Da Terra ao Céu - Capítulo 13
Estava vazia. Quer dizer, nem sequer tinha uma janela pela qual pudesse olhar. Não, a expressão “vazia” realmente não fazia sentido porque, afinal, havia uma coisa bem no meio da sala: um grande piano de cauda sob uma luz fraca caindo do teto. Até lembrava uma pequena sala de concertos.
Sem saber, Noah parou de andar. Olhou ao redor e caminhou lentamente para o lugar. Fechou a porta cuidadosamente atrás de si e continuou, passo a passo. Um pé na frente do outro… E quanto mais se aproximava do enorme instrumento musical, mais ele começava a se sentir nervoso. Tanto que sentiu os dedos formiganrem.
O interior da sala, onde havia apenas o piano, era muito antiquado. Assim como os pisos de madeira e as paredes com nada além de tijolos. Por mais elegante que fosse, a umidade e a temperatura eram impressionantes no interior da sala. A cada passo que dava, o ar em sua pele o fazia perceber que o lugar era muito parecido com um forno a vapor.
O piano tinha a marca “Steinway & Sons” gravada nele. Além disso, era do tipo que só podia ser encontrado em alguma sala de arte. Um piano desse tamanho poderia facilmente ultrapassar centenas de milhares de dólares e se fosse feito por encomenda, o preço se tornava difícil de estimar. Além disso, era um piano criado por uma marca famosa por produzir instrumentos musicais de excelente qualidade. Assim como os pianistas de classe mundial usavam.
De pé na frente do piano, Noah estendeu a mão e tocou suavemente as teclas. Um som lento se espalhou pelo espaço e se perdeu em uma espécie de eco. Fazia muito tempo desde que ouviu aquela melodia. Para ser exato, a última vez que ele fez isso foi há cerca de 10 anos. “Tum, tim,tim,” os dedos que estavam batendo nas teclas se moveram levemente pelo piano para a direita.
O timbre claro e perfeito fez seus dedos ficarem tensos, como se ele percebesse que estava fazendo algo errado. Estava intoxicado pelo som que ecoava em todas as direções, sentindo como se mesmo algumas notas se tornassem uma música.
E talvez não houvesse nada de estranho em ficar hipnotizado por algo que antes lhe dava um tremendo prazer.
Se sentou.
Noah endireitou-se na cadeira e voltou a examinar as teclas do piano com a ponta dos dedos. Na verdade, toda vez que ele as tocava uma por uma, sua mente ficava em branco e tudo ao seu redor, exceto o piano, deixava de existir. Tinha até mesmo esquecido que aquela era a mansão de Sasha, que ele havia acordado depois de adormecer um tempo atrás, que seu corpo inteiro doía, que estava com sede, e que desceu para encontrar a sala de jantar porque estava com fome.
Foi bom ver um piano depois de 10 anos. Talvez por isso, “ding, don, tim, dong” os dedos pressionando aleatoriamente as teclas estavam começando a criar uma melodia do nada.
Guiado por suas memórias, ele deixou suas mãos se moverem o quanto quisessem. Uma e outra nota, e quando continuou a pressionar mais algumas vezes, a melodia mais clara e bonita do mundo encheu o espaço fazendo finalmente tudo flutuar.
Ele sentiu como se seus dedos estivessem começando a voar.
O som era elegante e cheio de poder. Uma música clara e animada, que não parecia nada pesada encheu a sala em um instante até sentir… Como se caísse em um mar de sons esplêndidos que vinham do piano.
No entanto, à medida que a performance se intensificou, houve um estalo, as pontas de seus dedos ficaram desalinhadas e o som ficou horrivelmente turbulento. Ao mesmo tempo, Noah parou as mãos que a um momento pareciam dançar.
Ele finalmente caiu em si.
— O que você está fazendo aqui?
No conseguiu esconder seu constrangimento, então Noah soltou um longo suspiro e começou a esfregar as mãos como se pensasse em uma desculpa para dizer. Seu coração estava batendo rápido porque ainda havia um pouco de tensão e excitação flutuando ao redor de seu corpo.
— É. O Contrabandista.
Esse foi o momento em que Noah, ainda sentado em silêncio na cadeira, ouviu o tom baixo e pesado de uma pergunta atrás de suas costas. Seu tom, mais as palavras exatas do título da música que ele tinha acabado de tocar, fez sua espinha endurecer.
Noah podia sentir as emoções vertiginosas dentro de seu peito.
Assentiu e lentamente virou a cabeça para o homem. Sasha estava de pé com as costas contra uma porta que ainda parecia estar bem fechada. Não foi capaz de sentir nenhum som ou presença até que ele fez um barulho de propósito para chamar sua atenção. Talvez não tenha notado porque estava tão empolgado com o piano que não via há muito tempo.
— Eu nunca pensei que você pudesse interpretar Liszt tão bem.
Sasha, que estava olhando para Noah com os braços cruzados sobre o peito, falou com uma voz bastante calma. Noah ergueu a ponta dos lábios imediatamente e sorriu como se nada tivesse acontecido em primeiro lugar.
— Você está surpreso?
— É muito bonito.
— Também tenho hobbies. Não só o doutor aqui pode tê-los.
Ele tentou responder com indiferença, mas, na realidade, seus dedos estavam terrivelmente frios. Foi porque tocou depois de pensar que nunca mais faria e porque ficou surpreso com a aparição repentina de Sasha. No entanto, estava relutante em mostrar o que sentia no momento, então se levantou com os punhos cerrados.
— Seus hobbies estão sempre nesse nível? Liszt Rondo Fantastique era famoso por suas músicas difíceis.
— Estou surpreso que você conheça a música e seu nome. Também gosta de piano?
Em vez de responder, Noah perguntou isso a Sasha, que ainda o olhava com os olhos cheios de imenso espanto. Ele disse — Não — acrescentando: — Sou bom com máquinas, mas não sou bom em tocar instrumentos musicais.
— Por que você tem um piano tão caro?
— Porque é bonito.
— É uma marca famosa.
Noah evitou o olhar dele e fechou cuidadosamente a tampa do piano. Como o espaço ainda estava incrivelmente silencioso, houve um estrondo alto quando ele fez isso. Isso lhe deu arrepios, para dizer a verdade.
— É a única lembrança que tenho do meu irmão.
Foi um momento em que ele sentiu que não podia se mexer ou falar com pressa por causa do desconforto. Pouco depois, a mão que estava descansando levemente sobre o piano foi cuidadosamente retirada, e ele se sentiu mal por tê-lo tocado sem pedir permissão.
— Sinto muito.
— Não. Meu irmão gostava de música, então seu hobby era convidar músicos famosos sempre que tinha a chance.
— Então isso era uma sala de concertos?
— Sim.
Ele pessoalmente convidou artistas para fazer um show só para ele? Se perguntou que tipo de pessoa seu irmão mais velho realmente era.
— Infelizmente, meu irmão não era bom em tocar. Não importa o quão maravilhoso seu professor fosse ou o quanto ele praticasse em um piano caro, sempre foi péssimo em atuar. Sua performance era difícil de ouvir.
—…
— Ao contrário de você.
Enquanto sussurrava, ele olhou para Noah. Seus olhos afiados não eram familiares, era um olhar que lhe dizia que estava tentando esconder um segredo dentro dele. Noah caminhou lentamente pelo corredor. Deu um passo para perto de Sasha e o deixou falar novamente:
— Liszt era um dos compositores favoritos do meu irmão. Por causa disso, ouvi falar de ‘O Contrabandista’ várias vezes. Não é uma música tocada com frequência.
Não era particularmente famosa, era uma música muito difícil, então não era comum que os pianistas a tocassem com frequência. Mas Noah gostou muito da música, um rondó intitulado ‘O Contrabandista’.
Há muito tempo, quando tocava “O Contrabandista”. de Liszt, seu avô, Vincenzo, vinha sempre ouvi-lo. De vez em quando, brincava e ria dele dizendo: “Esta é uma música dedicada a mim por trabalhar como contrabandista?” Então, sim, ele era um bobo, mas ainda muito agradável.
Estranhamente, embora essas velhas memórias já tivessem desaparecido, bilhões de notas musicais ainda flutuavam vagamente na frente de seus olhos e faziam cócegas em suas mãos. Talvez seja por isso que ele continuou tocando sempre que tinha tempo livre.
Claro, Vincenzo não estava ciente de que ser um músico era realmente seu verdadeiro eu.
— E agora, deixe-me dizer, seu desempenho é um dos melhores em ‘O Contrabandista’ que eu já ouvi. Não posso deixar de ficar surpreso.
Sasha, que ainda estava bloqueando a porta, abaixou a cabeça e disse algo que obviamente era um elogio. Mas seu olhar sobre Noah ainda estava cheio daquele sentimento estranho que o fez falar sobre seu irmão.
— Eu nem sequer terminei. O que você diz é um exagero. Acho que é porque seus ouvidos não são bons o suficiente.
— Não é isso. Eu não sou bom em tocar instrumentos musicais, mas meus ouvidos nunca mentem. — A voz fria mas firme de Sasha flutuou pela sala silenciosa. — Devo dizer que comecei a pensar que, em vez de um hacker, havia trazido um pianista profissional.
O olhar e a expressão dele, que pareciam ter se suavizado quando disse isso, fizeram Noah morder a língua.
— Mas, tocar piano como hobby ou brincar com um vibrador quando der vontade, não muda o fato de que uma pessoa pode ser um hacker maravilhoso, uma pessoa incrivelmente inteligente e forte. Nada muda dentro de você por amar outra coisa.
Noah acenou com as mãos como se quisesse fugir do assunto. No entanto, Sasha ficou lá, como uma estátua ou sem vontade de sair facilmente do caminho.
— Você disse que às vezes cozinha quando sente dor, certo? Às vezes eu toco piano quando sinto dor. Isso é tudo. A propósito, eu nunca fiz isso na frente de ninguém. Utilizo um piano elétrico para que ninguém saiba… Ninguém sabe que toco piano. Não fique fofocando por aí.
— Ninguém sabe que você toca piano?
— Não. Bem, não sabem que eu continuo fazendo.
Sasha franziu a testa, como se estivesse descontente com o que acabara de dizer. Sua reação não foi nada compreensível.
— Por quê? Existe uma razão para você praticar piano em segredo?
— Porque o piano… não é para mim.
— Você é incrivelmente talentoso, Noah! Se fosse um pianista, acho que teria muito sucesso em sua vida. Então por que diz…?
— Ser pianista não é para todos. E cada pessoa vive sobre suas próprias circunstâncias. Agora estou totalmente satisfeito com meu trabalho, então por que você não para com isso? Eu não quero falar sobre isso.
Sem querer, seu tom se tornou muito frio. Sasha, que estava observando Noah há muito tempo, de repente se virou e abriu a porta para deixá-lo passar. Era como se tivesse percebido que não adiantaria discutir mais.
Noah saiu correndo pela fresta que havia aberto. No entanto, ainda não estava claro em que direção deveria ir para encontrar a sala de jantar:
— Siga-me. Vou fazer algo para você comer.
Percebendo que ele havia se perdido, Sasha deu o primeiro passo para a direita. Noah mordeu o lábio e então apenas assentiu enquanto caminhava bem atrás dele. Não era sua casa então não podia fazer nada sobre isso de qualquer maneira.
O corpo largo do homem estava obscurecendo sua visão, sentiu como se uma parede sólida estivesse de pé em vez de um ser humano. Ninguém o estava forçando a falar, mas Noah soltou um longo suspiro e continuou:
— Foi bom ver um piano de cauda depois de muito tempo, então, foi por isso… Eu toquei piano sem perceber. Isso me lembrou do Steinway que eu tinha em casa.
Noah mordeu a boca, ainda pelas costas de Sasha. Os sentimentos de nervosismo e desconforto continuaram a crescer incessantemente, mesmo depois de sua desculpa.
— Se teve um Steinway, significa que você era um aluno perfeito. Quero dizer, não era apenas um hobby. — Sasha, que não sabia como se sentir sobre isso, murmurou como se estivesse falando consigo mesmo: — Mas o que aconteceu com o seu piano?
Diante da pergunta repentina, Noah inconscientemente deu de ombros. Por enquanto, estava feliz por não estar olhando para ele. Afinal, se não fosse pelo jeito que estavam agora, teria se sentido um completo idiota.
— Eu joguei fora.
Noah passou saliva por uma garganta que parecia ressecada. Isso foi há um bom tempo, então mal conseguia lembrar. Também era algo que ele não queria mais saber. No entanto, de alguma forma, os eventos daquele dia estavam vindo à sua mente claramente agora.
Ele sentiu… Náusea.
— Você jogou fora? Aquele piano caro?
— Esqueceu que eu sou um milionário? Se eu não gostar de alguma coisa, posso jogar fora. Não pergunte.
Mas sem perceber, seu tom ficou muito afiado. Era por causa das coisas em que não queria pensar. Foi porque estava triste.
— Sim.
Mas Noah ficou com raiva. Era uma sensação que nem sequer podia compreender. Sua cabeça latejava com a confusão de emoções conflitantes. E não, não era porque Sasha estava curioso sobre seu passado. Foi por causa daquela maldita coisa! A raiva que estava escondida por muito tempo veio à tona novamente.
Seu rosto, esmagado contra o piano de cauda.
Seu choro.
Droga, ter um flashback inútil como esse era tão…
Noah balançou a cabeça para apagar a imagem do passado que de repente veio à mente. Mas, ao mesmo tempo, seus olhos nublaram.
— Oh espere…
Suas pernas tremeram. Noah pensou que ia cair a qualquer momento, então para evitar isso, ele rapidamente estendeu a mão e agarrou as costas de Sasha.
— Noah?
— Espere um minuto, ah… Espere só um minuto.
Sasha tentou se virar rapidamente, mas Noah agarrou a bainha de seu casaco e o impediu de qualquer maneira. Então, encostou a testa no homem e começou a tentar se acalmar. Suas pernas tremiam e seus olhos estavam desfocados. Era difícil respirar. Noah inalou, apertando o peito como se estivesse sem ar.
— É… É minha anemia. Merda… acho que vou desmaiar de fome. Eu vou ficar bem logo, então… Então me dê um minuto.
Sua mandíbula tremeu o suficiente para fazer um som de dentes batendo. A mão que segurava Sasha estremeceu, sua respiração era terrível e abatida do seu coração soava forte em sua cabeça. Felizmente, Sasha não olhou para trás nem uma vez. Só ficou lá parado e manteve a boca fechada. Então suspirou:
— Você não disse ontem de manhã que mesmo que não comesse por alguns dias, você não morreria?
Como sempre, seu tom de voz era direto. Descansando a testa nas costas dele, Noah ergueu os cantos dos lábios em um sorriso e respondeu:
— Hahaha. Acho que você tinha razão. Já que não como bem há vários dias, meu corpo…
Na verdade, esses sintomas não eram por não comer. Foi um ataque de pânico ao lembrar do maldito evento do piano. Porra! Noah apertou o peito, engolindo o palavrão tão bem que nem foi ouvido. Sua garganta parecia estar bem fechada, portanto, o ar não conseguia passar corretamente.
Sasha, que estava parado silenciosamente como uma estátua, de repente se virou.
— Um…
O corpo de Noah cambaleou para trás. No entanto, pouco antes de atingir o chão, braços enormes o seguraram o cercaram suavemente até que estivesse no chão.
— É minha culpa, te trouxe aqui porque precisava de você e agora estou te deixando morrer.
Então, ainda segurando Noah, ele atravessou a sala e começou a ir na direção oposta.
Noah não pôde deixar de olhar para ele, incapaz de piscar. Sasha pressionou as pontas dos dedos na cabeça dele e o fez descansar contra seu peito novamente:
— Está tudo bem, tente relaxar. Não pense em nada.
— Eu disse que é fome. Não perca a cabeça por nada.
Mas, na realidade, a sensação de aperto na garganta e a falta de ar foram desaparecendo gradualmente. Não sabia se ele tinha entendido suas circunstâncias, mas fingia que não, ou se realmente achava que Noah estava anêmico. Contudo, de alguma forma, começou a tratá-lo tão docemente que sua mente ficou em branco. Talvez fosse também por causa da temperatura corporal que os braços envolta de sua cintura lhe proporcionaram.
Noah respirou fundo e descansou a cabeça no peito de Sasha. Cada vez que ele inalava e exalava, o cheiro do corpo fazia cócegas na ponta de seu nariz penetrando profundamente em seus pulmões. Além disso, não cheirava mal. Ele se perguntou se este era o cheiro comum de uma pessoa que não tinha feromônios ômega ou alfa.
—…
Noah, que estava prendendo a respiração por um segundo, fechou os olhos e segurou os braços de Sasha. De repente, os abriu novamente e pensou: Foda-se! Havia enterrado a cabeça no peito deste homem e, ainda por cima, estava cheirando-o! Ao perceber seu comportamento absurdo, sentiu-se envergonhado e não sabia o que fazer. Sua cabeça estava quente, como se estivesse com febre. Ele rapidamente se virou para ver se Sasha tinha notado e, pela segunda vez, começou a rir de tudo o que estava acontecendo com ele. Parecia uma loucura.
— A propósito, doutor. O atendimento é muito bom. Ontem e hoje você me pegou pela mão para comer. Você vai me abraçar assim amanhã também?
Noah perguntou isso descaradamente. Foi uma espécie de reação de autodefesa para que não visse a vergonha e a tensão dentro dele.
— Não há nada que eu não possa fazer, se você quiser.
Sasha respondeu de repente, mostrando-lhe um rosto que não tinha sequer um rastro de sorriso, uma careta ou algo assim. Isso significava que não importa o quão atrevido fosse, ele aceitaria?
— Realmente, se eu disser para você me abraçar, me carregar e me levar com você todos os dias, vai fazer isso? Ou vai aparecer amanhã fingindo que nunca disse isso?
— De jeito nenhum. Eu costumo manter minha palavra em qualquer situação.
— Então você quer dizer que realmente vai me carregar todas as vezes?
Quando Noah falou, Sasha levantou um canto da boca.
— Pode pensar nisso como a ‘recompensa divertida’ que mencionou antes.
Noah não teve escolha a não ser piscar para uma frase continha as palavras “recompensa divertida”. Muitas coisas aconteceram que o fizeram esquecer completamente dessa proposta, e ainda assim, comparar isso com a compensação que ele pediu, era uma fraude.
— Entendo, está tentando me enganar para não me dar minha recompensa divertida?
— O que é uma recompensa divertida para você em primeiro lugar? Sentar e deixar você me dar umas chicotadas!?
— Talvez. Mas meu salário por hora é tão alto que isso mal daria para cobrir um terço dele.
— Tudo o que você quer é uma desculpa para estar comigo.
— Você fala assim porque não quer me pagar.
Era como se os dois estivessem jogando.
Enquanto os dois discutiam, Sasha entrou na sala de jantar, sentou Noah em uma cadeira ao lado da mesa e disse: — Espere um minuto. — E logo depois, dirigiu-se para cozinha.
Noah ficou sentado em silêncio, como Sasha havia dito, e apenas o seguiu com os olhos até que o homem desapareceu pela porta. Ele suspirou novamente, fechou os olhos e pensou: a súbita percepção veio de que os sintomas de pânico que surgiram há alguns segundos não estavam mais lá. Delicadamente, esfregou o peito com a palma da mão e verificou os dedos. Estava tudo bem, era como se nada tivesse acontecido. Não havia sinais de asfixia, e sua respiração já havia voltado ao normal.
Noah limpou os lábios com a mão. Exalou, inalou e exalou novamente.
Tudo de ruim havia desaparecido durante aquela ‘discussão’ com Sasha. O ataque de pânico, as imagens perturbadoras do passado, absolutamente tudo o que não queria lembrar.
“É realmente estranho.”
Murmurou para si mesmo, apoiando o queixo no braço que estava sobre a mesa. Então, procurou Sasha novamente até encontrá-lo: ele estava preparando uma refeição da mesma forma que havia feito na manhã de ontem. Tinha uma expressão e atitude extremamente gentil, como se nada tivesse acontecido entre os dois.
Depois de observá-lo por um longo tempo, Noah respirou fundo e forçou o rosto para longe dele. Queria ficar longe desse homem que ainda era a primeira coisa que lhe vinha à mente toda vez que pensava, então deliberadamente olhou ao redor como se estivesse interessado nas instalações da cozinha.
Era estranho que, embora a mansão fosse muito grande, a sala de jantar não fosse separada da cozinha. O lugar em que estava era apenas uma mesa antiquada a cozinha tinha uma parede preta em sobre alguns mosaicos brancos que ficavam a centímetros de onde as cadeiras estavam colocadas. Era um design limpo e elegante. Um tanto conservador.
Mas depois de olhar em volta por um tempo, os olhos de Noah voltaram para Sasha. Ele se movia lentamente, mas sem parar. A maneira como cozinhava enquanto manuseava habilmente vários utensílios de cozinha era impressionante e até um pouco viril.
—…Sinto muito por tocar o piano do seu irmão de forma tão arbitrária. Deve ser algo cheio de lembranças para você.
Mas as palavras que Noah soltou não tinham nada a ver com o café da manhã. Poderia ter sido um problema um pouco aleatório. Poderia ter sido um pedido de desculpas que não se encaixava na situação atual e, no entanto, ele queria dizer isso.
Sasha olhou para Noah enquanto cortava uma fruta. Era uma expressão despreocupada e um tanto digna, então foi difícil ter uma ideia do que ele estava pensando ou o que queria dizer. Mas no momento em que se tornou um pouco estranho apenas olhar um para o outro sem dizer uma palavra, ele balançou a cabeça e disse:
— Eu tenho o piano apenas para fins ornamentais. Não se desculpe por algo assim. No que me diz respeito, você pode usá-lo quando quiser.
Sasha respondeu em um tom indiferente enquanto colocava todas as frutas em um prato fundo. Mas ao contrário dele, Noah estava um pouco confuso.
— Em qualquer momento?
— Sempre que você quiser.
Quando fez essa pergunta, Sasha lhe deu uma resposta definitiva.
— Mas… Esse piano é muito caro.
— E…?
— Além disso, é uma lembrança do seu irmão.
— E?
Para falar a verdade, ele pareceu responder de maneira um tanto desrespeitosa. Era uma atitude que gritava que ele realmente não se importava com o que fazia ou não fazia, então Noah lutou contra a vontade de gritar com ele: “Você deveria ter um pouco mais de ciúmes das coisas de seu irmão que adorava música”.
— Você não está respondendo com muita facilidade?”
Noah ficou furioso com a reação de Sasha, que não reconhecia o valor do piano.
— Esse piano foi negligenciado por mais de um ano. Não é diferente da bagagem que eu coloco no meu depósito, então não seria melhor você tocar de vez em quando já que o tenho? Mesmo que você não fique permanentemente, por aqui.
Sasha disse isso sem rodeios, sem sequer parar a mão que cortava as frutas. Noah ficou sem palavras. O som não saiu facilmente de sua boca, era como se tivesse um nó preso na garganta. Ele não sabia o que dizer ou como agir, então apenas franziu a testa.
Mas enquanto Noah lutava contra si mesmo, Sasha estava ocupado movendo-se em todas as direções. Depois de colocar as frutas bem cortadas em um recipiente, foi para frente do fogão e acendeu o fogo. Ele parecia ter esquecido o tema do piano, então se concentrou apenas em cozinhar. Na verdade, o piano parecia uma coisa boba para ele. Noah, ouviu o barulho de algo fervendo. Era quente, tão perfumado quanto o som, e precisava concordar, parecia ser muito gostoso. O aroma do café que tinha acabado de ser feito combinou perfeitamente com o borbulhar da água.
— Então… Esta será a ‘recompensa divertida’ sobre a qual falamos.
Noah, que estava assistindo Sasha preparar o café da manhã, de repente sorriu com a ideia. Ou seja, era um fato que aquele piano era tão caro que não seria fácil encontrá-lo no mercado, além disso, era uma lembrança que seu irmão mais velho lhe havia deixado. Parecia uma boa troca para começar.
Sasha levantou a cabeça e lançou-lhe um olhar de puro espanto:
— Vai aceitar algo tão fácil como isso como recompensa? Foi você quem me ameaçou com seu salário por hora, resgate e todas essas coisas, então…
— A taxa diária de aluguel desse piano é exorbitantemente cara. Você simplesmente não sabe disso. E eu disse que queria algo divertido.
Essa coisa de “diversão” era verdade. Porque era um maldito piano Steinway, algo que ele não via há muito tempo e provavelmente não veria novamente.
— Esse piano é realmente uma recompensa divertida?
— É uma recompensa divertidíssima.
Talvez a resposta de Noah depois de suas palavras tenha sido surpreendente, porque Sasha inclinou a cabeça em vez de olhar para a panela.
— Mesmo assim, como eu disse desde o início, não é comparável ao valor que você me deve.
—… Desculpe?
— Então você deve pensar em outra coisa para me pagar, vou ouvir qualquer sugestão.
Sasha desligou o fogo e pegou a panela. Os ovos mexidos, amarelos, no ponto, começaram a ser divididos em dois pratos em porções relativamente iguais. Noah, que observava silenciosamente sua aparência, riu:
— Mas não se preocupe. Eu posso esperar até que você pense algo. Acho que não estamos com pressa.
Sasha estreitou os olhos com a resposta arrogante de Noah.
— Então, vamos comer primeiro, e depois pensar.
E ficou na frente dele, segurando um prato grande em cada mão.
Noah, que estava meio deitado na mesa, endireitou as costas completamente. Quando seu estômago faminto sentiu o cheiro da comida, houve um rugido tão incrível que pareceu ricochetear em todas as paredes da sala. Noah pegou seu garfo primeiro. No prato, Sasha havia servido torradas, ovos mexidos, laranjas fatiadas e uma banana com creme ao lado. Cheirava particularmente gostoso, mas provavelmente era porque ele estava com muita fome.
Sasha não lhe daria ketchup ou molho picante, mas não importava.
— Então, está bem em me dar algo além do piano?
Assim que colocou o ovo mexido na boca, Noah começou a falar. Sasha imediatamente levantou a mão e mostrou a ele um daqueles gestos como se quisesse dizer: “Se você tem algo a dizer, coma primeiro”. Então o homem, que estava sentado em uma posição calma, tomou um gole de café e começou a agradecer.
—… A sério?
— Você pode ser mais específico sobre o que quer ou não fazer depois de terminar. Comporte-se.”
A expressão de Noah se enrugou, ele mastigou a comida até que suas bochechas ficaram tão cheias quanto as de um esquilo. Sasha estava apenas tomando café como se não tivesse visto nada… Ou como se fosse seu avô.
— Além disso, já que decidi pagar uma indenização, não há razão para duvidar de mim. Eu lhe darei o que você quiser.
Com o garfo na mão, Noah partiu a laranja em pedaços que poderia comer. No entanto, em vez de discutir sobre algo como ‘termos e condições de compensação’, ele simplesmente mastigou a comida e engoliu sem dizer mais nada. De qualquer forma, ele estava certo que era como se o contrato já tivesse sido assinado.
— Espero que sim. Por favor, não seja um pé no saco.
Murmurando isso, enquanto tomava um delicioso café da manhã, Noah parecia ter esperanças nele.
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Continua….
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Tradução: Xie Lan
Revisão: Rize