi como uma ameaça!
— Como…? Eu já te ameacei?
— Todos os dias e todas as horas.
Como esperado, ele estava convencido de que esse Doutor maluco estava deixando todos que andavam com ele loucos. Ainda mais, para as pessoas que trabalhavam com ele. Noah ligou o computador novamente.
E nesse momento.
Sasha virou a cadeira de Noah para encará-lo. Era como se ele estivesse em uma posição de interrogatório.
— O que está fazendo?
— Primeiro de tudo, você não respondeu minha pergunta.
— Que pergunta?
— Quem é o homem que você sente falta e que tipo de presente ele te deu para aliviar seu estresse?
— Doutor, você é muito curioso.
Não era a primeira vez que via esse maluco ser estranho de uma forma muito improdutiva, mas hoje ele estava um pouco pior. Esse cara estava com… ciúmes?
— Eu estava falando sobre Félix, ok?
Talvez tenha sido uma resposta inesperada, porque o rosto de Sasha endureceu imediatamente.
— Felix? Uau. Quer dizer… Você e seu primo não pareciam ser tão próximos, então eu não achei… É surpreendente.
— Félix também me pede para trabalhar como um louco, mas ele não age como você.
Noah lambeu os lábios e sorriu. A verdade é que estava particularmente cansado pelo tempo e esforço que tinha dedicado estudando e praticando durante a última semana para invadir um programa de mísseis que nem conhecia. Se tivesse estudado assim quando jovem, teria ido para Harvard.
— Hmm, eu… me desculpe por ser rude e não te dar um tempo. Eu não queria que você pensasse que era um escravo ou algo assim, e na verdade eu quero que você saiba que fui gentil com você do meu jeito.
Noah soltou um longo suspiro diante da voz e da expressão mal-humorada. Não sabia por que parecia tão difícil vencer esse cara. Quer dizer, realmente era como se ele perdesse toda vez que eles brigavam.
Até mesmo ficar na frente dele era uma grande façanha.
— Ok, apenas vá.
Noah acenou com a mão em aborrecimento.
— Se você está estressado porque eu agi como um idiota ontem, você deveria me dizer, não acha?
No entanto, teimoso como sempre, o homem, que evidentemente não sabia quando era hora de recuar, disse isso e ficou parado como se quisesse enfrentá-lo. Noah abriu um pouco mais os olhos e disse:
— E se eu acreditar? Meu estresse já atingiu o limite! Eu não estou no nível de dizer ou fazer nada. Eu… eu só peço que você cale a boca e saia antes que estrague tudo.
Então ele girou a cadeira para frente novamente. Havia reafirmado sua vontade de dominar este programa de mísseis com perfeição, em vez de achatar o nariz daquele homem com os punhos. No entanto, Sasha o virou e, em seguida, simplesmente se inclinou contra ele colocando as duas mãos sobre seus braços como se quisesse prendê-lo. Graças a isso, Noah recuou completamente, como se o contato o enjoasse. A parte de trás de sua cabeça literalmente tocou a cadeira como se ele quisesse passar por ela.
— …O que diabos você quer!?
— Isso significa que você não vai me dizer o que Félix te deu de presente? É… É algo que eu não posso te dar? É demais para trazer?
— Sim.
— Eu não sei o que é, mas não é justo concluir isso sem me dizer primeiro.
— Usar a palavra ‘injusto’ neste caso é inútil.
Noah disse, levantando uma sobrancelha. “Foi injusto”, disse ele. O que havia de injusto nessa situação? Quando Noah riu, Sasha parou por um momento como se estivesse pronto para reclamar com Noah novamente. Então houve um breve silêncio entre os dois que terminou com o homem suspirando e erguendo os cantos da boca:
— Você quer sair para jantar comigo?
— … Do que você está falando?
Ele realmente não conseguia entender do que diabos esse homem estava falando agora.
— Não é que eu tenha sob custódia, mas acabei de me dar conta de que não sai com você desde que chegamos aqui.
— Ah, olha.
Em sua explicação relaxada, um som provocador começou a sair da boca de Noah. Na verdade, assim que chegou aqui, ele disse que não estava preso, disse que teve que usar esse método porque estava desesperado, e tinha guarda-costas para deixar tudo muito seguro. Claro que se “entendeu” que se ele quisesse sair dali poderia fazê-lo a qualquer momento desde que Sasha estivesse do seu lado, era assim que ele queria. Pode-se dizer que foi um encarceramento que Noah consentiu até certo ponto.
Ele ficou surpreso com a audácia desse homem em colocar tudo contra ele.
— É a primeira vez que vejo uma pessoa tão sem vergonha.
— Bem, então… você quer vir?
— Olha…
— Vamos lá. Não importa o quão ocupado você esteja, as pessoas precisam de tempo para descansar.
Sasha deu um passo à frente e se aproximou de Noah. Noah olhou para a mão estendida em sua direção.
— Vai a um encontro comigo. São Francisco é perto. Se sair e tomar um pouco de ar, você vai se sentir revigorado em breve.
Então Sasha acrescentou uma breve explicação que soou meio estúpida.
— Uau, você é muito bom em falar. Tem me mantido acordado todas as noites! Não, eu literalmente fiz uma pequena pausa todos os dias para terminar suas demandas. Dois minutos em 24 horas. E agora você vem e me pede para irmos a um encontro tão de repente. O que está planejando?
Sasha gemeu com a acusação de Noah, então deu de ombros.
— Quem te ouve pode interpretar mal suas palavras.
— O que você está falando?
— Se você diz que eu te deixei sem dormir, eu só posso imaginar uma cena em que nós dois estamos juntos no meu colchão…
— …
Sua voz, baixa mas suave, deu-lhe um calafrio completamente brutal. Os olhos de Noah se arregalaram, como os de um coelho, e então ele simplesmente desviou o olhar e coçou a cabeça. Este louco não estava falando de trabalho! No momento em que entendeu o significado das palavras dele, seus lóbulos das orelhas ficaram vermelhos até que sentiu que eles realmente poderiam explodir. Ele queria cuspir um palavrão, mas por um momento, pareceu estar tão nervoso que não conseguiu.
Então ele se levantou.
— Vamos lá…
— Você está louco!
— Você quer que eu te carregue ou vai andar sozinho?
Levantou o tom como se estivesse com muita raiva, mas a voz grossa de Sasha o impediu de concluir.
— O que você quer dizer com carregar…? Ah!
Antes que pudesse terminar a pergunta, o corpo de Noah foi levantado entre seus braços e levado para o outro lado da sala. Foi porque Sasha, que se negava a ouvir mesmo com as duas orelhas coladas em sua cabeça, pegou Noah sem motivo e o puxou para perto. Aparentemente, ele o via mais como um objeto, do que como uma pessoa. Agora, se colocasse um pouco de lógica, isso parecia que tinha se tornado mais um hábito.
— Ei! Ouça-me! Acha que eu sou inútil? Ou você quer se exibir? Por que você faz isso o tempo todo!? Deixe-me ir!
— Você é leve, então qual é o problema em me deixar carregá-lo? Está envergonhado por eu notar que você é tão leve quanto uma boneca de papel?
— Eu não sou tão magro…
O comentário precipitado deu-lhe uma dor de cabeça.
— Eu não gosto de sair quando se sobrepõe ao horário de trabalho! Vai levar cerca de uma hora para chegar a São Francisco, mas com o trânsito pode demorar muito mais. E provavelmente vamos ficar presos na estrada e vamos perder tempo. Eu odeio perder tempo assim!
— Não vamos perder tempo. O descanso é essencial.
— Eu não disse sim. Você está fazendo isso como quiser? Um Doutor como você não se importa se tudo for desperdiçado?
Ele ergueu os olhos e perguntou isso descontroladamente, mas na verdade, devido à sua postura ridícula nos braços do homem, não sentiu que o estava intimidando-o. Ainda assim, não podia deixar de ficar com raiva. Por que esse homem era tão egoísta sobre algumas coisas?
— De jeito nenhum. Estou preocupado com a sua condição, o estresse pode ficar pior e deixá-lo doente. Além disso, acho que você deve estar enjoado agora com a comida que eu preparo, certo? Eu nunca te servi um jantar decente antes, você também pode dizer que é minha vontade, para fazer você se sentir melhor.
Sasha falou calmamente, com um rosto entorpecido e uma voz que não mostrava nenhuma emoção. Noah deu de ombros, como se estivesse resignado:
— Quando sairmos, você tem muito com que se preocupar. Provavelmente vou tentar ir para casa.
Mas quando, além de tudo isso, pensou que eles iriam para as ruas onde os alfas também iam, um sentimento de desgosto se espalhou por dentro de seu peito. Estava claro o que aconteceria se ele os encontrasse por acidente.
— Ou algo como da última vez pode acontecer.
— Estou preparado.
Sasha, que levou Noah até a frente de seu quarto, lentamente o colocou no chão. Então, gentilmente, abriu a porta para ele como se ele fosse seu pequeno acompanhante e deu-lhe um último sorriso. Isso o fez querer perguntar por que o homem fingia ser tão respeitoso.
— Deixe-me eu me preocupar com você para que você não precise.
Até o jeito que ele estava falando agora, era fofo.
— … Isso é um encontro de verdade? — Diante da gentileza dele, difícil de aceitar, Noah, com sarcasmo, nervosismo, medo e todas as emoções existentes no planeta terra, pareceu ficar em guarda. — Encontro, encontro?
— É um encontro. Estou pedindo para você sair comigo. Então troque de roupa e venha me ver quando estiver pronto.
Mas Sasha não mostrou nenhuma reação extraordinária e apenas respondeu com muita calma. Ele era como uma pessoa que sabia claramente o que estava fazendo e também o que tinha a dizer. E isso o fez se sentir de uma maneira bastante anormal. Como se o sentimento anterior de decepção tivesse deixado seus ombros.
— Sasha…
— Eu vou esperar por você lá embaixo.
Sasha finalmente ofereceu a ele um leve aceno de satisfação. Noah olhou para ele por um momento e depois abriu a boca:
— Espere, só para o caso de eu…— Foi um impulso inexplicável, mas ele acabou dizendo: — A comida que você prepara… eu nunca poderia ficar enjoado.
A frase curta foi sincera. Claro, ele não esperou pela resposta de Sasha e fechou a porta. Parecia que seus lóbulos das orelhas estavam mais quentes que o inferno.
*
Noah apoiou o queixo na mão e olhou pela janela do carro. O sol, ligeiramente inclinado sobre a ponte vermelha, brilhava de uma forma que parecia bonita demais para ser verdade.
— É um bom dia…
— Sim, temos sorte. Poucas pessoas que estiveram em San Francisco podem dizer que viram a cidade ensolarada, sem nuvens.
Enquanto Noah murmurava seus pensamentos, Sasha lhe mostrou um sorriso em resposta. Como San Francisco era conhecida como a “Cidade do Nevoeiro”, não era de se surpreender que houvesse muitos dias especialmente sombrios. Geralmente estava nublado, fazia frio ou chovia. Mas hoje o céu está ensolarado e incrivelmente bonito.
A última vez que ele visitou o lugar, estava chovendo. Talvez por isso, a vista de San Francisco da qual se lembrava fosse muito diferente da de hoje. O azul do mar refletia a luz do sol e isso fazia o céu brilhar o tempo todo. A Golden Gate Bridge também parecia fascinantemente incrível, então poderia dizer que estava se divertindo.
— Algo parece ter mudado um pouco.
Noah murmurou para si mesmo e olhou cuidadosamente para a paisagem do lado de fora da janela. San Francisco já existia há muito tempo e ele sempre visitava a cidade para tê-la esquecido. Quer dizer, esteve ali, mas nunca olhou em volta direito. Seria bom dizer que estava só de passagem, então não viu nada de bom que pudesse recordar. Mas, agora, ele podia assegurar que a única decepção era que a ponte Golden Gate era vermelha em vez de dourada, como o próprio nome dizia… Mas foi até engraçado porque naquele exato momento estava se sentindo totalmente relaxado. Talvez porque teve a sorte de Sasha chamá-lo para visitar o lugar em um dia tão ensolarado, ou porque era apenas Sasha que estava viajando com ele, quem sabe? De qualquer forma, Noah não conseguia desviar o olhar da imagem panorâmica da cidade cercada pelo mar ou ignorar seus sentimentos. Enquanto isso, o sedã, que Sasha dirigia, deslizou pela ponte em uma velocidade lenta e muito, muito silenciosa.
A ponte Golden Gate Bridge tinha tráfego, como esperado. Como San Francisco era uma área da baía, todos os três lados, exceto o sul, estavam voltados diretamente para um ponto do oceano. Portanto, para chegar a San Francisco desde o interior do país, ao norte ou ao leste, tinham que usar uma ponte. A ponte que dava para o norte era Golden Gate, e a ponte da Highway 80 a leste era a Oakland. Talvez por isso sempre houvesse trânsito, especialmente em horário de pico. Mesmo agora, a ponte estava terrivelmente cheia de carros.
Sasha se desculpou por desperdiçar seu tempo na estrada, mas na verdade Noah pareceu estar grato por poder desfrutar da vista para o oceano tanto quanto queria.
— Você já esteve em San Francisco?
Sasha perguntou isso do nada, possivelmente porque achou que o silêncio entre os dois tinha ficado chato. Noah soltou o queixo e virou os olhos para olhá-lo. A visão lateral de Sasha, que segurava o volante olhando para a ponte bloqueada por carros, estava completamente tingida com o brilho do sol poente. Era um tanto… bonito.
— A trabalho.
— Deve ter sido chato.
— Muito, porque em primeiro lugar não gosto de caminhar ou passear.
Para começar, Noah não era alguém que pudesse ser definido como um “viajante”. Sair de casa era cansativo, então ele nunca o fazia.
— Você tem vivido de uma maneira bastante sombria.
Sasha murmurou isso suavemente em resposta às palavras amargas de Noah. Ele assentiu, embora na realidade nunca em sua vida tivesse pensado que era assim. Olhando para trás, era verdade que podia se dizer que se tratava de uma existência um tanto triste, mas ele não tinha escolha a não ser viver. As pessoas… o forçaram a ficar trancado em sua casa e em seu escritório de costas para o mundo.
— Sim. Eu tenho vivido uma vida sombria.
Noah não se opôs, mas concordou levemente. Ele já sabia que sua vida era seca, então não tinha mais nada a dizer.
— Estou preocupado que isso esteja fazendo você se sentir desconfortável. Talvez eu tenha te trazido a força.
— Está se preocupando com isso muito tarde.
— Me diga se você não se sentir bem com isso. Vamos jantar e voltar rápido, eu prometo.
Sasha murmurou isso baixinho, mantendo o olhar a frente. Noah observou seu rosto sem dizer uma palavra e pensou que desde o momento em que o homem de repente se ofereceu para levá-lo para jantar, sentiu uma bondade bastante significativa nele. Foi um pouco estranho. Havia alguns pontos nele que o faziam parecer rude, mas nunca foi particularmente malvado com Noah. Ainda assim, por que ele estava parecendo particularmente gentil hoje? Estava preocupado, arrependido?
— Se você está cansado, feche os olhos. Provavelmente vai demorar um pouco mais.
Em um pequeno espaço preenchido com aquela voz, sentar ao lado dele realmente evocou um sentimento que Noah não conhecia, que começou a crescer em seu peito e o fez se sentir como nunca antes em sua vida. Diante da sensação estranha, Noah rapidamente virou a cabeça e fechou os olhos exatamente como ele havia dito. Acho que seria mais conveniente assim, para os dois.
San Francisco era uma cidade surpreendentemente pequena. Isso porque a baía era cercada pelo mar por três lados. À medida que a população aumentava, não havia terra para expandir, então os edifícios tiveram que ser construídos em apenas uma direção. As casas, que tinham dois andares para aproveitar um pequeno pedaço de terra, eram unidas umas às outras para não ter desníveis. É claro que isso fez com que os preços das casas se tornassem ridiculamente altos. Pode-se dizer que era bem diferente de San Diego, que tinha um ambiente descontraído e espaçoso e o clima era muito mais temperado do que aqui. Por isso, muitas pessoas a escolhiam como cidade para passar a velhice após a aposentadoria. Mas San Francisco era semelhante a Nova York em termos de pessoas que viviam tão terrivelmente compactas. Além disso, todos pareciam ocupados e o clima tão pouco ajudava a superar a situação. Como seu apelido dizia, geralmente estava nublado, chovia com frequência, fazia calor no verão e frio no inverno.
Não era do gosto de Noah.
No entanto, a paisagem da cidade, sentado no carro e olhando ao redor, não era nada terrível. Ele sentiu a atmosfera maravilhosa e única de San Francisco, algo que definitivamente não seria capaz de encontrar em nenhum outro lugar. As ruas estavam cheias de uma vivacidade única, então Sasha dirigiu lentamente como se quisesse lhe mostrar a cidade antes do jantar. Assim que saíram da ponte Golden para o centro da cidade, passaram pela Union Square, pela Prefeitura e depois por Chinatown. Pensando em Noah, que não gosta de se mexer, Sasha dirigiu o carro procurando pontos turísticos em San Francisco como se estivesse a passeio. Ao passarem pela Lombard Street e Russian Hill, ele sentiu como se estivessem em uma montanha-russa subindo uma inclinação mais íngreme do que esperava.
Se sentou no carro e olhou ao redor do quarteirão, mas ainda estava tudo bem. Não sabia se era porque Sasha estava explicando os pontos da cidade em um tom agradável e baixo, como um guia turístico, ou porque o interior parecia tão quente. De qualquer forma, ao contrário da expectativa de que eles iriam apenas jantar e voltar ao trabalho porque estavam ocupados, Sasha parecia infinitamente relaxado com a coisa toda. Como alguém que tinha tirado férias para lhe mostrar o centro de San Francisco.
— Você morava em San Francisco?— Noah, que estava ouvindo sua breve explicação, de repente fez essa pergunta. — Digo isso porque você parece ter amplo conhecimento do lugar.
Ele rapidamente adicionou uma história de fundo, caso sua pergunta pudesse causar outro mal-entendido.
— Não na cidade, mas nos subúrbios.
Mas Sasha respondeu calmamente, como se não se importasse. Era divertido como sempre ficava um pouco nervoso perto dele.
— Entendo.
— É por isso que eu sei tudo, é muito perto de onde nasci e cresci.
Noah ouviu a resposta de Sasha, então se inclinou para o lado para olhar o teleférico. Aparentemente, muitas pessoas viajavam para lá sem se importar que fosse pequena. Parecia perigosa e assustadora, mas como todos estavam felizes, era difícil de entender.
— E você? Achei ter entendido que você nasceu e cresceu na Itália.
Então, foi a vez de Sasha.
— Uh-huh. Estava com meu avô.
Noah, olhando para as pessoas no teleférico, respondeu secamente. Foi porque ele estava tentando adivinhar se a maioria das pessoas eram turistas ou não.
— Foi assim até você se formar na faculdade?
Sasha trouxe um tópico inesperado. Era algo em que não queria entrar muito. Ele disse “sim” com relutância e então virou a cabeça para trás como se o homem tivesse conseguido deixá-lo de mau humor mais uma vez. Sasha assentiu:
— Você veio para os Estados Unidos depois disso?
— Porque Félix começou seu negócio e me chamou para ajudá-lo.
— Certamente você sente falta da Itália e da família que deixou lá.
— … Sim um pouco.
Noah hesitou em sua resposta, então só conseguiu dizer algumas palavras. Na verdade, era uma família cheia de pessoas malditas, então realmente não sentia tanto a falta delas quanto deveria. Quando saiu correndo de casa, quase se podia perceber que ele cortou os laços com todos, exceto, é claro, com o avô. Seus pais, como sempre, estavam longe de entender a situação porque seu pai e sua mãe, que haviam se separado completamente da família mafiosa, viviam fazendo o que queriam fazer. Eles eram pessoas gentis e terrivelmente agradáveis com o mundo e ainda assim… Não era como se não os amasse, mas ele não sentia falta deles. Além disso, já tinha mais de 30 anos. Às vezes, bastava apenas trocar cumprimentos no Natal.
— Você gostaria de ir ao “Little Italy” algum dia? É um restaurante italiano muito bom.
Enquanto Noah pensava em seu passado por um momento, Sasha deve ter suposto que ele realmente sentia muita falta da Itália ou de sua família. Observando-o cuidar dele à sua maneira, Noah riu e assentiu.
— Claro. Mas os restaurantes italianos nos Estados Unidos não vendem comida italiana de verdade. É apenas mais um lugar que tem comida americana tentando imitar a comida do meu país.
— O dono do restaurante vai ficar chateado se ouvir você. Acho que ele é um italiano de verdade.
— Não importa se o dono é italiano ou não. Você tem que ir à Itália para comer comida italiana de verdade.
Enquanto Noah falava com firmeza, Sasha esboçou um pequeno sorriso. Como a maioria dos italianos, era óbvio que ele se orgulhava muito de sua comida e de cada uma de suas raízes.
— Bem, então, vamos para “Little Italy”…
— Hahaha, da próxima vez que visitar a Itália, vou experimentar o restaurante que você recomenda.
— Você não acha que eu sou do tipo que vai recomendar deliberadamente um lugar ruim só para ver você vomitar?
— Naaão. Você não tem uma personalidade tão terrível.
— Você sabe que sim. E sabe que é melhor não me deixar bravo.
— Eu vou ter em conta isso.
O sorriso nos lábios de Sasha parecia muito relaxado e bonito para o momento. Noah observou o rosto dele e então virou a cabeça zombando de si mesmo por agir assim. Na verdade, nem tinha mais nada a dizer sobre isso.
No meio da luta, o sedã desceu lentamente pela praia. Embora o sol tivesse se posto completamente e estivesse escuro, havia muitas pessoas em todos os lugares. Ele não sabia se a palavra “agitação” era correta para algo tão exagerado.
— Há muita gente.
Noah murmurou isso com grande emoção, mas fez sem se dar conta.
— Porque é um lugar famoso.
— O que há na praia?
— Pier 39 e Cais dos Pescadores.
Era um nome que já tinha ouvido em algum lugar. No entanto, não achava que os lugares famosos de San Francisco estivessem tão lotados como em um mercado de bairro. As ruas estavam repletas de vendedores ambulantes e lojas de presentes para turistas. Embora fosse tarde, tudo era muito vivo e bonito. Como se a diversão estivesse apenas começando.
— Eu definitivamente recomendaria experimentar o ensopado de mariscos da próxima vez que você vier aqui. Apenas faça isso em um dia morto para que você não tenha que enfrentar tudo isso.
Sasha disse, dirigindo lentamente pela estrada. No entanto, sentindo um olhar próximo a ele, ele olhou naquela direção novamente até que seus olhos se encontraram.
— Eu realmente não sei quando estarei de volta. Por que não comemos agora que estamos aqui?
Quando Noah falou sobre isso, como se estivesse refutando, Sasha colocou um olhar completamente chocado em seu rosto.
— Agora?
— Não?
— Não há nada de errado com isso, é claro. Mas eu quero que você se sinta confortável.
Deve ter sido bastante surpreendente quando Noah, que evitava as pessoas, disse que sairia pelas ruas cheias de turistas só para comer. Na verdade, até o próprio Noah ficou intrigado porque não sabia que ele mesmo diria essas palavras. Ainda mais, porque foi uma frase muito impulsiva para alguém como ele. Sem dúvida, o maior porque ele não gostou que Sasha disse para experimentar da próxima vez. SÓ. Era ambíguo especificar o motivo exato, mas tinha que dizer que isso o estava deixando de mau humor.
— E por causa das pessoas?
— Sim.
— Eu consigo aguentar isso.
Sasha simplesmente assentiu com a resposta de Noah. Então, assim que ele terminou de falar, virou o carro e foi para o estacionamento. Noah olhou para Sasha, depois olhou pela janela, prendeu o cabelo em um rabo de cavalo e deixou o corpo relaxar sobre o assento. O que estava acontecendo agora? Ele ficou intrigado, mas não disse uma única palavra. Apenas esfregou a nuca com a palma da mão em um humor bastante desconfortável.
— Espere… Você não fez reserva em outro restaurante?
Noah virou-se para Sasha e fez a pergunta que de repente veio à mente.
— Fiz uma reserva para um lugar tranquilo porque você não gosta de lugares lotados.
— Ah… eu… podemos ir ao restaurante que você reservou, comer e voltar.
— Eu não me importo. É uma reserva, então posso cancelá-la a qualquer momento.
Assustado com a expressão de desculpas no rosto de Noah, Sasha acrescentou que não era grande coisa. No entanto, a sensação estranha não foi embora facilmente. Foi por causa de sua personalidade então pensou que o homem definitivamente teria feito uma reserva para um restaurante muito caro.
— Não vamos.
— Eu disse que era meu convidado. Você pode me dizer o que quer fazer e eu cumprirei.
— …
— Ou eu te entendi mal?
Sasha, que manteve a boca fechada, como se lhe desse tempo para responder, decidiu perguntar algo assim.
— Bem, não é assim, é só…
— O que…?
Mas em vez de explicar, Noah acenou com a mão. O que deveria fazer com essa situação? Ele não tinha intenção de se debruçar sobre um assunto inútil como este por muito tempo mas… Mais do que tudo porque não queria revelar os estranhos sentimentos internos que tinha pele homem. E que eles o deixavam terrivelmente desconfortável para variar.
— Vamos, doutor. Você faz drama de tudo.
O peito de Noah subia e descia com grande força. Desde Angela, ele prometeu não se abalar com as palavras do homem para não ter mais mal-entendidos. Ele sorriu e, por um momento, pareceu acalmar com força o coração que batia por Sasha.
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Continua…
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Tradução: Yuna
Revisão: Rize