Da Terra ao Céu - Capítulo 15
Não disse que a relação entre o ex-presidente e o atual presidente não era boa? Até mesmo Sasha suspeitava que o homem de plantão estava por trás da manipulação do acidente de seu irmão. Então, por quê? Por que tinha deixado que ela trabalhasse para ele? Muitos pensamentos e perguntas se emaranharam em sua cabeça até transformar tudo em um completo caos.
— Na verdade, sou apenas uma de suas muitas secretárias. Inclusive é um trabalho que pode ser considerado temporário. O atual presidente, Caleb, me pediu para ajudar.
Angela explicou brevemente a Noah.
— É só uma desculpa sem sentido. Sabe que Caleb está apaixonado por você há muito tempo. Ele te queria desde o início, por isso aproveitou a primeira oportunidade que teve para o fazer. Além disso, deve ter pensado que poderia obter alguma informação, porque era muito próxima do meu irmão.
— Isso é o que você pensa. Mas eu não estou interessada em um homem divorciado. Além disso, mesmo sendo a secretária de Lawrence, tenho alguma informação para dar a Caleb sobre ele além do bastardo que ele era?
Sasha sentiu vontade de repreendê-la secretamente, mas Angela continuou com o mesmo sorriso de sempre.
— Se você o diz.
Sasha deu de ombros. Assim como ela disse que não estava interessada no atual presidente, Caleb, ele também não parecia interessado em nada do que ela havia dito. Noah, que estava ouvindo silenciosamente a conversa, estalou a língua ao pensar que a atitude do homem era… Completamente suspeita.
— De qualquer forma, eu vim porque estava preocupada já que alguém que nunca fez isso antes de repente tirou férias e ficou em casa. Pensei que algo tinha acontecido com você.
— Você não precisa se preocupar comigo.
— Vai continuar agindo assim comigo? Eu tenho algumas notícias que você certamente gostaria de ouvir, então… você vem?
Como se ela estivesse tirando uma carta da manga, os olhos de Sasha se estreitaram com as palavras que a mulher jogou no ar. E por um breve momento, houve até um silêncio incrivelmente tenso entre os dois. Angela sorriu e esperou pacientemente pela resposta de Sasha, Sasha deu-lhe um olhar penetrante. Como se estivesse tentando ver além de suas entranhas. Então falou:
— Espere. Vamos almoçar primeiro, e depois vamos conversar.
Sasha a informou de seus planos, sem perguntar se ela havia comido ou se gostaria de se juntar a eles. Ângela também não parecia se importar.
— Ok. Então eu estarei esperando por você na sala.
Angela, que estava ciente de que Sasha tinha seu próprio ritmo de fazer as coisas, fez um gesto com a mão e se moveu. No entanto, antes de se virar, disse a Noah: “Se alimente bem”. E mostrou-lhe um pequeno sorriso. Como se estivesse muito familiarizada com a mansão, seus passos, através da espaçosa sala de estar, viajando em diferentes direções, começaram a parecer barulhentos ao passar pelos quartos.
— Vamos comer.
Assim que entraram na cozinha, depois de passar pela espaçosa sala de jantar, Noah sentou-se na mesma mesa onde tinha estado de manhã. Sasha tirou coisas da geladeira e começou a arrumá-las imediatamente. olhou o relógio e notou que já eram 2:24. Era muito tarde para o almoço então, talvez por isso nem sequer tinha perguntado a Angela se ela iria comer. Claro que foi apenas uma suposição.
— Não é uma relação muito estranha?
A voz do Noah misturou-se com os barulhos que Sasha fazia enquanto preparava a comida. Foi uma pergunta que, sem se dar conta, tinha feito enquanto desenhava e escrevia com os dedos igual a se estivesse fazendo rabiscos na superfície da mesa. Estava com o queixo apoiado na mão.
— Eu não sei o que é um relacionamento estranho.
Ele respondeu sem tirar os olhos do fogão.
— Dizer que a conhece simplesmente porque era a secretária de seu irmão me soa como uma mentira. Pareciam muito próximos.
— Talvez.
— Ela era sua namorada?
Ele perguntou no passado porque Ângela disse achar que ele era seu namorado. Embora ela pudesse ser sua namorada atual e apenas tivesse uma mente aberta ou alguma coisa ridícula que nem sequer estava processando bem.
— Eu não sei exatamente o que você quer dizer com, namorada.
No entanto, a resposta de Sasha, que se seguiu ao seu silêncio, foi completamente absurda. Os movimentos de Noah pararam enquanto ele escrevia rabiscos invisíveis com as pontas dos dedos sobre a toalha da mesa.
— Quer dizer que você não sabe o que é uma namorada? Ou é difícil dizer que Ângela era sua namorada?
Não estava brincando, ele parecia muito sério. Sasha inclinou a cabeça, fingindo pensar em sua resposta por um momento.
— Não sei se posso chamar de namorada uma pessoa que encontrei de vez em quando para comer, ver um filme e conversar.
— Parece que tiveram encontros.
— Poderia chamar isso de um encontro.
— Então vocês planejavam se encontra
Noah franziu a testa, batendo na mesa. Mas não sabia por que estava fazendo uma pergunta dessas! Na verdade, ele estava apenas curioso sobre a estranha corrente de ar que flui entre Angela e Sasha. Ela não era apenas uma colega da empresa, mas ficou claro que eles vinham de um relacionamento em que havia algum tipo de troca afetiva. Seja no passado ou no presente, havia emoções sutis penetrando em seus poros, não importa o quanto fingissem não estar interessados. Estava claro o suficiente para que mesmo um iniciante como ele pudesse entender.
— Não tínhamos planos de ‘nos encontrar’.
— Foi porque soa a flerte!
Ele gritou: Por que ficou tão irritado falando sobre isso? Havia uma sensação estranha que era nova para ele assim que Sasha, talvez notando isso, silenciosamente levantou os cantos de seus lábios e riu. Então fez a salada…
Era óbvio que ele estava evitando a resposta.
—… Vocês dormiram juntos?
Ele perguntou diretamente. Era algo descarado e não havia saída.
Então Sasha ergueu os olhos e olhou para Noah. Eram pupilas escuras que não podia decifrar e que pareciam tão frias que até fizeram suas costas congelarem do nada. No entanto, Noah não o evitou, em vez disso, o confrontou corajosamente. Pareciam estar tendo uma briga infantil. Depois de um tempo, Sasha riu novamente:
— Provavelmente fizemos. Um homem e uma mulher que se conhecem há muito tempo, que comem e assistem a um filme juntos, eventualmente pensam em escalar.
— Então você provavelmente passou mais tempo fazendo sexo do que comendo e assistindo filmes.
— Você me conhece terrivelmente mal se acha que sou tão sexual assim.
— Isso é o que pareceu.
Podia ser um assunto desagradável, mas Sasha sorriu enquanto fechava os olhos porque achou tudo muito engraçado. Então, rapidamente, terminou de preparar o almoço e colocou-o na frente de Noah: era uma torrada coberta com uma salada e um ovo meio cozido. Na salada, tinha vários pedaços de nozes e amendoins picados, parecia estar um pouco agridoce. Talvez Sasha tivesse isso como hobby, mas estava cozinhando bem o suficiente para abrir um restaurante. Tinha um aspecto bom. De desenvolvedor de programas de combate e mísseis a chefe.
Mas não conseguia comer.
Sasha, sentado à sua frente, abrindo um ovo meio cozido com um garfo, tinha uma expressão que não mostrava se a comida era saborosa ou não. Então, sentindo o olhar de Noah, ergueu os olhos e olhou para ele também:
— O que há de errado? Você gostaria de fazer outra pergunta?
— Não tenho perguntas porque não são necessárias quando algo é muito óbvio. Qualquer um que olhe para ela vai perceber que ela está muito interessada em você.
— Sim. Mas pensei que você estivesse curioso sobre minha vida sexual.
Noah tossiu. Seu ato de cuspir sons sem sentido foi um tanto aterrorizante.
— Quem iria querer saber alguma coisa sobre sua vida sexual nojenta!?
Estava tão envergonhado que sua voz se elevou.
— Bem, você. Porque acabou de dizer que eu provavelmente passei mais tempo fazendo sexo do que comendo e assistindo filmes, e antes disso, você perguntou muito diretamente se eu dormi com Angela.
— Essa foi uma pergunta que fiz… para o trabalho que vou fazer. Eu estava curioso para saber qual era a sua relação com Ângela porque é estranho que ela seja a ex-secretária do seu irmão e a atual secretária do presidente que você tanto odeia. Me entende?
Ao responder, movendo o garfo, deu de ombros e desviou o olhar. Tinha ficado louco. Tinha perdido completamente a cabeça! Qualquer um que o ouvisse pensaria que ele era um perseguidor que estava muito interessado no homem e queria saber tudo sobre sua vida sexual. Quanto mais pensava nisso, mais vermelho ficava.
— Eu não estou curioso sobre sua vida sexual, então por que você não cala a boca e come?
— De qualquer forma, vou te dizer.
— Não brinque mais.
— Eu nunca disse que era uma brincadeira.
Noah pegou o pão tostado. O jeito que Sasha estava olhando para ele tão sério era muito estranho e, além disso, a atmosfera ao redor dos dois começou a se tornar embaraçosa.
— Vou ser honesto. Estou muito curioso sobre sua vida sexual.
Então cuspiu algo que foi realmente inacreditável. A boca de Noah caiu aberta.
— Você está louco? Por que está curioso sobre a vida sexual de outra pessoa?
— Porque você é o tipo de cara que pode prender alguém apenas para pegar emprestado seu pau como um vibrador. Eu não posso deixar de me perguntar que tipo de pessoas você conheceu desde nosso encontro e com quem já fez sexo. Inclusive se você é o melhor ômega, seu gosto por homens não parece ser direcionado aos melhores alfas.
Seu olhar, trazendo à tona o passado, era afiado. Noah olhou para Sasha com olhos penetrantes e puxou os cantos da boca com força para sorrir.
— Você nunca saberá que tipo de pessoas eu conheci ou se fiz sexo com eles. Por outro lado, meus gostos não vão na direção de homens que têm medo de usar a palavra ‘namorada’.
— É difícil usar a palavra namorada porque não combina comigo.
— Por quê? Você teve outros parceiros sexuais além de Ângela?
Estava discutindo sentado à mesa. Se ficasse com raiva enquanto comia, não seria capaz de digerir, mas se continuasse olhando para aquele homem, ficaria tão irritado que não poderia evitar a situação! Além disso, a razão pela qual estava tão sensível era por causa daquele maldito rosto.
— Acho que seria mais correto dizer ‘amigos com benefício’ em vez de parceiros sexuais
— Ter um amigo com benefícios ou um parceiro sexual é a mesma coisa!
Sasha deu de ombros para os gritos de Noah. Ele não parecia ter qualquer intenção de corrigi-lo.
— Bem, mas eu tenho que dizer uma coisa. É minha opinião subjetiva e acho que tenho o direito de fazer. Olha, somos adultos e podemos ter qualquer relacionamento que quisermos. Como você disse, pode ser um relacionamento sexual. parceiro, um amigo com benefícios ou apenas alguém com quem saio. Não importa como você o chame. Mas pelos meus padrões, uma namorada não significa apenas isso. Não quero nomear descuidadamente se meu coração não sente nada.
— Eu entendo.
— Ainda assim, acho que ela é melhor do que um Ômega apontando uma arma para um homem que viu pela primeira vez e até mesmo forçando-o a puxar o pau para fora.
Parecia que muitos sentimentos hostis haviam se acumulado dentro dele até que finalmente conseguiu explodir. Noah se sentiu tão zangado que nem conseguiu responder a isso. Então, com um “tintilhar”, Sasha, que largou o garfo, continuou falando em voz mais baixa.
— Estou chateado também. Você não é do tipo que fica agarrando as pessoas e usando-as como um vibrador toda vez que chega o seu cio?
—… O que você está dizendo?
— Certamente passa todas as noites com alguém que você não conhece. Especialmente, se seu cio vem todo o tempo. É engraçado que alguém como você, que age de maneira tão casual, pense que tem o direito de reclamar.
A expressão em seu rosto era incrivelmente fria… Mas o calor estava fervendo dentro dele. Isso foi há três anos, obviamente ele podia ter entendido mal. Mas não havia razão para explicar isso.
— Você está cruzando a linha. Comece a ser cuidadoso com suas palavras, doutor.
Não conseguiu nem terminar a metade da torrada, que tinha um gosto bom, porque estava começando a ficar realmente irritado. Noah empurrou o prato de comida para a frente, depois largou o garfo.
— Você começou.
Sasha suspirou enquanto olhava para o prato.
— Não, eu não comecei. Do que você está falando? Por um acaso me viu agarrar alguém além de você daquela vez?
—…
— Mesmo que eu tenha te usado como dildo, não sou assim. Não importa quantas vezes eu tenha feito isso com você, o que isso tem a ver para que me diga algo tão horrível? Eu tenho lidado com isso por conta própria desde muito antes de te conhecer, eu nunca precisei de um fodido parceiro sexual. Foi diferente, porque foi com você.
Noah, que jogou os talheres para machucá-lo, levantou-se de forma muito agressiva. A cadeira deslizou para trás fazendo um barulho alto no chão.
— Noah, sente-se.
Ao mesmo tempo, a voz fria de Sasha chegou aos seus ouvidos. Parecia que uma brisa tinha soprado de um freezer.
— E se eu não me sentar?
— Noah!
Foi quando ele chamou seu nome em tom ameaçador que “Pam!” A cadeira em que Noah estava sentado rolou pelo chão até colidir com a mesa. Foi o resultado de chutá-la o mais forte que podia.
— Me chame assim mais uma vez… E eu prometo que vou colocar uma faca no seu olho.
Com cada palavra que pronunciava, seu rancor parecia se espalhar até gotejar pela madeira. Sasha fechou a boca. A linha do maxilar dele foi destacada pela força com que mordeu os dentes e sim, podia dizer que era uma expressão de raiva bastante considerável. No entanto, ele apenas olhou diretamente para Noah, que tinha as pupilas escurecidas, e suspirou uma segunda vez.
— Sim, corra! Vá nesse encontro com aquela… amante, parceira sexual ou amiga com benefícios sua!
Ele arrastou os sapatos pela cozinha para fazer um rangido muito alto. Sasha não chamou Noah mais nenhuma vez.
***
— Sim… estou indo muito bem. Sim, eu te ligo de novo amanhã. Dê um beijo nas crianças por mim. Estarei de volta em breve, eu prometo.
O Noah desligou o telefone depois de se despedir com a voz mais animada possível. Afinal, tinha prometido contactar o Isaac todos os dias para evitar que ele viesse atrás dele e destruísse a casa.
Mas depois de trocar saudações amorosas e desligar o telefone, houve o silêncio mais incrível de toda a sua vida. Sua voz e expressão, que foi forçada a mudar para tranquilizar Isaac, já haviam caído. Em seu lugar havia apenas fadiga e um rosto terrivelmente áspero.
Enxugou as bochechas com as palmas das mãos e estalou a língua. Então disse: — Droga.
Mas mesmo assim, durante a conversa telefónica com o Isaac, não se atreveu a pedir-lhe que viesse buscá-lo. Realmente não sabia por que era tão difícil pronunciar as palavras que tinham subido a sua garganta tantas vezes, além disso, quanto mais pensava, mais lhe parecia algo estúpido. Por que estava hospedado lá em primeiro lugar depois de ouvir tudo aquilo…?
— Esfrie sua cabeça, esfrie sua cabeça.
Bagunçou o cabelo, mexeu os dedos, gemeu, deu um tapa no rosto e depois se deitou em um colchão que não tinha sido coberto. Ele estava olhando para o teto sem entender nada do que havia acontecido.
Logo, quando o sol estava se pondo, o quarto em que Noah estava deitado começou a ficar laranja como se para avisá-lo de que logo seria noite. Mas ele nem sequer podia dizer que queria fazer algo a respeito. O tempo passou devagar desde que teve aquela discussão com Sasha. Também foi consideravelmente mais deprimente do que em qualquer outra ocasião.
As cortinas brancas, penduradas na janela, balançavam para frente e para trás com a brisa. Lá fora, podia ouvir o chilrear ocasional de pássaros e insetos, podia se dizer que em qualquer outro momento, isso teria parecido uma coisa muito calma e pacífica para desfrutar.
— Isso é ruim…
Seja porque a tensão tenha sido eliminada do seu corpo depois de algumas horas, porque estava chorando ou porque estava imerso em uma atmosfera relaxante, suas pálpebras começaram a cair como se já não pudesse suportar tanto peso. Não só isso, também estava muito dolorido e fraco. Ele tinha acordado pela manhã e ficado em alerta máximo durante todo o bendito dia. Estava tão, tão exausto que sentiu como se não pudesse respirar.
Noah, que estava olhando para o movimento das cortinas, finalmente adormeceu.
***
Quando abriu os olhos novamente, tudo estava completamente escuro. Foi ainda pior do que da última vez porque as luzes do quarto não estavam acesas. A cortina, que havia sido tingida com a luz do entardecer alguns momentos atrás, agora estava completamente manchada de preto, e apenas a luz que entrava pela janela refletia suavemente nos pequenos enfeites na mesa de cabeceira. Até a visão noturna da paisagem podia ser vista através do vidro.
Noah ainda não tinha acordado completamente, então piscou e olhou para fora sem saber exatamente quanto tempo havia dormindo. Aparentemente, estava acordando em uma hora bastante estranha pela manhã nos últimos dias. Talvez por isso, mesmo depois de dormir durante muito tempo, não se sentia revigorado e sua cabeça latejava com tanta força.
E enquanto continuava com seus pensamentos, levantou-se de seu lugar e olhou o relógio: Era 1:37 am. Estava dormindo há bastante tempo. Nem sequer foi um cochilo, era quase como se tivesse estado morto toda a noite. Na verdade, ele nem se lembrava da última vez que dormiu assim.
Depois de um pequeno suspiro, se forçou a andar. Havia dormido com a janela aberta, então era normal que seu corpo estivesse frio. Ele foi direto para o chuveiro e tomou um banho com muita água morna. Já eram 2 horas da manhã e ele estava muito ativo em procurar algumas roupas bonitas que pudesse usar. Embora não tenha ido para o exterior, e sim para outro estado, suas horas de sono e vigília eram realmente confusas.
Depois de secar o cabelo molhado e se trocar, ele saiu pela porta. O corredor estava escuro e muito silencioso. Deu uma olhada no quarto de Sasha, mas nenhuma luz foi filtrada através da fresta. O escritório estava vazio e os outros cômodos estavam tão silenciosos como se estivesse morando em um lugar abandonado. Era tarde, então talvez o homem já estivesse dormindo. Ou talvez tenha saído com Ângela.
— Os convidados VIP são deixados sozinhos como idiotas.
Então Noah desceu para o primeiro andar.
Depois de acordar e terminar o banho, ele finalmente começou a sentir muita fome. Estava faminto há quase doze horas, então atravessou a sala pensando que deveria ir até a cozinha e encontrar algo para se servir.
Mas ao passar pela espaçosa sala de estar e pelo corredor que levava à cozinha, não encontrou sinal de Sasha. E sim, teve que admitir que, ao se dar conta que estava sozinho em um lugar desolado e desconhecido, se sentiu um pouco… Como uma criança abandonada. Talvez fosse depressão, mas até a fome extrema desapareceu de repente. Não queria entrar na cozinha de outra pessoa. E não queria comer sem ele… Não havia nada que pudesse fazer sem Sasha. Não sabia como expressar esse sentimento. Como chamar essa coisa que o faz se sentir um ser humano tão fraco? Ele deu de ombros e, finalmente, depois de um longo suspiro, deu um passo pesado para o corredor e parou:
Havia uma grande porta dupla.
Era a mesma porta que abriu da última vez, quase na mesma hora. Quando se aproximou e estendeu a mão, uma pequena sala apareceu e o piano de cauda Steinway estava firmemente iluminado por uma luz suave. A verdade é que o havia conseguido como parte de uma “recompensa divertida” que, segundo ele, era uma condição para aceitar o trabalho. Era basicamente dele.
Noah aproximou-se do piano sem hesitar. Ao contrário da última vez, ele se sentou de frente, abriu a caixa e apertou as teclas até que um som poderoso ressoou do nada…
Noah riu amargamente ao som refrescante que parecia começar a confortá-lo. Aparentemente, o hábito de correr para frente do piano sempre que sua cabeça se complicava era algo que perduraria até o dia de sua morte.
Além disso, ao contrário da mansão de Félix, onde utilizava um piano elétrico em um estúdio fechado, aqui parecia ter um pouco mais de liberdade de movimentos…
Esfregou as mãos algumas vezes, depois as passou levemente pelas teclas do piano. Não era exatamente uma música, era apenas um movimento para soltar os dedos. Algo para relaxar os músculos ao se mover de um lado para o outro.
Em geral, ele gostava muito do som do piano quando enchia a sala. Quanto mais movia os dedos, a sensação de ser uma criança abandonada e a tristeza inadequada que a briga havia deixado nele, desaparecia muito lentamente…
Noah, que tocava as teclas do piano há algum tempo, finalmente colocou os pés nos pedais e deixou cair as mãos. Era leve como uma pena e, da mesma forma, uma música suave e pacífica fluía ao longo de seus longos dedos. Era uma música emotiva e bonita, adequada para o nascer do sol. As pontas dos dedos, batendo suave e ternamente nas teclas do piano, pareciam acariciar seus entes queridos.
E assim seu próprio concerto foi realizado no salão.
Sentiu como se o sonho pelo qual ansiava, mas no final não conseguiu realizar, o sonho que fingia não ver, tivesse se materializado naquele momento. Noah continuou tocando, imerso no delicado som do piano. A música começou suave e foi crescendo lentamente. A melodia, que gradualmente ganhou velocidade, subia e descia como uma montanha-russa para revelar as emoções intensas e ardentes dentro dela. No entanto, os sentimentos que chegaram ao clímax rapidamente, se acalmaram em um segundo, terminaram tão suaves e ternos quanto no início.
Foi o fim da música, cerca de 4 minutos e 30 segundos depois de começar. Noah prendeu a respiração enquanto levantava a mão ligeiramente acima do teclado, deixando várias emoções subirem e descerem repetidamente. Mas de repente, ouviu aplausos fracos atrás dele. Noah despertou do sonho e levantou a cabeça:
— Ouvi dizer que você era um pianista incrível, mas eu estava cética. Uau! Você é maravilhoso.
Foi Angela quem bateu palmas, mostrando os olhos cheios de admiração bastante honesta. A aparição inesperada da platéia enrijeceu seus ombros e, virando mecanicamente a cabeça, viu a mulher sorrindo com uma expressão estonteante no rosto. Sasha, que estava atrás dela como um sargento, também parecia um pouco surpreso. No entanto, ao contrário de Angela, seu humor era mais do que terrível. Ele parecia um ser sombrio que também tinha uma expressão que gritava “morte” no rosto, como de costume. Contudo, de alguma forma, parecia estar bastante zangado com ele.
Após a discussão no almoço, seus sentimentos ainda pareciam não terem sido totalmente resolvidos. Noah franziu a testa.
— Como você pode tocar com tanta delicadeza? Foi uma música realmente charmosa, havia muito sentimento dentro dela.
Ângela não parou de cantar seus elogios. Ainda assim, Noah não pôde estar feliz com isso. Não conseguiu sequer agradecer a ela. Na verdade, nem conseguiu ouvir os elogios dela porque não estava tocando para mulher. Não tinha intenção de fazer isso para ninguém. Especialmente para Ângela e Sasha.
— É “Sonho de amor”.
Enquanto mantinha a boca fechada, Sasha explicou o que ele havia interpretado…
— Sonho de Amor?
— Liebestraum número 3. Por Liszt. O título original é “Ame o máximo que puder”.
Noah olhou para ele enquanto dizia o título corretamente. Como se fosse um especialista em música clássica. Ele se perguntou como o homem pôde dizer os títulos das músicas sem errar toda vez que ele tocava piano. Coincidentemente, até parecia que estava escolhendo as músicas que Sasha conhecia. Embora pudesse ser apenas porque eram músicas famosas.
— Você tem uma boa memória.
Sua voz estava extremamente seca. Ao lado dele, Ângela riu:
— Sim, ele tem uma memória muito boa. Quando se escuta uma música, é difícil lembrar o compositor e o título, mesmo que esteja acostumado com isso. Mas essa pessoa memoriza tudo uma vez que escuta. Bem, não é apenas sobre uma música, se trata de tudo!
Com a explicação de Angela, Noah olhou para Sasha com novos olhos. Afinal, ele era inteligente, então deve ter tido uma educação e uma carreira incríveis, mesmo sendo tão jovem. Mas mesmo sabendo o título da música ou não, um sentimento desagradável permaneceu dentro dele. Os dois invadiram seu espaço sem permissão. Roubaram uma performance que era dele e até entraram na sala sem a menor cerimônia. Mesmo que este lugar estivesse dentro da mansão de Sasha, foi terrível. Além disso, a aparição dos dois, o fez adivinhar perfeitamente o que eles estavam fazendo até aquele momento, ele sentiu uma sensação muito desagradável de um vulcão em erupção em seu peito: Angela tinha tirado quase toda a maquiagem. O casaco de Sasha estava envolta dos seus ombros e seu cabelo penteado estava bagunçado. Sentiu como se quisesse dar um tiro na cara dele. E não apenas uma vez, muitas, milhares de centenas de vezes.
— Achei que estivesse dormindo porque já é tarde, mas fiquei surpreso ao ouvir o piano. Pensei que poderia haver um fantasma na casa. — Ângela disse isso com um sorriso. — Você poderia tocar mais uma música?
Ela era tão atrevida quanto Sasha. Maldita. Noah ficou muito bravo ao ouvi-la pedir algo assim.
— Angela.
Sasha imediatamente franziu a testa e a repreendeu. Ainda assim, ela estava apenas olhando para Noah com um olhar marcado de antecipação. Era um olhar que dizia “Deixe-me ouvir mais”. Noah a observou em silêncio, então pegou o piano e fechou a tampa. “Pam!” Foi muito agressivo, tanto que até achou que tinha deixado uma marca na pintura. Era um piano caro, mas que diferença fazia?
— Estou cansado.
— Oh, eu não percebi. Desculpe.
Ângela esfregou as bochechas que ficaram vermelhas de vergonha. Talvez fosse raro alguém rejeitar seus pedidos dessa maneira. Independentemente disso, Noah se levantou e caminhou pelo corredor. Claro que havia um problema com isso, o fato era ele tinha que passar pelas duas pessoas na porta para chegar ao seu quarto. Não podia evitar porque ele realmente queria sair de lá imediatamente.
— Ei, podemos conversar?
Mas nada saiu como esperado.
Assim que estava prestes a passar por eles, uma mão enorme agarrou seu braço para detê-lo, parando-o em seu caminho. Embora ele tenha mostrado total desgosto diante disso, Sasha fingiu não notar e deu força ao seu aperto.
— Angela, pode ir primeiro.
Ele então falou com Angela como se estivesse dando-lhe uma ordem.
— Tudo bem, mas é tarde. Não fique segurando Noah por muito tempo.
Ela sorriu ao se virar. Era impossível não sentir o cheiro de álcool misturado com perfume que emanava dele. E foi nesse momento que lhe passou pela cabeça o pensamento de que talvez fosse por causa da cerveja que ela se tornara tão desinibida.
— Eu vou primeiro. Durma bem, Noah.
Ângela o cumprimentou com grande gentileza e um sorriso no rosto. Quando se virou, descobriu que Sasha estava tão perdido que nem parecia saber por que estava segurando Noah. Ele tinha um forte cheiro de álcool vindo de suas roupas e ainda assim andava reto e sem cambalear nem uma só vez.
Sasha, que viu Angela desaparecer no corredor, arrastou Noah de volta para a sala. Tampouco se esquecera de fechar a porta atrás de si. Foi um trabalho incrível para um bêbado.
— Já passa das três da manhã, homem. Você não está cansado?
— De jeito nenhum.
— Você está em ótima forma. Eu com certeza ficaria muito cansado depois de uma tarde falando bobagem. — Seus olhos se estreitaram de forma um tanto sarcástica. Noah fez o mesmo:
— Eu estou cansado. Se você tem algo a dizer, faça amanhã.
Quando Noah percebeu que ele ainda estava segurando seu braço, sacudiu a mão de Sasha o mais forte que pôde. Mas ainda que tenha saído facilmente do aperto, assim que Sasha o soltou, a pele que o homem segurava começou a formigar de maneira um tanto estranha.
— Por que você não está dormindo? O que está fazendo no piano a essa hora?
— Se você tem algo a dizer, faça amanhã. Isso é tudo que vou dizer.
— É só… Parece uma hora estranha para mim.
— Você não disse que eu poderia tocar quando quisesse?
Sasha não respondeu. Em vez disso, ele espalhou o cabelo ondulado com a mão para torná-lo ainda mais bagunçado do que já estava. Então, uma expressão desconhecida apareceu em seu rosto que sempre tinha um sorriso seco e, no final, também um suspiro. Não conseguia entender o que o estava deixando tão frustrado. Ou foi só porque ele começou a tocar piano de madrugada? Não parecia ser o caso.
— Tocar piano é a ‘recompensa’ que você concordou em me dar. Esqueceu?
— De maneira nenhuma.
— Então não interrompa meu momento. É meu. Não importa quanto espaço haja em sua mansão, você não deve me incomodar. Esse momento é totalmente meu.
Enquanto Noah falava, Sasha voltou a fechar a boca. Não houve objeções, nem sarcasmo, nem provocações. Ele apenas ficou ali quieto e olhou para Noah:
— Então, por favor, não entre sem minha permissão no futuro. Se fechou um contrato comigo, terá que cumpri-lo perfeitamente. — Noah pressionou o dedo indicador contra o peito, avisando-o. O olhar de Sasha, olhando-o de cima a baixo, se coloriu profundamente em um instante, pareceu um tanto confuso. Talvez porque estivesse prestes a dizer algo sobre isso. A verdade é que, desde o momento em que se conheceram, ele ficou rígido como uma pessoa eternamente zangada com a vida… Nunca pensou que ele pudesse mostrar mais do que isso em tão poucos segundos. — Se você não gosta dos meus termos, me diga agora. Para sair desta maldita casa amanhã.
Dessa forma, seus planos de contratar Noah para hackear seriam afetados, então não teria outra escolha a não ser se tornar “doce” sabendo que dessa forma o convenceria.
— Sim, você está certo. Este foi definitivamente um erro da minha parte.
Mas ao contrário do que esperava, Sasha humildemente acenou com a cabeça reconhecendo suas ações. De alguma forma, isso o fez sentir como se estivesse sufocando, foi muito pior do que se o homem tivesse continuado a agir como um idiota na frente dele.
—…Tudo bem. Então eu já vou, estou cansado.
Perdeu a energia tão rápido quanto havia chegado, depois disso, inclusive o pensamento de querer sair para descansar tornou-se desesperadamente intenso. Dormir e acordar seis ou oito horas depois era inútil se ainda estava se sentindo tão cansado, pensou que só queria ficar na cama para sempre e não pensar em mais nada.
—…Você jantou?
Mas quando chegou a hora de passar por Sasha, o homem novamente fez uma pergunta que parecia completamente aleatória. Aparentemente, ele estava tão bêbado que até parecia ter esquecido que o encontrou tocando piano do nada em uma hora terrível. Além disso, não era uma pergunta meio estúpida para alguém como ele?
— São três da manhã. Não seria melhor perguntar se eu gostaria de tomar café da manhã ao invés do jantar?
Noah apontou para o relógio em uma das paredes mostrando a hora.
— Então você quer tomar o café da manhã?
Mas esse louco parecia não entender sarcasmo.
— Eu não quero comer! Seu desgraçado filho da puta, o que há de errado com você? Você gritou coisas horríveis para mim e…! De repente só se importa com comida? Você bate bem do juízo?
Era uma merda que tenha feito perguntas inúteis. Noah deliberadamente empurrou seu ombro e se virou tentando sair de lá novamente. Porém, antes que pudesse dar outro passo, Sasha agarrou o braço de Noah mais uma vez e disse:
— Não, espere… Você não comeu nada ainda. Não está se sentindo mal?
— Há, o Dr. Lambert está preocupado se eu comi ou não? Disse que eu era um convidado especial, que você precisava de mim, que queria estar comigo, e então você vai e me deixa sozinho enquanto namora uma mulher! Então por quê? O quê? Por que você está fingindo estar preocupado agora? Se estivesse, não esperaria até agora para vir até mim.
Foi realmente estúpido que às 3 da manhã, o homem que o trouxe para a mansão, aquele que estava se divertindo com uma garota, entrasse apenas para perguntar sobre seu estômago. Mesmo sabendo que tinha um cérebro tão pequeno quanto uma rocha, ainda havia momentos em que não conseguia entendê-lo.
— Me siga.
Sasha arrastou Noah para fora do corredor. Realmente queria cozinhar alguma coisa para ele?
— Você passou fome o dia todo, eu não entendo como você teve forças para tocar piano agora.
— Ei, isso foi uma piada sobre você me matar de fome, ok? Sério, pare com isso. Por que você está tão obcecado por a comida? Droga!
Qualquer um que o ouvisse poderia entender que soava como um maldito exagero.
— Temos muito trabalho a fazer amanhã. E se você desmaiar, serei eu quem vai ter problemas mais tarde. Você deve comer bem e descansar bem também.
— Uh-huh, você está com medo que eu caia e prejudique o seu negócio?
— Sim.
Então é isso. Ele sempre dizia palavras tão desnecessárias que nem valia mais a pena ficar com raiva.
— Por que não deixamos isso de lado? Eu realmente não preciso de nada assim agora.
Agitou o braço que o segurava com força e olhou para ele como se dissesse “Solte-me agora!” Então Sasha se virou, olhou em seus olhos… E logo fez o mesmo com o braço que segurava.
— Por que você diz isso? Não quer que eu te abrace como da última vez?
—…Não! Sabe o quão ruim você cheira? Você tem… tem o perfume da Ângela em cima de você e também cheira a álcool. Minha cabeça dói, está bem? Minha condição já é ruim e eu não vou conseguir suportar isso agora. O que vou fazer se você ficar tonto e desmaiar? E se eu desmaiar também? Você não está preocupado que eu desmaie e não consiga trabalhar por sua causa? Sério, vá embora.
Ele já estava com muita raiva, então agitou o braço como se estivesse enxotando um mosquito. Ainda assim, Sasha não soltou sua mão. O homem parecia ter medo de que, uma vez que o deixasse ir, como queria, ele desaparecesse…
— Eu não vou a lugar nenhum, idiota! Então pare de fazer isso já! Você vai me machucar!
Era realmente doloroso que o tratasse assim quando ele estava tão infinitamente fraco. Era evidente que sua pele terminaria cheia de hematomas e dolorida. Como ele podia segurá-lo com tanta ignorância?
— Está bem…
Sasha imediatamente levantou a mão. Parecia que ele não sabia o quão forte realmente o segurou.
Depois de ser liberado, Noah rapidamente se virou para deixar claro um último aviso: — Se você não quer que eu vá, dê três passos para longe de mim. Nós vamos para a cozinha em silêncio e muito, muito longe um do outro.
Sasha realmente não tinha uma resposta para isso, mas Noah já estava andando sem hesitação. Na verdade, ele até parecia estar correndo…
— Então você deveria usar seus feromônios em mim.
Um tom baixo e grave ecoou pelo corredor e pousou em suas costas o fazendo estremecer.
— O que?
Noah parou e se virou.
— Porque… eu lembro que seu cheiro não era nada ruim. Não seria bom se… Em vez de cheirar como ela eu cheirasse como você? Se não gosta disso, tente me encher de você. — Sasha falou provocativamente… Então olhou diretamente para Noah e continuou: — Além disso… E se esse fosse o meu plano desde o início? E se eu… só quisesse te ver, por causa do que aconteceu há três anos?
Foi uma pergunta bastante séria, mas Sasha só podia olhar para ele como se tudo dentro de sua cabeça tivesse começado a girar.
E isso o irritava de uma forma impressionante.
— Estás bêbado.
— Foi você quem disse que não gostou do cheiro. Só estou pensando em alternativas para te fazer feliz.
— Alternativas? Você acabou de dizer alternativas? Sabe que os feromônios não são um perfume?
— Eu sei… Mas eu sou um Beta. Você pode usar dessa maneira comigo.
A razão pela qual não disse nada foi porque nunca pensou que uma pessoa diria isso ou trataria seu feromônio como um perfume. Quer dizer, ele nunca quis se tornar um Omega dominante. Não nasceu assim porque quis. Era perigoso porque seu próprio cheiro enlouquecia facilmente uma pessoa normal. Aquele que estava ao seu lado, aquele que era seu amigo, aquele que deveria protegê-lo, a pessoa a quem ele havia dado seu coração, todos se transformaram em feras por causa dele. Por isso, a qualquer hora e lugar, para que o feromônio não saísse dele, sempre o escondia.
Os feromônios eram um problema terrível desde que conseguia se lembrar. Pelo menos para ele. Um aborrecimento que tornava impossível até mesmo que fosse livre. Era um mal que não queria, mas obteve… E aquele cara estava dizendo que era um perfume como se ele tivesse que agradecer por isso. Ele entendia o que estava dizendo? Não pôde deixar de sentir sua febre apenas começando a subir.
Noah se aproximou de Sasha, que estava falando bobagem, com um rosto terrivelmente sério. E no momento em que agarrou seu queixo para dar uma olhada melhor, soltou seus feromônios nele sem lhe dar a oportunidade de se preparar. Era um aroma espesso que derramou agressivamente da cabeça aos pés do homem:
— Você quer babar por mim e rastejar como um cachorro no cio? Você queria algo assim desde o início?
Olhou para Sasha com olhos bastante intensos e então derramou um feromônio muito mais poderoso do que antes. Claro, sua testa se torceu de repente e em um instante, o cheiro que começou a encher o corredor quase parecia sufocá-lo. Era como se o ar se movesse ao seu redor, como se tivesse uma névoa. Se ele fosse um Ômega ou Alfa normal, provavelmente teria desmaiado depois de uma convulsão. Poderia ter enlouquecido ou se arranhado até sangrar enquanto gritava para parar, mas Sasha apenas exalou e agarrou seu pescoço como se tivesse começado a queimar. Não, na realidade, era uma situação em que não podia dizer a palavra “apenas”. Mesmo sendo um beta, ele estava ofegante, com seu rosto vermelho, segurando a garganta e o peito também. O abdômen. Por um momento, seus joelhos vacilaram como se tivessem quebrado e mesmo, vendo Sasha ficar assim, Noah foi completamente cínico.
— Você achou que seria o mesmo de três anos atrás? Não, naquela época eu era muito suave com feromônios. Por isso você teve a ideia estúpida de que era um perfume.
— Ei, ah, Noah…
— Você deveria saber que nunca deve dizer coisas assim!
Mas isso também não saiu como esperava.
A mão estendida de Sasha envolveu o cabelo comprido de Noah como uma corda. Ele inclinou a cabeça para trás e com movimentos rápidos segurou a cintura delicada usando os outros dedos. Logo, Noah foi levado a seus braços como se estivesse sendo sugado por ele e deixou que um gemido verdadeiramente intenso brotasse desde o fundo de sua garganta.
Toda vez que Sasha respirava, seu peito arfava selvagemente voando em direção ao dele, que estava sendo pressionado pelo duro. A respiração, descendo direto em sua bochecha, estava quente como se tivesse fogo na boca e em suas pernas, parecia que seus órgãos genitais decidiram se esfregar constantemente contra os dele. Noah se deu conta da situação só então seus olhos se arregalaram e seu queixo caiu. Ele engoliu em seco e até se permitiu dizer um palavrão. Colocou muitos feromônios nele, o suficiente para fazê-lo desmaiar. Mesmo sendo um Beta, ele deveria estar rastejando no chão agora, seria um bom castigo para lhe dar tempo para pensar. Mas em vez de rastejar no chão e sofrer, ele ficou mais louco do que de costume. Por que simplesmente não ficou com os olhos turvos, fugiu, espuma pela boca ou algo assim?
— Espere… Deixe-me ir.
Noah lutou para se afastar. Se perguntando se aquele cara capturou rapidamente o feromônio que derramou sobre ele… E o maldito ainda se beneficiou. Além do mais, até seu aperto se tornou tão forte que não conseguia nem se mover com facilidade.
E toda vez que respirava, sentia o pênis dele afundar entre suas coxas de novo, e de novo, e de novo.
Uma loucura.
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Continua…
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Tradução: Rize