Com amor Benjamin - Capítulo 14
Foi uma manhã movimentada.
A enfermeira balançou a cabeça enquanto caminhava pelo corredor e olhou as notas médicas. Ela tinha um prato de comida nas mãos, um potinho de remédio e estava absolutamente pronta para levá-lo ao paciente recém-admitido ontem antes de assinar sua folha de liberação.
Estava na frente da porta do quarto. Antes de chamar, a enfermeira, que geralmente verificava o relógio em seu pulso para ver quando seu turno acabaria, suspirou brevemente e fechou os olhos por um momento. Ela tem o rosto de uma mulher que trabalhou a noite toda, então é óbvio que está cansada o suficiente para querer ir para casa logo. No entanto, apenas sacudiu a preguiça e bateu na porta.
— Sr. Sinclair, é hora de comer. Vou verificar seu soro também.
A enfermeira, que abriu a porta com dificuldade, olhou em volta e observou a sala ligeiramente escura. Tudo está quieto e as cortinas estão meio fechadas de modo que o interior da cama não fica visível.
— Sinto muito filho, mas você tem que tomar o remédio na hora certa.
A enfermeira baixou um pouco a cortina, pedindo paciência por parte do paciente e que ele tentasse se inclinar pelo menos um pouco para colocar a bandeja… Mas ela não conseguiu continuar falando. Seus olhos redondos estavam arregalados porque não havia vestígios do homem que antes parecia estar muito doente. A enfermeira, surpresa, olhou em volta e foi até o banheiro para procurá-lo lá também… Mas tudo estava em silêncio.
Seu rosto cansado foi ficando cada vez mais escuro. Inferno, o que você vai fazer? Disseram-lhe que há um problema com a memória do paciente, então ela estava tendo todos os tipos de pensamentos perigosos no momento.
A enfermeira olhou para o lençol novamente. É como se ninguém nunca tivesse existido lá em primeiro lugar. Isso foi perfeitamente arrumado. Colocou a mão… Nem sequer sente o calor. Sua cabeça estava em branco. Onde havia errado? Ela verificou os sinais vitais ao lado da cama. A máquina não apagava e acendia no escuro. A campainha quebrou…
Oh, meu Deus! Seu rosto rapidamente ficou branco. “O paciente fugiu!”
— O paciente! Segurança! Meu paciente não está aqui!
Gritando, a enfermeira saiu da sala enquanto procurava um guarda ou algum médico de plantão. Era definitivamente uma noite mais tranquila do que o normal, havia enfermeiras na frente dos quartos o tempo todo. Ela o estava vigiando do escritório, mas, bom, havia muitos pacientes doentes e ela teve que consertar uma bomba de oxigênio. Não pode ser! Além disso, visto que o marido do paciente não é uma pessoa normal, isso significa que todos dentro do hospital estão em perigo? Oh… Claro! Se ele tem um guarda-costas, primeiro precisa contar primeiramente a esse homem.
A enfermeira, que estava muito assustada, correu até a mesa e começou a ligar para os parentes. Tomara que o paciente aparecesse em qualquer lugar e ficasse bem… Mas ela já tem uma cara de choro impressionante.
***
Benjamin, que ficou longe do pai por pouco menos de uma semana, chorou muito alto assim que viu Félix entrar na sala e estender a mão para ele.
Parece que o menino tem se sentido muito ansioso desde o que aconteceu na Disneylândia, então obviamente Félix tem dificuldade em acalmá-lo corretamente e continua a embalá-lo e carregá-lo enquanto lhe diz muito que lamenta e beija a sua cabeça uma e outra vez.
Era urgente encontrar Theron, claro… Mas seu filho é muitíssimo mais importante do que tudo isso, então faz uma grande mudança em sua agenda para poder estar com ele.
A criança não quer deixá-lo ir por nada neste mundo, então dorme ao seu lado e só acorda quando sente uma enorme cascata de beijinhos caírem em sua pele. Ele quer agir normalmente, então toma café da manhã e assiste TV com Benjamin, como de costume. Tomam banho, conversam sobre seus brinquedos e, no final, vão brincar juntos.
Assim que viu Félix na noite anterior, o menino chorou até que seus olhos ficaram terrivelmente inchados e vermelhos. No entanto, ao contrário de ontem, ele teve energia o suficiente para correr cinco voltas ao redor da mesa sem cair nenhuma vez. Vai para um canto, se prepara e joga uma bola para seu pai enquanto ri alegremente.
O telefone tocou quando ele disse ao filho para estender as mãos… O nome Noah apareceu no visor do celular.
Ficou bastante preocupado, qual seria o motivo que o levou a ligar naquela hora e, claro, quando Benjamin corre em sua direção para lhe entregar a bola e se jogar sobre seu peito para dizer que está com muito calor, ele força os lábios para sorrir.
— O que aconteceu tão cedo?
— Ei, foda-se. Como você viveria sem mim, seu pedaço de coisa? Quero que pense um pouco sobre isso antes de responder qualquer coisa. Quer saber? Acho que fui eu quem te salvou em sua vida passada, então mostre um rosto agradecido. Você tem sorte que…
— Deus, vá se fu… Vá direto ao ponto.
Na medida do possível e ainda com a criança em seu pescoço, Félix tenta cortar a fala do grande salvador do mundo para passar às coisas importantes… Mas Noah estava animado o suficiente para falar sem parar e querer ouvi-lo um só segundo. Estranho, muitas vezes esse homem está dormindo a esta hora.
— Bem, agora, obrigado por existir. Todos nós apreciamos isso. Diga-me o que aconteceu.
— Eu encontrei Theron.
Noah, que falou muito rápido, riu alto como se também não pudesse acreditar. É uma loucura! E, no entanto, em contraste com o que ele queria gritar, um sorriso suave que se espalhou pela boca de Félix e não parece querer ir embora facilmente. Benjamin decidiu correr com uma bola maior que seu corpo nos braços.
— Onde?
— Perto de Los Angeles. Tony contatou uma empresa que contratava principalmente mercenários e que aparentemente era sua. Eles têm parte da sede justamente nessa área.
Félix, que recebeu uma bola lançada por Benjamin, teve que ligar o alto-falante de seu celular para poder estender novamente as mãos em direção ao menino e deixá-lo se jogar com força em sua direção. Ele estava rindo alto, aparentemente encantado com o improvisado jogo de futebol. Félix riu também.
— Talvez porque ele nasceu e foi criado nos Estados Unidos, ter escritórios aqui é mais fácil do que se mudar para a Itália. Além disso, ele tem muitos contatos porque seu avô também era membro da máfia siciliana.
A voz de Félix é suave e gentil, mas o garoto não consegue entender a conversa, então ele se inclina um pouco mais perto para tentar ouvir. Ele está muito zangado e nervoso, então tenta ser muito cuidadoso com sua voz quando diz para ele fazer de novo.
Benjamin corre de volta para o canto, a bola cobrindo a maior parte de seu rostinho. É muito engraçado e fofo que uma bola possa fazer seu filho tão feliz, então não se contém e volta a sorrir. A bola volta a voar e Félix, que a recebeu com delicadeza, ergueu o polegar em sua direção e disse que ele estava fazendo muito bem. Portanto, mesmo com esse pequeno elogio, Benjamin parece tão animado que não sabia o que fazer. Se seu pai parecia ter gostado de seu lançamento, então com certeza deveria fazer melhor da próxima vez!
E foi buscar a bola novamente:
— Prepare-se para sair daqui a pouco.
— Okay, Lucca vem também.
— Tudo bem.
Depois de uma conversa bastante amigável com Noah, Félix se levantou e reposicionou o menino contra seu torso para que pudesse falar com ele… Parece um dia muito bom para pegar alguém e talvez matá-lo.
— Benjamin, amor, tudo bem se você for para casa primeiro? Vou assim que terminar meu trabalho.
Quando disse que precisava ficar mais um pouco por causa do trabalho, Benjamin revelou um rosto completamente triste. Ele fez beicinho e logo parecia que seus olhos haviam se enchido de lágrimas…
Félix segurou a bola com uma das mãos para que pudesse jogá-la e se dedicou totalmente a abraçar o menino que havia se transformado em uma pequena bola trêmula.
— Ei… Mas você gosta de ficar com o vovô e a vovó, não é? Além disso, você pode cuidar da casa enquanto eu vou buscar o papai.
— Se eu for para casa… Você virá com o papai na próxima vez?
Os olhos do menino brilharam com as palavras de Félix. Parece que certamente sente muito a falta de seu pai Isaac.
— Sim, eu vou. E a Disneylândia? Você realmente gostou certo?
O menino concordou.
— Tony me disse que você estava muito triste porque não pudemos ver todas as atrações, então que tal isso? Além de levar o papai para você, prometo que voltaremos no mês que vem. Vamos visitar todo o parque.
Com uma oferta tão generosa, a criança não tem escolha a não ser balançar a cabeça várias vezes.
— Para Toontown?
— Será o primeiro lugar.
Toontown, na Disneylândia, é um lugar temático popular por ter uma réplica exata da casa de Mickey Mouse e também das casas de todos os seus outros amigos. O menino disse que realmente queria conhecê-lo e estava honestamente zangado por não poder comparecer na primeira visita. Algo natural para alguém que se considerava o fã número um do Mickey Mouse.
Benjamin então levanta a mãozinha, estende o dedo mindinho a Félix, promessa?
Os dedos do seu filho são tão fofos e rechonchudos que Félix imediatamente levanta a mão e coloca o dedo mínimo em volta do dele.
— Benjamin é um menino muito forte, não é? Então, acredito que você vai cuidar de seus avós assim como eles vão cuidar de você. E depois do trabalho do papai, vamos ter um jogo de bola muito mais demorado que o de hoje, ok?
— Uhum!
— Meu menino valente.
Félix beija as bochechas macias de Benjamin repetidamente até que ele começa a rir e se contorcer descontroladamente em seus braços. Ele então o leva para Jéssica, que estava dando a eles o espaço necessário ao esperar pacientemente em outra sala.
— O Sr. Felice encontrou o boneco? Ele parecia um pouco bravo com isso outro dia.
Jéssica abriu o discurso como se não soubesse de que outra forma começar a falar com ele… Mas Félix, que não tinha ouvido falar em algum tipo de boneco, imediatamente se aproximou para perguntar mais um pouco.
— Boneco? De que boneco está falando?
— Oh, eu acho que eles não te contaram ainda.
Quando ela percebeu que Félix não tinha a menor ideia do que estava falando, Jéssica pareceu um pouco envergonhada na frente dele. Seu olhar estava bastante ansioso, então, Félix, que estava tentando tirar um pouco da tensão do ambiente, apenas sorriu com uma cara um tanto suave… Embora, claro, muitas dúvidas surjam sobre isso.
Vincenzo está procurando um boneco. O que diabos isso significa? Ao retornar ao hotel, ele viu o homem caminhando apressado segurando uma cesta de lixo nas mãos, mas na verdade não disse nada. Sua mente está em outro lugar, como sempre.
— O que aconteceu com ele?
— Parece que quer encontrar um boneco do Mickey Mouse que deu a Benjamin quando ele veio da Itália. Eu ouvi falar, mas não estou totalmente certa disso.
— Haa…
— Estou preocupada que seja algo mais importante do que parece. Lamento incomodá-lo com isso também! Não sei, talvez não seja nada.
Com um olhar preocupado, Jéssica deixou escapar tudo isso com cautela enquanto Félix apenas riu e assentiu.
— É só o vovô sendo o vovô. Não se preocupe muito com isso… Na verdade, eu queria te agradecer. Por cuidar de Benjamin. Sabe, parece que foi difícil.
— Nem um pouco, estou acostumada… Mas, por favor, tenha muito cuidado.
— Sim, eu terei.
Então, ao estender a mão para entregar o menino à vovó, ele beijou a bochecha de Benjamin uma última vez antes de se dirigir imediatamente para a saída.
— Promessa!
— Promessa.
Enquanto caminhava para o sedan que estava esperando em frente à porta do hotel, seu cabelo dourado voou ao vento até cair em seus olhos e bochechas.
Embora estivesse soprando um ar bastante poderoso, a sensação que deixou por toda a sua pele era fresca e bastante aconchegante. No entanto, ao contrário do dia claro e ensolarado, Félix tinha um rosto frio e duro. Mesmo jogar bola com seu filho não tinha conseguido acalmá-lo direito…
— Jack, vamos primeiro ao Noah. Lucca também está esperando.
Jack, que segurava o volante com as duas mãos, não parecia ter uma expressão facial. Era uma aparência que combinava perfeitamente com seu humor.
No outro dia, ele foi um dos homens que participou junto com Lucca do ataque pegar Theron e derrotá-lo… Porém, de repente ele desapareceu em meio a todo o tumulto e se escondeu como um rato. Jack era tão orgulhoso quanto Lucca, então era natural que ele tivesse aquela cara.
— Não cometerei erros desta vez, senhor.
— Não foi culpa sua.
— Foi sim. Eu perdi o cara que sequestrou o chefe.
Jack pisou fundo no acelerador, com as mãos segurando o volante com força e a cabeça erguida… Desta vez parece ser um trabalho de vida ou morte, então, Félix, que estava olhando para o homem que parecia estar queimando de vontade e raiva, encolheu os ombros e começou a rir:
— Você faz uma voz muito estranha quando fica todo sério: ‘Não cometerei erros’.
— Estou falando sério!
— Ok, entendi, então dirija com cuidado, os mortos não podem lutar.
Ao contrário de Jack, que tem muito peso sobre seus ombros, Félix bate a testa contra a janela repetidamente até fazer um som bastante oco. Ontem de manhã, ele estava tão concentrado em abraçar Isaac que não conseguia pensar em mais nada, então agora, um dia depois do ocorrido, percebe como sua mente estava lenta e corre com a mesma urgência para encontrá-lo. Era difícil quando ainda tinha a sensação do que havia acontecido! Isaac ainda está em seu corpo. Os feromônios derramados estão flutuando em seu nariz e seus lábios parecem ainda estar quentes sobre a boca dele… Mas ele não o tem lá com ele.
Não é como se ele simplesmente estivesse com raiva, mas também sente como se estivesse sem tempo.
— Não me fodam…
Era seu pai biológico. Depois de tudo, Theron era seu maldito pai e por isso a máfia concedeu-lhe uma espécie de santa indulgência, como uma regra implícita. Assim, embora pudesse ser considerado um crime aos olhos da organização, ele queria matá-lo com tanta força que até se tornou incontrolável e estúpido. Ele foi sequestrado porque estava lidando com um desejo egoísta e até mesmo Isaac foi ferido e perdeu a memória, por causa dele…
Portanto, pensa que não vai desistir. Não vai desistir e ele pagará por tudo que arruinou. Duas, três, cem vezes mais. Contanto que possa terminar o relacionamento tedioso que ainda tem com Theron, para sempre.
Félix suspirou.
Às vezes, também deseja uma vida tranquila e normal. Com um trabalho, chato e feio, mas com Benjamin nos braços dizendo que é muito bom e quer brincar mais…
Lembrando-se da noite que passou com ele, recostando-se e segurando sua mãozinha ele parecia não ter mais pesadelos, Félix fechou os olhos e suspirou profundamente.
Isaac, que não estava ao seu lado, fez com que fosse um momento verdadeiramente triste.
Assim que chegaram ao ponto de encontro, descobriram que Lucca estava com um ferimento à bala no braço quase no mesmo nível do ferimento de Félix. No entanto, ele estava com curativo.
Como Jack, Lucca perdeu todo o orgulho alguns dias atrás na frente do inimigo principal, então não importa se eles o virem lamber suas feridas e ter pena de si mesmo.
— Não quero reclamações ou perguntas, todo mundo deve saber o que fazer.
Félix tira o casaco e diz uma palavra curta, mas absolutamente assustadora. Então, assim como Isaac havia feito, ele vestiu um colete à prova de balas e um cinto no qual enfiou todas as suas armas favoritas.
Mais uma vez, todos os homens, exceto Tony, o cumprimentaram como se ele fosse o capitão da missão e lançaram um olhar tenso e preocupado. Como a preparação antes de uma guerra intensa. Uma atmosfera de raiva e tensão em vez do cansaço anterior.
Félix caminhou lentamente para a caminhonete enquanto Lucca e Jack o seguiam como se fosse um plano silencioso. Noah estará com eles dando as coordenadas, Vincenzo e Tony se encarregarão de levar Benjamin e Jéssica em segurança para San Diego.
Ou essa era a ideia.
— Podemos falar?
Pouco antes de abrir a porta dos fundos, Vincenzo falou em voz bastante baixa, deixando os braços totalmente estendidos no ar. Como se pedisse misericórdia para não morrer.
Félix suspirou profundamente.
— O que faz aqui?
— Eu…
— Vovô deveria estar procurando o boneco antes de vir me enfrentar.
Assim que chegou em casa, Félix ouviu a história do boneco Mickey Mouse, do começo ao fim. Claro, Noah explicou tudo isso o mais lentamente possível, mas com uma cara um tanto complicada. Era óbvio que Vincenzo ainda não havia encontrado o boneco idiota e também estava bastante claro que ele não parecia querer admitir a culpa por todos estarem prestes a ir direto para o inferno.
— Eu só quero falar sobre a minha ideia, droga!
Porém, sem ser notado pelos outros, Félix segurou o ombro de Vincenzo e apertou até causar uma dor intensa em seus ossos. Era uma ameaça não verbal, mas que o fez franzir a testa até certo ponto.
— Esta não é a hora, sério. Apenas saia daqui e faça o que estou mandando.
Mas Vincenzo, que mordeu a língua enquanto o olhava com uma expressão realmente dura, o encarou sem baixar a guarda até que Félix não teve escolha a não ser relaxar os lábios e fingir sorrir. A mão passou do ombro para as costas.
— Inferno, isso não importa mais. Você e eu somos muito parecidos. Afinal, havia algum outro homem me criando?
— Eu entendo… Mas acho que me culpar não é…
— Eu te culpo, então, fique quieto e saia daqui. Vovô, o senhor tem que encontrar o boneco e ficar seguro. Sim? Eu vou cuidar de Theron.
Depois de responder, Félix saltou em direção ao veículo sem esperar mais nenhuma palavra de Vincenzo… O homem fica pálido, mas com muitas emoções que parecem difíceis de descrever.
Seu filho lhe deu as costas.
_______
Sentado em um veículo bastante barulhento, Félix estava conversando com Lucca, Jack e alguns outros subordinados. As informações de Noah eram perfeitas e precisas, então não parecia haver nenhum grande problema…
Eles estavam no meio do caminho.
De repente, um som estranho veio do seu lado direito: Lucca estava dormindo, então ele roncava como um animal selvagem. Do outro lado, alguém estava batendo na parede para ver se a ventilação estava aberta e então, para variar, a voz de Noah começou bem alta em seu aparelho auditivo.
Ele parecia inquieto.
— O que foi Noah?
Os sons barulhentos do carro se misturam à sua própria voz e ao barulho constante do ar condicionado. A paciência de Félix estava atingindo um limite perigoso.
— Oh merda. O que eu faço? O que vamos fazer?
— Primeiro, acalme-se.
A voz de Noah parecia bastante oprimida pelo que quer que estivesse acontecendo. Félix estalou a língua e descobriu que estava experimentando um terrível ataque de pânico, então pediu a ele que respirasse junto com ele. Lento. Logo, o som do jovem vai além do ponto limite até que ele acaba exalando muito.
Gritou:
— Isaac escapou do hospital!
No início, Félix se sentiu um pouco surdo. Certamente era um assunto difícil de acreditar.
—… O quê…? Do que você está falando?
— Ele desapareceu sem deixar vestígios!!
Noah fala alto e em tom de dor total, mas Félix não consegue fazer um único gemido. Sua garganta parecia estar apertada e queimando… Parece que um balde de água fria foi jogado bem sobre sua cabeça.
Jack e Lucca, que haviam acordado com a insistente pergunta do homem sobre o mapa, ergueram a cabeça e ergueram suas palavras para ele… Mas ele nem percebeu. Félix caiu, mal se segurando o assento.
— Senhor!
— A enfermeira veio esta manhã e descobriu que a cama estava vazia. Recebi uma ligação de um dos homens que colocamos para cuidar dele e ele explicou tudo. Ele disse que não sabia de nada. Eles fecharam o hospital para verificar o andar, mas ele definitivamente não sabia. Ele estava lá Félix! Agora não está!
— Como ele fugiu?
— Pela janela. Eu também não queria acreditar, mas…
— O que os malditos guardas estavam fazendo para deixá-lo escapar!!!? O que eles estavam fazendo quando a única ordem era ficar de olho nele!!? AH! Aqueles idiotas!
Não surpreendentemente, Félix agiu como se de repente tivesse decidido explodir. Ele está de pé com a mão sobre o rosto enquanto grita e pragueja continuamente até chegar a um ponto onde já é insuportável… E então, para uma mudança, um feromônio realmente impressionante começou a sair dele, causando Jack e Lucca, que estava bem ao seu lado, abrirem a boca como se quisessem começar a perguntar sobre o motivo da raiva. Eles não fizeram, é claro. Eles nem mesmo tiveram uma chance.
Só Noah, que começou a chorar como se não pudesse respirar direito, foi capaz de fazer a raiva de Félix diminuir pelo menos um pouco… Embora ele ainda parecesse que poderia dobrar o pescoço de todos os homens no veículo se quisesse. E sem fazer o menor esforço! Seu rosto estava vermelho, suas veias incrivelmente marcadas…
— Encontre ele.
—… Estou tentando.
— Você não vai tentar. Encontre-o. Primeiro… Não posso fazer mais nada, então o plano continua como está. Vou buscar Theron primeiro e depois corro com você para buscar Isaac.
Fingindo não ter ouvido o gemido doloroso de Noah, Félix desligou o aparelho e se deixou cair no assento de uma forma realmente pesada e selvagem. Encostando as costas na parede para que possa baixar a cabeça e fechar os olhos… Seu peito sobe e desce até que causa um suspiro profundo que soa mais como um grunhido: “AH!” O interior de sua cabeça está uma bagunça! Se sente tonto, com náuseas e tão confuso que, em vez de se acalmar, parece que seus pulmões estão sendo esmagados de forma perigosa.
A última aparição de Isaac diante de seus olhos foi terrivelmente silenciosa. Eu voltarei logo, ok? Ainda há alguém que preciso perseguir. E quando lhe disse isso, o homem acenou com a cabeça encantadoramente e fechou os olhos ao seu toque. Ele pensava que estava bastante tranquilo e que talvez, possivelmente, ele tivesse começado a acreditar nele… Mas ele desapareceu durante a noite. Saiu do hospital sem deixar vestígios, como se estivesse evaporando. Não podia acreditar. Para onde ele foi?
— Ah, droga. Droga.
— Chefe… O que aconteceu? Quer que a gente… pare para respirar?
Jack o chamou de lado, mas logo seu braço se encheu dos dedos de Lucca, que o puxou para dizer para deixá-lo em paz… Não é bom falar com ele em um ambiente tão incomum, um silêncio pesado foi pressionado para todos os homens.
Não há ninguém que abra a boca porque ninguém é estúpido o suficiente para fazê-lo.
Uma época que parecia tão longa quanto a eternidade.
—… Umm… Precisamos mudar de estratégia.
Félix, que tinha sentimentos agitando-se como ondas em um mar violento, murmurou isso em um tom surpreendentemente cansado. Então, abre os olhos e abaixa a mão que cobria sua cabeça para revelar uma pupila azul cheia de irritação e raiva intensa.
— Eles podem usar qualquer arma e podem matar quem quiserem. Eu não me importo, apenas… Mate todos e faça isso o mais rápido possível. Eu não quero ver ninguém morrer.
A voz, que afundou em sua garganta, era fria o suficiente para deixar todos atordoados no lugar.
— Assim que você encontrar a amostra de sangue, traga para mim imediatamente. É a principal prioridade. E Theron… Eles podem matá-lo, eu não me importo.
Lucca e os outros caras, os da frente, mostraram emoções surpreendentes antes da nova ordem… Afinal, ele havia pedido que o trouxessem vivo primeiro.
Mais uma vez, eles mostram um coração fraco o suficiente para recusar.
— Se ele morrer, diga-me imediatamente. Eu preciso verificar por mim mesmo.
Os homens assentiram silenciosamente com a voz de Félix.
E então ele simplesmente se sentou novamente.
***
Os passos do homem eram bastante pesados. Um som absorvente no longo corredor do hotel…
E quatro homens de bom físico e altura considerável caminhavam bem atrás dele.
Como um executivo de uma grande empresa, ele usava um terno elegante, mas bastante justo. Gravata, sapatos sem sujeira e meias com diamantes. Ele parece um homem novo e rico trabalhando para uma grande empresa recém-aberta. Pelo contrário, os outros quatro homens que vão com ele parecem mais do tipo comum. Eles têm armas escondidas em suas calças, principalmente pistolas.
O lugar onde o estranho finalmente para de caminhar é na cobertura, no andar mais alto do hotel.
Ele estava em frente à porta dupla do quarto… A ação de apertar a campainha com a mão enluvada foi tão rápida quanto o movimento de sacar a pistola que estava colocada dentro da jaqueta.
No entanto, ao contrário de suas expectativas, não houve reação interna. Nem consegue sentir o movimento.
Havia uma veia latejante na testa do empresário.
Ele olhou para trás e mandou um sinal com uma de suas mãos: Um dos homens avançou rapidamente até o seu nível e segurou a maçaneta até que finalmente, após alguns movimentos silenciosos, a porta da sala que estava trancada se abriu com um clique alto.
Os cinco homens sacaram suas armas imediatamente e entraram no quarto…
A porta dupla fecha-se com um estrondo quase doce e melódico, mas chega a deixar todos nervosos… Cada um olha em volta com os ombros tensos e as mãos nervosas, mas, ao contrário do que esperam, sangue e lágrimas, o interior da cobertura está excepcionalmente vazio.
— Que porra é essa?
Um gemido baixo fluiu entre eles.
— Eles nos disseram claramente que estavam aqui.
— Tem certeza?
— Sim, claro. Arthur nos disse que eles planejavam fazer o check-out logo depois que o garoto almoçasse, então é por isso…
POW.
O homem não conseguiu terminar de dar sua explicação.
De repente, bem ao lado de seu coração, uma abertura altamente impressionante fez com que a carne se desprendesse de seu osso e o sangue derramasse até cair em pequenas gotas no chão.
O homem olha fixamente para a aparência do buraco em seu peito, vira os olhos e no minuto seguinte, cai contra o tapete ao ritmo de: “Merda!! O que é isso?”
Junto com palavrões e gritos de pânico, os homens rapidamente se esconderam atrás dos móveis da sala. Então: POW!! Uma nova bala voa de uma parede e atinge terrivelmente o próximo homem até que metade de sua cabeça esteja aberta.
Os três homens restantes apontaram suas armas na direção em que ela voou. Atentos. Cabeça erguida, mas os dedos terrivelmente trêmulos…
Depois de passar pela entrada e pelo corredor que levava a outra sala, eles puderam ver uma nova faísca que fez a porta de madeira explodir em alguns pedaços.
Um som é ouvido de dentro…
— O que diabos está acontecendo? Você estava esperando por nós?
O homem, que tomara a iniciativa de ir primeiro, perguntou tudo isso com voz carregada de dúvida e terror. O resto dos homens na sala estavam olhando para ele com uma pupila quase tão escura quanto alterada.
— Desculpe, não tenho certeza do que está acontecendo. Entrei em contato com Arthur há apenas uma hora e ele parecia bastante seguro sobre tudo.
Os dois homens morderam os lábios e balançaram a cabeça. Não tem sentido. Graças a esse tipo de informação, eles conseguiram invadir o hotel há alguns dias, quando toda a família saiu de férias para a Disneylândia. A pessoa que se autodenominava Arthur era bastante fiel a eles e acreditavam nele em absolutamente tudo.
Ele havia dito a eles que Félix estava a caminho para pegar Theron.
Ao descobrir o plano de Félix, Theron foi ao hotel para assassinar a sua família. Uma ameaça por outra, possivelmente. Sem dúvida, diferente do comportamento de seu filho, quem gosta de fazer tudo de um modo escandaloso e desorganizado, ele levou apenas alguns amigos íntimos.
Na sala está Vincenzo, o filho de quatro anos de Félix, e sua sogra. Que imagem! Uma mulher normal com um filho inútil que apenas baba e come. Além disso, Félix estendeu as mãos para todos os que podem estar com ele. Seus amigos, seu primo, até braço direito de Vincenzo, e esse Lucca. Ele planejava esmagá-los de uma forma terrível, o que sem dúvida teriam pesadelos por toda a eternidade…
Então, do que se trata?
Os homens que estavam caindo como ratos diante de um gato invisível. Um franco-atirador, escondido atrás da sala como um maldito covarde.
Podia ver o cabelo… Preto. Curto.
— É um… É só um! Não entrem em pânico ponham-se de pé agora!
Theron, conduzido por uma fúria terrível, atirou com velocidade e precisão suficientes para esvaziar toda a munição em suas armas antes que pudesse se render. A baixou as mãos, e tentou carregá-la novamente.
Foi como ele disse. Restava apenas um.
Existe apenas um ponto onde as balas os atingiram. Apenas um lado. Na verdade, foi fácil ver. As mãos de um homem que se virou para apontar a arma atirou em alguém até que se tornasse uma bolsa de sangue que transpira como se tivesse chovido sobre ele e então apenas convulsiona. O choque pode ser por causa do sangramento excessivo.
Theron encostou-se à mesa e observou, estalando a língua diante do momento desagradável. Não sabia que coisas fáceis de planejar se transformaria em algo assim. Claro, os subordinados de Félix faziam parte do negócio de armas, então era bastante óbvio que tinham brinquedos muito bons. Eles também deram um apoio generoso a seus homens, é claro. Mas havia confiado demais e sua arma era simplesmente uma pistola com silenciador contra um homem que deixou cair três sem demonstrar medo.
Um homem brilhante, mas muito calmo, sem dúvida.
Theron removeu o cartucho.
— Que merda você é?
Os nomes de Félix e Vincenzo foram os primeiros a aparecer em sua mente. Sem dúvida, são adversários há muito tempo e são os homens mais forte que já conhecera. No entanto… Nenhum deles parecia ser a causa ou poderia estar exalando os seus horríveis feromônios de Alfa Dominantes em um golpe.
— Então…?
Theron pensou e pensou até que a cabeça começasse a doer. E então escutou um click… E viu o responsável por tudo isso. Uma figura que há muito havia sido esquecida, mas o viu a pouco tempo quando sequestrou Félix e o manteve em sua cabana. Ele que tinha matado quase todos os seus subordinados e também quase o matou.
— Isaac?
— Exatamente, seu filho da puta.
O homem olhou em sua direção, com uma pupila negra muito profunda e fria. Definitivamente, o Ômega de Félix! Portanto, um medo terrível o atravessar devido à natureza da situação. Muito bem, devido, a única pessoa que poderia fazer isso parece desfavorável.
Ele se lembrava muito bem, então Theron engoliu a saliva em seco com um golpe muito forte. Félix disse que costumava ter algo errado com a cabeça dele? Problema de memória é uma coisa tão estúpida… E foi por causa disso que saiu do seu caminho aquela vez, esquecendo inclusive o que havia ido buscar. Seu marido, seu povo.
— Oh meu Deus. Não olhe para nada além da situação.
Fosse o que fosse às chances de sair vitorioso, não eram boas. Theron segurou a arma com força em suas mãos e xingou palavras abusivas várias vezes, POW! Com um forte som de impacto, sangue respingou diretamente do homem ao lado dele… Mas o inimigo estava se escondendo novamente. Um tiro preciso que perfura a sua artéria em pouco tempo. Seus olhos estão abertos. O rosto pálido e os lábios tremendo. O som pesado do corpo do homem, sufocando com um fluxo interminável de seu próprio sangue que caiu no chão enquanto morria, é muito difícil de suportar.
Theron, que escutou o golpe, mas não viu nenhum movimento, começou a suar frio em segundos.
Agarrou a arma com uma só mão
— Chefe, porra!
O homem, que ainda estava parado ao seu lado, tremendo de nervoso tanto quanto Theron estava fazendo… Claro, que não havia se dado conta até percebe que sua respiração estava definitivamente mais rápida e sufocante.
Foi porque notou que o homem estava brincando de caça. Escondendo-se nas sombras, avançando para fazê-los recuar.
O Ômega de Félix não era um Ômega comum, era uma maldita coisa que o perseguiu até o fim para se dedicar a matar cada um de seus subordinados. Um a um. O único que ainda respirava era um homem que nem sequer conseguia usar os braços. Havia atirado nele de uma maneira que poderia jurar que escutou seus ossos se partindo.
— Misericórdia! Misericórdia, eu imploro! Por favor, me rendo! Por favor, tenha misericórdia de mim!
O homem, que estava à beira do choque devido ao sangramento excessivo, grita e se move de uma forma muito monstruosa. Pernas no ar. Pupilas dilatadas. Um rosto azul e um corpo trêmulo, como os galhos de uma árvore nitrogenados pelo vento. Não está exagerando. Depois de ser baleado com tanta força e sangrando como um pedaço de carne, sem contar com a perda de três de seus colegas de trabalho, ele obviamente ficaria mais apavorado do que qualquer coisa no mundo.
O perdedor começou a rastejar no chão, com a ajuda só de uma mão…
A sala ficou em silêncio. Só se escutava os gritos do homem que clamava por socorro dizendo:
— Chega não farei mais! Chega não farei mais!
O homem fazia um barulho latejante cada vez que tentava escapar…
Seu grito desapareceu depois que os tiros foram disparados um após o outro. Golpeando-se contra ele até que as costas do homem estivessem pintadas de vermelho e sua respiração caísse em um chocante vômito de sangue.
Theron trocou o cartucho… É o último.
— Por que não sai agora maldito infeliz? Sou o único que resta! Venha aqui e fique cara a cara comigo! — Theron, que empurrou o cartucho o mais forte que pode se viu forçado a falar… Mas soava trêmulo.
— Você está tentando me matar como eles? Por que só não sair para brigar cara a cara como a porra de um homem?
Então Theron franziu a testa. Quando o silêncio sufocante pairou sobre a sala de uma forma forte o suficiente para fazê-lo sentir como se estivesse sozinho com o ar e os móveis.
— Se está aqui, significa que tem memória. Já não está mais em missão e seja lá o que esse estúpido tenha dito a você. Agora você está aqui, cara.
Mesmo dizendo como se tivesse muita certeza disso, na verdade era um tanto questionável. Estava apenas contando com um mero palpite.
—… Por que pensa isso?
Então escuta-se uma voz clara ao longe, fazendo Theron erguer os olhos. À primeira vista, depois de pensar com calma sobre o assunto, o primeiro pensamento que teve foi: ‘Uau. Ele sempre falou assim? Quando ele começou a matar a todos, daquela vez que acordou depois de injetar a droga, ouvi a sua voz pelo alto-falante… Definitivamente era muito mais profundo do que agora’.
— Se você não se lembrasse, não seria tão específico. Não estaria no hotel… E já teria me matado. Poderia ter feito isso na primeira vez que me viu e me apontou a sua arma. Você só falou, hesitou. Então se escondeu novamente.
—…
— É porque eu sou o pai do Félix? Você me odeia. Mas ele é seu companheiro e o pai do seu filho de qualquer maneira. Me matar não é sua responsabilidade, não quer que ele fique triste? Não é assim? Com certeza você pensou sobre isso e decidiu que só vai me capturar.
E mesmo perguntando, desta vez não teve uma resposta. Isaac não abriu na boca, assim Theron voltou estalar a língua. Com apenas algumas perguntas pode ter plena consciência de que o Ômega voltou a lembrar o que estava acontecendo, e que também o reconhecia como pai de seu esposo. Tão fácil de ler… E isso significava apenas que seu amor recém conquistado não agiu corretamente.
— Ok, isso é o suficiente. Se tem algo a dizer, saia e faça. Vou manter a arma baixa.
Theron colocou lentamente a Beretta sobre a mesa e levantou suas mãos. Clik, o som é pesado quando se afasta e anda de um lado para o outro, como se tentasse demonstrar que já não está armado e que podia confiar nele… Porém, o silêncio foi além da porta. Theron de uma volta tranquila ao redor da mesa e depois caminho para uma sala.
Fazer isso era como apostar em nada… Mas ele realmente tinha certeza de que seu oponente não atiraria. Um jogo que ele sabia lidar com perfeição, porque, além de ser o pai do marido dele, não é uma ameaça.
Isaac não é Casey. Ele não parece ser uma pessoa que atiraria em alguém desarmado.
— Você tem mais a dizer do que eu…
Então, um homem alto, todo vestido de preto e com as mãos enluvadas segurando uma Glock, apareceu inesperadamente à sua direita.
Theron manteve a boca tensa e em linha reta, olhando em volta como se esperasse ver Vincenzo e Félix aparecendo também…
— Eu? Falar? Em vez de ter algo a dizer, quero perguntar O que você vai fazer comigo? Vai me arrastar para fora com seu marido? Vai me levar para morrer nas mãos de Vincenzo? O quê?
Quando questionado diretamente, o homem, que ainda estava olhando nos olhos de Theron, apenas disse: “Não”. Colocou a arma na cintura e levantou as mãos para que também pudesse vê-las.
Theron encolheu os ombros:
— Então?
— Eu gostaria de perguntar primeiro… Por que está fazendo tudo isso? Seja como for, você é o pai de Félix, então por que está atacando ele?
Sua pergunta foi surpreendente. Não, deveria ter esperado que desde o início fosse dizer a verdade.
— Félix é o principal assassino do meu Ômega. A única mulher que eu realmente amei.
— Félix?
— Talvez possamos dizer que Félix era inocente, mas Vincenzo o transformou em culpado.
A expressão de Theron, que na verdade está respondendo de maneira bastante inocente, endureceu de um momento para o outro, embora todo esse tempo parecesse estar correndo sem qualquer mudança aparente. Foi porque seus sentimentos honestos surgiram de dentro de seu coração.
— Como uma criança pode ser culpada? Isso é difícil de entender.
— Pode ser, se não conhece a história.
— Eu sei, e ainda não entendo.
Theron lhe olhou de um modo desagradável, como se pensasse que era um completo idiota em não ter empatia por ele. Mas o homem ainda estava a sua frente e com uma cara absolutamente séria.
— É difícil acreditar em mim depois do que ouviu da família Felice… Eu entendo. Sempre me fazem parecer o maldito vilão. Em cada uma de suas histórias de merda. — Theron, que olhou para Isaac como se de repente tivesse começado a queimar vivo, finalmente suspirou e disse: — Não sou como você pensa… Não sou o que pensam.
— A sua história é diferente, então?
— Muito diferente.
— Fale. Talvez eu possa entender um pouco sobre o que pensa.
Theron voltou a olhar para Isaac, que perguntou sobre sua história sem tremer ou desviar o olhar. Ele ignorou sua ansiedade obedeceu. E abriu a boca:
— Elena não tinha que engravidar em primeiro lugar. Era algo que simplesmente poderia se tornar uma situação muito difícil para nós dois. Ela era jovem e seu corpo estava muito fraco… Sei que foi minha culpa, eu entendo perfeitamente também. Como entendi daquela vez. Então, pedi desculpas a ela. Recomendei que desse um fim… Mas ela não me ouviu. ‘Se tiver um filho, Vincenzo vai descobrir’. Eu disse a ela. Mas era muito teimosa em ter o filho.
Tudo começou com um suspiro. Revelando um passado que havia sido enterrado há muito tempo. Theron mordeu o lábio como se essa fosse sua única maneira de conter a raiva. Como se fosse um impulso obsessivo… Isaac esperou em silêncio até então, depois de um tempo, Theron falou novamente:
— Mas Vincenzo descobriu imediatamente. Éramos famílias inimigas e a ideia de ter um filho nosso era inconcebível. Elena era boba e me disse que ia ter o bebê de qualquer jeito. Não sei o que ela esperava, talvez compaixão… Mas só teve uma resposta agressiva. Eu não quero ver você tendo um filho com ele, então nem pense em trazê-lo. Então ele disse a ela para voltar para a Itália e logo ameaçou matá-la, a ela, eu e a criança.
—…
— Ele não era misericordioso. Não iria ouvir Elena, muito menos eu. É por isso que tivemos que continuar fugindo mesmo depois que ela deu à luz. Se Vincenzo nos pegasse, literalmente nós e a criança iríamos morrer.
Theron, esfregando o queixo e os lábios com a palma da mão, como se precisasse de um tempo para respirar, parecia bastante inquieto. As pupilas delatadas se misturavam em sentimentos semelhantes à ansiedade e ao medo. Inclusive estava tremendo ligeiramente e realmente não parecia se dá conta disso, mas sua voz revelava a verdadeira angústia:
— A partir daquele momento ela começou a ficar doente e às vezes via e ouvir coisas que não existiam. O seu pai nos mataria esse medo me a fazia chorar e chorar. Todas as noites.
Theron deu alguns passos involuntários. Ele vai e vem na sala, como se estivesse tentando se livrar de todo o seu aborrecimento e raiva óbvia. Tinha uma cara dura então, Isaac podia sentir um pouco de tudo que estava acontecendo com ele naquele momento. O olhou como se estivesse esperando que ele fizesse alguma coisa. Pelo menos um movimento em falso que desse a ele um motivo para atacar. Uma mão desliza sobre o cabo da arma, mas Theron, que caiu completamente em suas memórias, continua se movendo.
— Ela… Ela realmente chorou e chorou como uma louca. Todos os dias.
—…
— Em vez de melhorar com o tempo, as coisas foram piorando cada vez mais até ficarem insuportáveis. Eu estava farto de tudo isso. Cansado de ter tanta ansiedade e medo por causa dela. Não conseguia nem andar até a esquina sem sentir que me observavam e ela ficou tão visivelmente doente que me contagiou e fiquei louco. A sua obsessão começou a ir longe demais e no final, não confiavanem em mim.
Theron, suspirando joga o cabelo para frente parece muito mais esgotado do que parecia da primeira vez. Ele também parecia ter um rosto muito mais envelhecido…
Cada vez que fala sobre o passado, se sente impotente e com raiva.
— O que você fez em seguida?
Isaac, que só ouvia a história de boca fechada, de repente fez uma pergunta um tanto agressiva. Theron sacudiu os ombros e olhou para ele novamente.
— O que eu fiz?
— Sim. Pela mulher que você tanto amava e seu filho, o que fez?
Sua pergunta foi concisa e clara. No entanto, Theron apenas olhou para Isaac com a boca fechada.
— Pode soar como uma desculpa, mas eu estava… No limite. A situação me superou e… Eu fiz isso por ela, sabe? Tudo que eu pude fazer foi abraçá-la enquanto a via perder o controle. Na época, eu era jovem e Vincenzo… Ele me destruiu. Ele me fez matá-la.
Era uma voz seca. Diferente dos sentimentos que parecia ter nutrido até agora, a nova revelação o levou a uma expressão de choro desesperado. Gritou… E mesmo assim as ondas de tristeza não foram completamente aceitas por seu corpo.
— Vincenzo foi o culpado, Vincenzo me levou ao desespero sem ouvir nossa história primeiro. É por isso que odeio Félix e Vincenzo! Odeio que fale de nós e odeio a estúpida história de amor que ele sempre conta! Tirou tudo dela e ela apenas… Apenas dizia: ‘Meu bebê, meu bebê, tenho que cuidar do meu bebê. Tenho que proteger meu bebê’. Eu odiava, odiava tanto ouvir isso.
—…
— Pode entender meus sentimentos agora? Vê-la assim, ouvi-la… Meu bebê, meu bebê. Aquela não era minha Elena. Eu nem sabia o que era mais importante para ela! Tinha…! Tinha que me livrar dele desde o princípio! Eu deveria ter feito isso muito antes! Desde que saiu dela e começou a chorar! Não queria ver o maldito garoto! Nunca quis ser o pai dele!
Theron abriu os olhos e o olhou como se Isaac fosse o homem que o empurrou do penhasco e gritou com como se não pudesse suportar.
— Mas, sabe o que é engraçado? O garoto por quem a matei, o garoto que roubou Elena de mim, o garoto com quem eu sempre me incomodava foi com ele! O joguei fora, mas ele o pegou! E pensei: ‘Ah, droga! Como faz isso comigo, velho estúpido! Não o odiava tanto a ponto de nos ameaçar?’ Mas ele o ergueu! Me pergunto por que ele mudou de ideia tão de repente. Quando Elena morreu, percebeu algo? Reconsiderou? Sentiu pena do menino?
Theron, que vinha levantando a voz há muito tempo, respirou fundo antes de distorcer o olhar… Então, de repente, riu.
— Não sei por que Vincenzo o criou, mas não se deixe enganar por ele. Mas é melhor tomar cuidado porque esse velho sabe quando e como te apunhalar pelas costas. — Theron, que estava sentindo dor, olhou para Isaac com um sorriso bastante estranho antes de começar a varrê-lo da cabeça aos pés. — Você disse que não me entendia. Entende agora que ouviu minha história? Consegue compreender pouco da minha dor?
De repente, ele perguntou isso com um tom de zombaria completo. Mesmo que tudo esteja perdido no passado, parece sangrar tanto como se nunca tivesse fechado.
— Infelizmente, ainda não te entendo. Talvez porque nossa ideia de amor seja bem diferente uma da outra.
A resposta foi inesperada, então Theron fechou a boca.
O som de ossos quebrando um após o outro continuou por um longo tempo. Os ombros de Theron estão distorcidos de uma forma bastante singular, mas ele só consegue gritar e berrar como se não aguentasse mais um minuto.
— Não era o bastante jogar Félix fora quando ainda era um bebê, não é? Tinha que perturbá-lo e provocá-lo como se fosse a porra de um mosquito na cabeça dele! Ele não consegue falar de você sem fazer uma cara completamente triste… Uau. Acredito que é por isso que não consigo me controlar desta vez.
Isaac protestou enquanto levantava a perna somente para soltar um enorme sapato militar no braço esquerdo de Theron. É um chute atrás do outro até que o som terrível de ossos quebrando seja ouvido novamente.
— Mas quer saber? Não haverá nada para incomodá-lo no futuro. Ele ficará mais forte e feliz também. Vou cuidar disso.
E então, Pok, sua bota se move até quebrar o joelho e também as partes abaixo dele. Logo, os nódulos dos tornozelos e dedos estouraram em uma onda impressionante de sangue e pequenas lascas de ossos amarelados… Mas mesmo que Theron gritasse e ofegasse a ponto de revirar os olhos, Isaac continuava a despedaçá-lo… Como prometido. Afinal, ele havia dito que iria transformá-lo em um corpo inútil.
Por último, Isaac, quebrou as costelas e o rosto dele, virou os olhos e viu o espírito de Theron desvanecer-se em nada.
O rosto de Isaac, olhando para ele, estava quase vazio de emoção quando disse:
— Eu amo o Félix, demais… E é por isso que estou pensando em fazê-lo mais feliz do que qualquer pessoa e afastá-lo de coisas que possam lhe causar algum mal. Sou eu quem o protege. Por favor, não se esqueça disso.
A voz, ainda fluindo descontroladamente na sala vazia, dispersou-se em completo silêncio… Esse foi o último momento em que Isaac enfrentou Theron.
***
— Encontrei uma espécie de refrigerador que continha o sangue. Mas o maldito Theron não foi visto em nenhum lugar. — Era Lucca que estava falando com Félix. Ele tem uma cara extremamente rígida que pingava sangue. Porém, não era dele. — Olha isso, é o que você queria.
Félix tinha respingos de sangue em suas luvas e mangas, olhou silenciosamente para a sacola oferecida e a abriu imediatamente. O saco refrigerado tinha uma pilha de tubos de ensaio com sangue vermelho ao lado de uma etiqueta com seu nome. Exatamente o quanto aquele bastardo tirou dele? Félix, contando os tubos de ensaio existentes, tirou um por um e os jogou sob seus pés. Crash, Crash. Cada vez que as jogava fora, os tubos de vidro se espatifavam e o sangue se espalhava pelo chão, misturando-se com o sangue que já encharcava os paralelepípedos.
Após quebrar todos os tubos, Félix estalou a língua de uma forma irritante. Isso resolveu um problema.
— Onde você está se escondendo, seu rato?
Depois de falar sozinho, Félix jogou no chão a caixa contendo os tubos de ensaio e retirou as luvas com um único puxão. Estão pegajosas, então ele também as joga fora junto com o sangue…
Tudo estava cheio de fluidos avermelhados e cheiro desagradável de pólvora e cadáver. Havia braços por aqui, cabeças por ali, e ainda assim Félix e Lucca pararam no meio de tudo para ter uma conversa bastante estranha. Foram eles que transformaram a área em um inferno, afinal, não havia razão para ficar triste.
— Não há ninguém no prédio?
Depois de tirar as luvas e limpar as mãos, Félix, que continuou a substituir o carregador da metralhadora com movimentos ágeis, perguntou com voz um tanto pesada. Lucca acenou com a cabeça. Tirou a luva com os dentes:
— Matei todos desde o porão até o telhado. Porém, por mais meticulosos que fôssemos ou os lugares que entrássemos, não conseguimos ver ou ouvir Theron. Será que ele saiu antes de começarmos? Como um cachorrinho assustado.
Estava pensando que se sentiria melhor depois que o pegasse, mas sua febre começou a subir quando foi lhe dito que parecia que ele não estava lá. Félix, que se movia com xingamentos e praguejamentos incessantes ficou nervoso depois de consertar a arma e olhar em volta.
Se este era o caso, então não havia motivo para ficar em um espaço morto.
— Bem, vamos ter que procurar mais um pouco, não é mesmo?
— Precisamos limpar tudo isso primeiro, direi aos homens para fazerem isso e depois entrarei em contato com Noah.
— Isso me parece bom.
Depois de ouvir atentamente suas palavras, Félix saiu da sala e caminhou pelo corredor que conduzia diretamente para fora… Embora estivesse mais irritado e ansioso do que nunca. Quanto mais pensa nisso, mais sua cabeça lateja, por isso descer as escadas para o primeiro andar é um tormento. Tem de pressionar a testa com a ponta dos dedos para remover a sensação de que seus olhos vão saltar para fora.
— Chefe!
De repente, alguém correu pelos bastidores, então Félix teve que parar e olhar para trás. Cinco ou seis homens, incluindo Lucca, também o seguiam, então todos pareciam honestamente confusos com a voz. Jack também tinha sangue na cabeça, mas isso não era o mais estranho.
— Por que ele está correndo como se estivesse fugindo de alguém?
— Chefe! Noah quer falar com você e diz ser muito importante!
Antes de perguntar: “O que há de errado?” Antes mesmo de Félix se aproximar para vê-lo melhor, Jack fala com o rosto absolutamente pálido e trêmulo. O homem ficou tão desconfortável com os gritos que imediatamente franziu a testa e cobriu os ouvidos com as duas mãos… Embora também não pudesse repreender Jack.
— O que é? — Félix, que estava olhando para Jack com olhos desagradáveis, estalou a língua e deu alguns passos em sua direção. — Deus, é por isso que você tem que respirar pelo nariz!
Jack, que já corria há muito tempo, tinha o rosto branco-azulado e olhos arregalados. Como se fosse morrer subitamente. Mesmo assim, não conseguia obter o oxigênio direito! Não adianta perguntar o que estava passando quando seu peito subia e descia como um louco.
Com uma atitude trêmula, o pobre homem enfiou a mão no bolso das calças e tirou um fone de ouvido… Antes de chegar a essa casa, recebeu a notícia de que Isaac havia partido. Félix ficou muito irritado com isso e desligou o fone e o jogou no chão com toda a força. Depois disso, quando não conseguiu mais contatá-lo, Noah, que certamente estava frustrado, deve ter falado com Jack.
Félix percebeu a estupidez de sua ação, tirou a minúscula máquina de sua mão e a levou ao ouvido. Ele ligou.
— Agora, Aaah… Noah me aaah… Disse que…
— Está tudo bem, está tudo bem, cale a boca e respire.
Então Félix apenas olhou para seu rosto pálido enquanto gesticulava para que ele calasse a boca de uma vez por todas. E então, repetidamente, gritou o nome do primo até ouvir um som estridente, semelhante a um bipe, que o fez fechar os olhos e segurar o ouvido. Infelizmente, a distância entre Jack e Félix era muito pequena, assim o homem com problemas respiratórios distorce seu rosto também.
— Ah, porra.
— Não é isso que o idiota que tirou seus fones de ouvido merece!?
Ao mesmo tempo, Noah, que é famoso por deixar os nervos à flor da pele, fala como se estivesse muito nervoso e apressado. Félix foi forçado a suspirar por um momento.
— O que foi?
— É um alívio você ter respondido! Ameacei enfiar um vibrador do tamanho do meu antebraço em Jack se ele não chegasse até você em menos de dois minutos.
— Sério? Que cruel! Mas um vibrador do tamanho do seu antebraço não é pequeno?
— Sim? Eu também tenho um que tem o formato de uma mão aberta, talvez esse…
— Diga-me o que você ia me dizer, seu garotinho doentio. Ou vou tirar meu fone de ouvido novamente.
Enquanto descia as escadas novamente, Félix estalou a língua… Ah, ele não conseguia superar que Theron não estar ali, embora tivessem viajado por horas só para isso! No entanto, quando abriu a boca para falar sobre isso, Noah gritou:
— Isaac está a caminho agora mesmo!
Não admira que o passo de Félix tenha parado. Deus, até mesmo os caras que estavam lhe seguindo tiveram que diminuir o ritmo.
— O que você disse?
— Você está com os ouvidos tapados? Isaac está a caminho!
— O que quer dizer?
Sua voz se exaltou sem perceber. É uma coisa lógica, sabe o que isso significa, mas sua cabeça está sobrecarregada e não consegue acreditar… O que aconteceu? Como isso é possível? Desde madrugada ele desapareceu do hospital sem deixar vestígios, por que está indo para lá? Sozinho? Com alguém?
— Você o encontrou?
Em sua mente atordoada, surgiram inúmeras perguntas que continuaram se acumulando e se multiplicando até se tornarem algo terrível. Sua cabeça estava tão atordoada que, logicamente, também se sentiu bastante idiota.
— Noah, me diga, o que aconteceu e como aconteceu? Como assim Isaac virá até aqui?
Era preciso acalmar a cabeça que girava sem parar, mas seu coração batia tanto que podia ouvir no ouvido.
— Não sei exatamente como aconteceu. Primeiro queria informá-lo que Isaac estava a caminho.
—…
— Além disso, a culpa é sua! Porque foi você quem tirou os fones de ouvido!
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Continua…