Da Terra ao Céu - Capítulo 16
— Noah, eu só estava pedindo para você diluir o cheiro que não gosta usando seus feromônios… Ahhh, mas se você transforma uma pessoa em um cachorro no cio, deve ser por ALGUM motivo.
Sua voz estava rouca e terrivelmente pesada. Tinha uma ferocidade que nunca tinha experimentado ou ouvido vindo dele. De repente, até mesmo seus ombros encolheram.
— Sabe que isso é sua responsabilidade.
Sasha soltou uma frase que pareceu difícil de pronunciar no momento. Sua testa estava cheia de rugas e suas sobrancelhas o faziam parecer um homem extremamente perigoso. Então, assim que se moveu, enterrou o rosto na sua nuca dizendo que cheirava muito bem.
— Ei, foda-se!
Noah cuspiu uma respiração áspera e também um palavrão. Se agarrou a ele, incapaz de esconder o quão envergonhado estava com o arrepio que acabara de tomar conta dele, inclusive achou difícil se afastar de seus braços. Sobretudo, porque ele não parava de agarrar violentamente seu cabelo e sua cintura.
Toda vez que ele colocava o nariz na nuca Noah e respirava fundo, toda vez que esfregava a parte interna de sua coxa com seu pênis rígido, e toda vez que falava com ele dizendo o quanto gostava dele, seus olhos começavam a ficar terrivelmente embaçados.
Uma sensação de formigamento surgiu no interior de sua pele e, em seguida, o mordeu. A textura dos dentes cravando nele era bem aterrorizante. Suas pernas tremiam com uma sensação que nunca tinha tido antes. Era difícil ficar de pé corretamente e até sentiu que ia desmaiar a qualquer momento. Então Sasha gentilmente agarrou o cambaleante Noah com os dois braços, segurando-o como uma boneca.
— Não, não vá. — Falou, e logo afundou os dentes em sua nuca mordendo a pele delicada novamente. Então fez o mesmo do início, mas em um tom muito mais áspero do que da primeira vez. — Você me deixa louco tão facilmente que não consigo. Não consigo me controlar quando estou com você! Não gosto de ser assim.
Sem levantar a cabeça, sua voz se elevou até chegar aos ouvidos. Era como se estivesse falando sozinho e flutuando para longe. Noah revirou os olhos. Foi porque estava muito excitado, ou porque estava à beira da loucura? Ele falava como uma pessoa completamente diferente. Era só o modo de falar? O mesmo valia para o comportamento rude que não mostrava nem um centímetro de boas maneiras. Não importa o quão louco fosse, geralmente ele era muito educado.
Agora que viu esse seu lado, poderia dizer que esta era uma estranha dupla personalidade que ele mesmo havia desencadeado.
— Espere…
Estava tão chocado que não conseguia nem gritar. Tudo o que conseguiu fazer foi respirar levemente enquanto Sasha o segurava em suas mãos. Se ele ouviu ou não, nem mesmo respondeu ou fez um som. Apenas levantou os dentes e o mordeu violentamente novamente. E não só fez isso, ainda continuou chupando-o até sentir que a pele de Noah estava rasgando sob sua boca.
— Hum…!
Um gemido estranho escapou de sua garganta. Seus genitais esfregaram-se violentamente entre as coxas apertadas de Noah e suas mãos agarraram as costas com tanta força que pareciam querer se fundir com a própria pele.
A cabeça de Noah se inclinou em sua direção o máximo que podia e, esquecendo que Sasha era quem o segurava, inconscientemente estendeu a mão e o agarrou como se fosse beijar seu cabelo…
Esse foi o momento.
Havia um odor levemente irritante na ponta de seu nariz. O cheiro de perfume feminino e o cheiro de álcool. Quando o cheiro que havia esquecido até um momento atrás atingiu seu nariz, sua mente meio escura, meio entorpecida, brilhou.
— Esse cheiro… odeio isso.
Noah gemeu, com os dentes cerrados, e empurrou o ombro que ainda o segurava.
— Me solte!
Quando gritou alto, Sasha finalmente caiu em si. Levantou a cabeça, que estava enterrada na nuca, e mostrou as pupilas escuras que brilhavam muito perigosamente. Claramente isso era um sinal de desgosto por tentar interrompê-lo.
— Se você faz alguém entrar no cio, tem que assumir a responsabilidade.
— Se quer que eu arranque suas bolas, então vá em frente.
Com as palavras duras de Noah, Sasha exalou. Essa era uma cena que tinha visto pessoalmente, então sabia muito bem que ele não estava brincando. Claro que era para ser temido. Mas disse apenas arrancar suas bolas? Poderia facilmente até arrancar seus os olhos usando os dedos. Aqueles que tentaram mexer com ele sem sua permissão nem receberam um aviso prévio.
— Por que parece tão ansioso? Você e sua amiga Ângela não tiveram tempo suficiente para foder?
—…
— Só estou sendo bom desta vez, por causa do que te devia no passado. Se não fosse por você, estaria perdido no iate, eu admito… Agora paguei minha dívida. Então não me toque mais.
Sem se mexer, a mão de Sasha, que o segurava na cintura, fez um estalo e se afastou lentamente até ficar pendurada ao seu lado. Então se afastou. Os olhos que se assemelhavam aos de uma besta não haviam mudado, mas a razão suficiente para saber quando recuar parecia ter retornado.
— Vou cuidar de mim mesmo, vou ficar bem, você me alimentando ou não, então não há necessidade de se preocupar comigo.
Noah deu um passo para longe de Sasha, que estava apenas olhando para ele sem dizer uma palavra. Então, sem hesitar, se virou e foi imediatamente para a cozinha. Sasha ainda estava lá, completamente imóvel.
— Não se esqueça de ligar o ar condicionado. Se houver um Alfa entre os guarda-costas do seu grupo, pode ser muito perigoso.
Como derramou uma grande quantidade de feromônios na sala, havia um risco alto o suficiente de vazar pelas paredes. E se os guarda-costas alfas começassem a captar o feromônio, haveria mais de um único alvoroço na mansão. Odiava sequer pensar nisso, então foi nesse momento que prometeu a si mesmo que pegaria algumas facas da cozinha e as manteria em suas calças, apenas por precaução.
—… eu farei.
Uma resposta tardia veio de trás. Era uma voz que estava emaranhada com o calor, mas não conseguia camuflar totalmente a luxúria.
E de repente, ouvir isso o deixou com sede.
Sem perceber, engoliu saliva por uma garganta que estava terrivelmente seca, e ainda assim sua sede parecia nunca ser saciada. Em vez disso, era vertiginoso. Como se uma corrente elétrica tivesse passado por sua espinha até que sentiu uma reação inesperada.
Confuso, Noah cerrou os punhos. Se forçou a se mover rapidamente para não olhar para trás, e ainda assim a sede repentina e desconhecida permaneceu como se queimasse todo o seu corpo.
— Ah maldito!
Noah voltou a dormir no final da manhã e só acordou no final da tarde, não escovou os dentes e começou a xingar o tempo todo. Seu reflexo no espelho era terrível. Exatamente, no lugar de seu pescoço. Havia uma grande contusão, como se tivesse sido pressionada com força, mas não era azul, e sim muito violeta.
Os olhos de Noah se arregalaram de forma exagerada e sua cabeça se inclinou para frente devido a cor terrível. Estava assim do pescoço aos ombros, até pensou que talvez tivesse sido espancado durante o sono. Olhou para os hematomas com espanto, então parou de respirar ao se lembrar do que havia acontecido na manhã anterior. Foi porque Sasha, que estava coberto de feromônios, foi rápido em agarrá-lo como um animal.
— Ahh, Meu Deus!
Noah olhou para si mesmo no espelho, a espuma branca de pasta de dente ainda na boca. Mas olhando novamente, não havia apenas hematomas, mas também marcas de dentes. A área perto da nuca estava rasgada, provavelmente porque o bastardo estave tentando mastigar, e com certeza, uma dor lancinante se seguiu quando passou a ponta dos dedos sobre a pele inchada.
— Esse louco…
Deveria ter estourado suas bolas sem aviso prévio! Fechou o tubo de pasta de dente, enxaguou o que estava em sua boca e imediatamente cuspiu na pia. Depois de lavar o rosto, rapidamente saiu de lá. Chutando a porta e se movendo pelo corredor como se estivesse correndo.
Desceu para o primeiro andar e olhou ao redor. O lugar estava silencioso, mas não estava vazio. Alguém estava sentado no sofá da sala.
Ângela.
— Noah, você está acordado?
Quando Noah parou de andar, claramente envergonhado, Ângela, que estava lendo, acenou. Parecia estar melhor do que ontem.
— Sim.
Era difícil ignorá-la e simplesmente passar por ela, então se aproximou desajeitadamente. Foi até lá, dizendo a si mesmo que assim que visse Sasha, iria confrontá-lo por ser um bastardo… Mas inesperadamente viu Ângela primeiro. Até sua raiva havia diminuído.
— Sasha disse que você esteve ocupado compondo algumas músicas. Ele disse para não te acordar.
Sua desculpa era horrível, mas Noah não disse nada.
— Acho que ele se importa muito com você, Noah.
Infelizmente, Ângela falava asneiras.
— É a primeira vez que vejo Sasha pensar em alguém assim.
Ouvir que homem se importava tanto com ele o deixou desconfortável. Só conseguiu adivinhar suas ações até agora, mas era um fato que sua personalidade estava seriamente corrompida.
— Não é assim.
Ângela sorriu suavemente enquanto Noah falava.
— Não sei. Na verdade, fiquei surpresa ao saber que você estava em um quarto no segundo andar. Sasha nunca deixa estranhos no segundo andar. Já faz um tempo que nos conhecemos, mas nunca subi lá. Sempre fiquei no quarto de hóspedes no primeiro andar.
Ela não parecia particularmente triste, mas de alguma forma sentiu que estava.
— Entendo.
No segundo andar ficava seu escritório pessoal. A maioria das coisas referentes a empresa e o laboratório estava cheio de equipamentos de última geração e incomparavelmente caros. Além disso, havia muitos programas desconhecidos que Sasha estava desenvolvendo pessoalmente. Então entendeu que ele não deixava estranhos se interarem disso. No entanto, pode-se dizer que tudo isso se deveu às circunstâncias especiais entre os dois e pelo fato de que quase o obrigou a ajudá-lo. Porque para fazer o que Sasha queria, tinha que entender o trabalho dele e aprender o que ele queria.
No entanto, aos olhos de Ângela, que não tinha como saber o que estava acontecendo, a situação em que um mero pianista morava no segundo andar, onde pessoas de fora não podiam entrar, deve ter refletido de forma estranha.
— Acho que Sasha gosta de você.
Ângela, que ainda estava sentada no sofá olhando para Noah, falou uma palavra que quase o fez rir. Mas mesmo que estivesse errada, parecia firme em suas convicções. E honestamente isso estava prestes a deixá-lo louco.
— É um mal-entendido. — ele sorriu e balançou a cabeça. — Na realidade…
— Oh Deus, Noah. O que aconteceu com seu pescoço? — A nuca que estava escondida por seus longos cabelos parecia estar bem exposta devido ao seu último movimento. Ângela levantou-se do assento e se aproximou dele com os olhos abertos:— Está machucado? Como ficou tão machucado? Aplicou algum remédio? Você não deveria ir ao hospital?
Chocada com os graves hematomas e cortes em sua pele, Ângela estendeu a mão. Mas mesmo que Noah evitasse seu toque, não conseguia parar o olhar que estava absolutamente fixo nele.
Olhou para cima, então levantou a cabeça novamente para encontrá-la:
— Essas marcas de dentes… Talvez… foi Sasha?
Um leve constrangimento surgiu em seu rosto, como se ela tivesse encontrado algo inesperado. Noah cobriu a nuca com a mão e suportou a dor do toque. Em primeiro lugar, deveria tê-lo coberto com gaze antes de descer, mas o problema foi que correu imprudentemente pensando em enfrentar Sasha.
— Parece que foi mordido… Aí está bem? A saliva humana tem muitas bactérias. Se deixar uma mordida como esta, pode se transformar em algo muito perigoso. Certifique-se de tomar remédio e aplicar um antibiótico. E se não se sentir bem, vá para o hospital imediatamente.
Ao contrário das expectativas, ela começou a falar baixinho enquanto examinava a ferida à distância. O que deveria dizer? Sim? Obrigada? Ângela sorriu ao pensar nisso.
— Sasha geralmente é uma pessoa muito legal, deve ter sido o álcool. Veja como te deixou.
— Geralmente hein?
Se Sasha costumava ser legal, quando ele não era? Ela estava se referindo às vezes em que ele estava tão excitado que enlouqueceu? Ele já tinha feito isso com ela também? Noah olhou para Ângela, que conhecia um Sasha que “não era legal”. Ao perceber o olhar, ela deu de ombros e perguntou:
— Disse algo estranho? Na verdade, não sabia que Sasha era assim na cama. Devo dizer que parece muito feroz agora? Isso é completamente diferente de sua aparência habitual, mas gentil. Ele nunca me machucou. Então… o que aconteceu com você?
De repente, a conversa ficou fria. Era estranho ver os mal-entendidos que Ângela estava causando ao redor dos dois, como uma bola de neve que só estava indo ladeira abaixo. Então exclamou:
— Oh, meu Deus.
E cobriu a boca com a mão.
— Não me diga, que não dormiram juntos?
Noah ficou sem palavras por um momento. Sua pergunta muito direta foi embaraçosa, mas foi por causa da confusão que era difícil dar uma resposta exata. Obviamente, tinha experiência em usá-lo como um dildo, mas era difícil dizer que eles já fizeram sexo normal. Para ser preciso, ele apenas emprestou seu pênis, não foi sexo. Claro, não tinha ideia de como Sasha parecia na cama.
— Me desculpe se eu te ofendi. É só que… A atmosfera entre os dois era estranha, e bem, vendo que até deixou uma marca de dente, pensei que voces dois com certeza haviam feito sexo.
Ângela imediatamente se desculpou, mas ainda era difícil de acreditar. Como esperado, inclinou a cabeça e revelou uma curiosidade que não foi embora.
— Então, qual é a relação entre vocês os dois? Não importa como olhe, não parece um pianista que acabou de ser convidado para se apresentar para ele. Sasha e você devem estar confusos com seus sentimentos porque você acabou de dizer que não estão em um relacionamento quando é óbvio que querem muito.
Claramente, ela era muito parecida com Sasha em seu lado descaradamente direto. Ele nunca poderia fazer tal pergunta.
— Isso é o que me deixa curiosa. Diz que não o quer, mas ficaria tudo bem se ele estivesse saindo com outras pessoas?
Não havia nada a dizer sobre isso. Ele poderia fazer o que quisesse já que não tinham nada em primeiro lugar. Mas era um problema se o que ele pensava fosse revelado.
— …Deus. Olha, Sasha e eu nunca namoramos. Eu o conheci através de seu irmão mais velho, agora falecido, Lawrence. E ele era um colega de trabalho meu, então de uma forma ou de outra começamos a nos dar bem. começamos a sair com a premissa de que não teríamos um relacionamento em primeiro lugar porque não havia espaço para isso.
— …
— Na verdade, nós dois achávamos que era chato encontrar outra pessoa toda vez que… ‘Tínhamos vontade’. Então Sasha e eu nos encontrávamos casualmente sempre que precisávamos.
Noah a olhava enquanto ela respondia muito levemente. Na verdade, era verdade que esta era uma pessoa que se parecia com Sasha de muitas maneiras, então obviamente começou a supor que os dois se davam bem o suficiente para fazer isso. De repente, lembrou-se de uma palavra: — Amigos com benefícios. — Sasha disse isso. Ele não era um amante, mas um amigo com quem ela podia conversar casualmente e até mesmo ir para a cama.
— Haha, isso mesmo.
Como Noah murmurou isso involuntariamente, Ângela concordou com a expressão “amigos com benefícios”. Ele não riu porque não era nada engraçado.
— Nós não saíamos, apenas nos víamos quando precisávamos. Não havia nenhuma razão para julgar se a outra pessoa encontrasse um parceiro ou não. É mais divertido assim e não, nunca precisamos rotular nossa relação.
Ângela acrescentou isso imediatamente. Ela parecia traçar uma linha precisa em seu relacionamento com Sasha e ainda assim…
— Ah, sim. Bem, bom. Parabéns.
Noah não tinha energia ou interesse para compartilhar essas histórias inúteis. Para dizer a verdade, não sentia ciúmes, ficava com raiva ou se importava que fossem amigos que se encontravam apenas para foder. Em vez de ficar com ciúmes, estava pensando que realmente era muito melhor brincar com o vibrador que estava em sua casa, como antes. Nem estava interessado nele ou nas pessoas para começar. E bem, estava tudo bem que Sasha pensasse que era melhor ter um parceiro sexual do que ter uma noite com ele. Sim, era perfeito.
Uma maldição subiu de dentro de sua garganta novamente. Não conhecia seus pensamentos íntimos tanto quanto achava que conhecia e parecia piorar quando alguém falava merda com a qual ele nem se importava. Foi então que Noah, sentindo-se de novo com raiva, engoliu a grosseria de nível máximo que subiu até o topo de sua garganta.
— Sasha é muito forte.
Ao contrário de antes, Ângela soltou um suspiro suave e murmurou algo assim. Queria sair da conversa embaraçosa, mas aparentemente ela o pegou novamente.
— Desde o início, sabia que ele não tinha sentimentos por mim. Entendi isso, mas com o passar do tempo… fiquei um pouco gananciosa. Realmente queria levar o relacionamento um pouco mais adiante.
—…
— Mas ele nunca fez. Então tive que desistir.
A expressão em seu rosto enquanto sorria sem jeito e brincava com as mãos era amarga. Agora parecia estar mostrando seus verdadeiros sentimentos, então não sabia o que dizer para Ângela, que gostava de Sasha, que nunca a aceitou.
— Como sabia que não havia ninguém por perto além de mim, havia momentos em que me perguntava se me aceitaria se esperasse com muita paciência. Mas parece que ele nunca foi uma pessoa que se interessasse por mulheres.
—…
— Foi meio que em vão, mas nunca fui de desistir. Embora, mesmo depois de perceber a situação, minha mente não funcionou como eu esperava. Foi difícil não seguir meu coração.
Era uma voz cheia de lamento. Aparentemente, embora ela fosse alegre por fora, era muito triste por dentro. Foi estranhamente difícil encará-la depois disso. Além disso, não importa o quanto pensasse sobre isso, não conseguia entender por que ela estava contando essa história para ele. Foi por causa da maneira como se despediram quando se encontraram pela primeira vez? Ou porque continuou pensando que tinha um relacionamento especial com Sasha? Se fosse esse o caso, então gostaria de abster-se de ouvi-la.
— …Não sei por que você traz isso à tona, honestamente.
No final, sua raiva veio à tona. Ângela olhou para Noah por um momento e depois riu alto.
— É verdade. Por que estou contando essa história para Noah mesmo sendo a primeira vez que nos falamos?— Então balançou a cabeça e acrescentou:— Só pensei que Noah estava com ciúmes.
— … Eu?
— Porque… eu me dou bem com Sasha e outras coisas.
— Nada a ver!!
Ângela acenou com a mão quando Noah negou. Era uma atitude que gritava que estava mentindo, ainda mais porque parecia muito apaixonado.
— Falei com você porque não quero nenhum mal-entendido. É por isso que estou trazendo isso à tona, então, por favor, ouça.
Então ela teimosamente parou Noah ele quando parecia prestes a fugir e continuou:
— Admito que tive sentimentos por Sasha por um tempo. Mas isso foi há muito tempo… Agora os deixei. Faz meses desde a última vez que nos vimos porque estávamos cuidando de nossos próprios assuntos. Vim aqui para trabalhar, mas se não fosse por isso, nem teria ligado para ele.
— Faz realmente um tempo desde que o viu? Ontem os dois não…?
‘Ahh!! Não queria dizer isso’
Sem que soubesse, palavras estúpidas como essa vieram do nada. O que foi aquilo? Noah percebeu seu erro e franziu a testa. Então os olhos de Ângela se arregalaram. Aparentemente, não tinha ideia de que Noah se revelaria assim.
— Ah, você achou que nós…? De jeito nenhum! Saímos tarde, mas foi porque ficamos um pouco bêbados. Não, sinceramente não tenho esse tipo de desejo por ele. Queria beber e é isso. Mas mesmo que Sasha não seja assim, ficou muito estranho.
Ângela explicou isso com um sorriso estranho nos lábios. Noah apenas olhou para ela desesperadamente. Pensou que deveria dizer alguma coisa, mas não conseguia abrir a boca. E agora, ela estava explicando que nada tinha acontecido entre os dois, mesmo quando eles cheiravam um ao outro! Será que entendeu corretamente ou estava ferrando com tudo?
Curiosamente, sua explicação era pouco compreensível apesar de estarem parados frente a frente, falando o mesmo idioma. Sem mencionar que estava sentindo o mesmo perfume que Sasha usava, NELA. Obviamente, isso parecia mais suspeito que qualquer outra coisa. Mas, ela realmente disse que não tinha acontecido nada entre eles? Angela até parecia muito sedutora quando estava ao seu lado, e estava dizendo que Sasha se negou a isso? De forma alguma!
Surgiram inúmeras dúvidas que foram ainda mais intensas que as de antes e ao se dar conta disso, Angela enfatizou repetidamente que nada tinha acontecido.
— Ei, é a verdade. Não aconteceu nada! Sasha… Me tratou como uma mulher menos atrativa que uma pedra. Machuca minha autoestima.
— Mas, o aroma…
De repente, um pensamento que esteve flutuando em sua cabeça filtrou-se como um diálogo externo. Angela riu como se fosse muito engraçado.
— Depois disso, estava tão bêbado que não podia caminhar direito. Não bebemos em casa, e sim em um bar a algumas ruas daqui. Coloquei ele no carro, mas tive que segurá-lo o tempo todo porque sua cabeça não parava de golpear o vidro da janela. E mesmo que eu não estivesse tão mal, tivemos vários problemas para entrar pela porta.
— …
— Com certeza você o viu “bem”, porém, ele estava super bêbado. Depois de um tempo, comecei a me sentir mal também, oh, mas acordei completamente com o som do piano! Noah toca muito bem! Mmmh, lamento ter feito um pedido tão grosseiro nesse momento. Acho que quando me alcoolizo, tenho problemas para formular frases decentes.
Angela se desculpou uma e outra vez. De fato, tudo que aconteceu desta vez foi uma série de surpresas. Desde ir beber imprudentemente, até chegar e começar a agir como um estúpido. Sabia que ele estava bêbado, mas não imaginou que estivesse TÃO bêbado. Sasha parecia perfeitamente bem… Se não o fizesse caminhar.
— Depois disso, minha memória está confusa. Sequer sei como entrei no quarto, desmaiei tão logo toquei a cama e acordei quando o sol estava alto no céu.
— Angela tem que ter cuidado sempre que beber. É perigoso.
— Você está… Irritado?
— Por quê?
Noah simplesmente negou com a cabeça ante sua pergunta preocupada. Era irritante explicar tudo.
— De qualquer forma, não aconteceu nada com Sasha. Assim, que você não precisa se preocupar.
— Quem liga?
Uma vez mais, Noah respondeu com uma expressão muito sincera. Então, Angela encolheu os ombros como se estivesse dando-se por vencida desta vez. Porém, essa aparência era similar à de Sasha, assim que por lógica, Noah franziu o cenho outra vez e se afastou.
— Vamos. Não tenho outra razão para estar aqui. Vim ver o “viciado em trabalho” porque me preocupava se ele teria tirado umas férias depois de tudo que aconteceu. Quer dizer, temia que estivesse fazendo algo ruim…
Realmente era uma mulher que conhecia Sasha bem. Como ela sabia que ele estava fazendo algo ruim pra começo de conversa? Sentiu vontade de dar uma desculpa ou falar de qualquer outra coisa para dar por encerrado o assunto. Mas, ao contrário do que pensava, não pôde abrir a boca.
— Noah sabe de alguma coisa? Sasha realmente ficou em casa escutando piano? É que, isso é estranho. Eu diria que ele não é assim de forma alguma e acho que, a dor dele, não é algo que possa ser removida rapidamente. Na verdade, depois da morte de Lawrence, ele se tornou um pouco mais estranho.
E foi mais ou menos quando Angela disse isso, que a porta de entrada rangeu.
— Gosto de descansar enquanto escuto piano.
Uma voz pesada veio de trás dele, então, sem perceber, seus ombros começaram a ficar terrivelmente rígidos. Não fez nada ruim, mas se sentiu estranhamente culpado. Era por tê-lo entendido mal e o insultado? Quem sabe? Mas foi um sentimento até divertido.
— Enquanto trabalhava, nunca tirei férias… Então, está certo parecer estranho que eu tire um tempo para descansar agora. Porém, mesmo depois de vir até aqui para incomodar, você se dá o luxo de levar cabo uma investigação de antecedentes? Ou o que é isso que você está fazendo? Uma entrevista para a escola?
Sasha perguntou isso friamente, enquanto entrava na sala de estar. Contudo, Angela apenas cumprimentou o homem com um sorriso bonito. Era como se não pudesse sentir o arrepio de ar frio que flutuava ao redor dele.
— Sabe? Parece que você está se tornando boa em dizer bobagens aos meus convidados.
— O que está dizendo? Acha que minhas palavras podem incomodar seu “convidado”? Mas foi você quem mordeu e machucou o pobre Noah. Isso é demais até mesmo para você.
Angela deu esse sermão com veemência, mas não podia se dizer que abandonou sua expressão anterior. Ao que parecia, era muito natural para ela mudar de tema e mandar tudo ao momento exato em que Sasha lhe fez uma grande ferida na nuca. Noah se deu conta do que ela estava tentando fazer, então, rapidamente, levantou a mão e esfregou o pescoço. Não parecia certo que ela colocasse toda a atenção sobre ele de repente.
Diante da repreensão de Angela, Sasha virou e olhou para Noah. Logo, com um grande passo, apressou-se em direção a ele para dizer:
— Afaste suas mãos, deixe-me ver.
Ainda assim, em sua voz não havia nenhum sinal de vergonha ou arrependimento. Tudo que fez foi com uma atitude sincera, como se estivesse fazendo um pedido bastante casual. Isso tornou mais difícil para Noah tirar as mãos dali, porque sentiu como se tivesse perdido dessa vez. Pois observar Sasha, quem pediu para ver sua ferida, o fazia se sentir estranhamente emocionado, contudo, ele pareceu se sentir como sempre. Quer dizer, não parecia grande coisa para esse cara, e seu orgulho foi ferido ao pensar que realmente Sasha só o mordeu por causa do cio.
Ao invés de tirar os dedos que cobriam sua nuca, Noah o encarou. Sua reação obstinada pareceu fazer Sasha se irritar ainda mais.
Em um instante, seus pulsos foram agarrados junto aos seus dedos e, no instante seguinte, suas mãos foram erguidas no ar com uma facilidade que o assustou.
— Ei!!!
— Eu disse, deixe-me ver.
O calor espalhou-se pelo seu rosto. Fez um gesto para tirar a mão de Sasha e até começou a se retorcer, porém, ele agarrou seus pulsos descaradamente e encarou a parte exposta de seu pescoço com muitíssima atenção. Mas sua expressão enquanto observava as cicatrizes, os hematomas avermelhados, marcas roxas e as marcas de dentes, permanecia indiferente.
— Seria melhor passar um pouco de medicamento. — murmurou em voz baixa.
— Claro que ele tem que fazer isso! Como você pode morder alguém assim? Você é um animal?! Se possível, leve-o ao hospital. Ou chame seu médico imediatamente!
Angela voltou a criticar Sasha de onde estava. Noah, que havia esquecido totalmente que ela estava ali, lembrou disso e endureceu a expressão… No entanto, Sasha nem desviou o olhar do seu. Era como se não houvesse escutado as palavras porque nem a respondeu. Apenas disse:
— Siga-me.
E depois, deu a volta e o levou com ele.
Lutou por um segundo, mas não tinha força para resistir ao poder dessa enorme mão. Era como uma vaca conduzida ao matadouro por um capataz que a arrastava. O estalo da língua de Angela foi escutado debilmente vindo de trás deles, mas isso foi tudo.
— Aonde vamos?
Noah foi levado novamente para o segundo andar, contudo, Sasha não abriu a boca todo o tempo em que caminharam por ali. Logo, entrou no quarto que lhe havia dado e o sentou no colchão. Aproximou-se da cômoda e tirou uma pequena caixa de remédios que estava atrás de algumas cuecas.
— Guardo os medicamentos nessa gaveta, então, você pode pegar sempre que precisar. Farei todo o possível para evitar que a ferida aumente.
E como descobriu que o havia levado ao quarto para lhe dizer onde estavam os medicamentos, de repente sentiu uma estranha sensação de decepção. Deixou escapar um largo suspiro e limpou os cantos dos olhos com a palma da mão. Logo, Noah baixou a cabeça e desviou o olhar novamente.
Sasha abriu a caixa de remédios e apertou um vidrinho de anti-inflamatório em uma bola de algodão.
— Farei isso sozinho, então saia.
Sua voz se arrastava devido à falta de energia. Sequer tinha paciência suficiente para suportar a vontade de irritar-se com ele. Ainda assim, quando estendeu a mão trêmula para receber o algodão empapado de medicamento, Sasha a afastou.
— Se incline um pouco.
— Já disse que farei sozinho.
— Quê? Com essas mãos de idoso com Parkinson?
— Ei, idiota! Já pensou que estou passando mal?!
— Então deixa que eu faço. Gira a cabeça.
De verdade estava cansado de discutir. Com o desejo de fazer que tudo acabasse logo, Noah moveu a cabeça docilmente até que o largo cabelo loiro caiu por seus ombros para revelar uma bonita e suave nuca debaixo da brilhante luz do sol. Também era proeminente essa grande ferida que conduzia ao seu braço. As sobrancelhas de Sasha, que examinavam cuidadosamente as marcas que pareciam mordidas de um animal, retornaram e se elevaram. Foi uma mudança que Noah, que estava movendo a cabeça na direção oposta, não pôde notar.
— …
Que um homem com um físico majestoso segurasse uma pequena bola de algodão e aplicasse suavemente o remédio era loucura. Mesmo estando frente ao seu corpo, não podia imaginá-lo. Noah girou levemente a cabeça para espiar: Sasha estava aplicando o medicamento meticulosamente com uma expressão bastante séria. Depois disso, colocou uma gaze em cima e depois, um esparadrapo. Era o tratamento para um paciente gravemente ferido. Simplesmente estava inchado por ter sido mordido e chupado. Tiraria cicatrizado facilmente depois, o que ele estava fazendo era exagerado.
Obviamente, esqueceu de que foi ele mesmo quem foi correndo buscar por isso pra começo de conversa.
— Me diga se sentir algum incômodo ou se tiver febre. Pode ser necessário te levar ao hospital.
— Até parece que fui mordido por um cachorro.
Quando o tom tranquilo e grave soou junto ao seu ouvido, Noah girou a cabeça com a sensação ridícula ante o que havia escutado e soltou essa frase. Entretanto, no momento seguinte, o rosto de Sasha encheu completamente sua visão porque, como um idiota, esqueceu que estava próximo para examinar e cobrir suas feridas.
E para seu azar, ele tinha um rosto bonito. Tanto que não podia tirar sarro dele.
— Sim. Realmente foi um cachorro…
Novamente, surpreendeu-se com seu tom de voz. Era algo que não podia dizer se era uma brincadeira ou uma coisa séria. Era difícil saber se ele estava fazendo pouco de si mesmo ou não, porque estava agindo muito casual frente a Noah.
Ao invés de chamar a atenção de Sasha quanto a isso, Noah traçou seu rosto com os olhos. O olhar de Sasha estava fixo em sua nuca, assim que podia encará-lo com um pouco mais de tranquilidade: Sobrancelhas escuras e olhos profundos, cílios largos e belos, nariz e queixo afilados, lábios carnudos e retos e uma linha de mandíbula realmente atraente.
— Não é justo.
As palavras inconscientes de Noah se dispersaram no silêncio. Então, Sasha levantou os olhos e o encarou até que se encontraram involuntariamente.
— É injusto? O que isso quer dizer com isso?
Sasha perguntou, porém, ele não podia se dar o luxo de responder: “É injusto que você seja inteligente, rico e até bonito!”. “É injusto que eu sinta..”
— Só…
— Só o quê?
— Ângela me contou sobre ontem, assim que, por que não me disse que eu estava errado quando reclamei?
As palavras que saíram de repente eram algo que desejava manter em segredo. Contudo, soltou porque estava evitando responder a pergunta sobre “o que era injusto”. Sasha, que estava encarando Noah em silêncio, levantou o canto do lábio até desenhar um sorriso.
— Por que você se importa tanto se eu me deitei com Ângela na noite passada ou não?
Noah se surpreendeu com a pergunta.
Não era que ele se importasse. Ou era? Então, ele estava irritado? Tão rápido quanto disse que não havia dormido com ela, pediu uma confirmação.
Por quê?
Era estranho, até mesmo ele sabia disso. No momento em que se tornou consciente disso, uma febre terrível subiu por seu rosto o fazendo corar até o lóbulo das orelhas. Noah levantou a mão e tapou a boca. Realmente não tinha nada a dizer. Pareceu estar reagindo exageradamente a todas as bobagens que Sasha fazia ou dizia
— Isso é possível? Eu nunca…
Falou em voz alta para ocultar sua vergonha, mas o tom de sua voz era tão fraco que chegou a pensar que estava doente. Franziu os lábios, como se naquele momento pudesse estar um pouco mais consciente de todos seus sentimentos.
— Sim, não importa. Por isso faço o que quero fazer sem me preocupar com o que você vai dizer.
A voz de Sasha ficou ainda mais baixa. Seu olhar pousou mais uma vez na nuca de Noah e então, começou a acariciá-la lentamente com a ponta dos dedos até que a região arrepiasse, mesmo coberta pelo curativo.
— Isso, digo… de qualquer forma, não sei porque fiz isso. Por que reajo assim quando estou com você?
Suas palavras, como em um pequeno sussurro, não estavam destinadas a ser dirigidas a Noah. Era como se Sasha estivesse perguntando isso a si mesmo. Noah esfregou o canto dos lábios com a palma da mão, virou e o encarou novamente.
“O que você disse?” queria perguntar, contudo, no momento em que viu os olhos escuros perfurarem sua nuca, ficou sem palavras. Uma luz perigosa brilhou sobre as pupilas escuras de Sasha, que estavam dilatadas. Na noite, o reflexo em seus olhos lhe fizeram pensar que era uma pessoa completamente diferente.
— Noah.
— Sasha…
No momento em que seu nome derreteu na ponta de sua língua, Sasha levantou as mãos que estavam vagando no pescoço de Noah. Logo, parou imediatamente, fazendo com que a borda da cama tremesse levemente. Pigarreou e disse:
— Vou te dizer mesmo que já saiba, mas é melhor que você não fale muito com Angela.
A mudança de tema foi tão repentina como levantar-se abruptamente. Até o tom de voz que parecia advertir sobre Ângela fez com que Noah se sentisse um pouco envergonhado.
— Quê!
— Às vezes, quando conversamos, vem à luz coisas que não deveríamos dizer.
Sua voz deslizou quietamente pelo cômodo, então Noah ponderou em silêncio sobre suas palavras e esfregou a testa como se tivesse muitos problemas consigo mesmo.
— Quer dizer que você não confia em mim?
— Não, confio muito em você. Seria mais exato dizer que não confio na Ângela.
O movimento da mão que esfregava sua testa parou de repente. Não podia nem piscar. Sasha e Ângela, mesmo tendo apenas uma relação sexual, se conheciam há muito tempo. Além disso, Ângela disse abertamente que estave apaixonada por ele, mas ele não confiava nela? Foi bastante surpreendente.
— Por quê?
— Ei, Ângela era uma ex-secretária do meu irmão, mas agora é secretária de Caleb. Tem mais, Caleb a queria há muito tempo. Já se passou quase um ano desde que esse bastardo tenaz fez todo o possível para ficar com ela e não faço ideia do que aconteceu entre eles enquanto isso.
Ao invés de responder, Noah se limitou a encará-lo em silêncio. As relações humanas eram mais complexas do que pensava. E obviamente, era muito mais porque o mesmíssimo Noah tinha relações muito mais pobres do que as pessoas comuns.
— Se Ângela me perguntar sobre você, é porque seguramente quer informações sobre seus projetos, é isso que você quer dizer? — pensou e logo perguntou.
— Exatamente. Não sei quão sincera ela é comigo ou o que quer fazer entre nós. Olha, ofereci que ela ficasse com Caleb para que encontrasse informações, mas na verdade… Eu não sinto que ela seja muito honesta.
— Você suspeita que ela seja um agente duplo?
— Não tenho provas… Tampouco dúvidas.
Noah deixou escapar um largo suspiro. Talvez foi por essa razão que Ângela teve uma atitude triunfal ao dizer que tinha algo para dizer a Sasha. E Noah não tinha intenção de se envolver em algo tão complicado como isso.
— Olha, odeio relações tão complicadas. Nem coincide com meu temperamento! Assim que, se vai ser assim, nem pense em me incluir. Só vou te ajudar no que você me pediu e acabou.
Cansado disso, Noah parou a um passo de distância e o olhou fixamente. Por um breve momento, seus olhares se enredaram uma vez mais. Não tinha sentido, era só um gesto casual… Mas pareceu ser difícil afastar-se um do outro. Era uma sensação incômoda e estranha.
— … Você não comeu, certo? Farei… Um café da manhã e um almoço especial para as pessoas que acordam tarde.
Foi Sasha quem virou a cabeça primeiro. Não só isso, como tomou medidas para sair do quarto por completo como se de repente, estivesse ansioso para desaparecer do ambiente. Noah, que o estava observando de longe, negou.
— Não tenho fome.
— Não, acredite em mim, é melhor que você coma bem porque temos muito que fazer de tarde.
Sasha, que falou sobre seu horário com uma voz tranquila e tom baixo, não pareceu diferente do habitual. Era simplesmente um homem sem graça que agia como se nada tivesse acontecido. Como se não lembrasse de nada da briga que tiveram na noite anterior.
— Está bem, posso aceitar que você me pague com comida.
Noah também fingiu não lembrar-se da briga e disse isso com muita arrogância enquanto lhe dava as costas de novo. Sasha assentiu com a cabeça como se soubesse, então girou e saiu do quarto primeiro. A figura que enchia seus olhos desapareceu em um instante e uma quietude silenciosa flutuou sobre o cômodo que estava desabitado.
Havia algo… Só algo que era um pouquinho…
Os sentimentos incômodos e vergonhosos surgiram por um momento, logo desapareceram e ele terminou coçando a bochecha. Então, baixou a mão e acariciou a nuca. O curativo que Sasha colocou cuidadosamente foi tocado por seus dedos uma e outra vez. Nem precisava dizer que a sensação de suas mãos esfregando lentamente sobre a gaze persistia com muitíssima clareza. Foi uma sensação de comichão com um estranho calor.
Noah, que moveu a mão seguindo o sutil formigamento, imediatamente deixou sair um suspiro poderoso que flutuou no ar.
°
Continua….
°
°
Tradução: Fab
Revisão: Rize