Beijo do inferno - Capítulo 06
Na manhã de sábado, os dois embarcaram no Legacy 500 para a Itália. Um dos hobbies caros de Ryan era colecionar aviões particulares, e o avião em que eles estavam foi um presente que Ryan deu a Yohan em seu aniversário no ano passado. Depois que Yohan o recusou, Ryan ficou encarregado da administração do avião particular.
Devido a decolagem ter sido cedo, os dois puderam chegar ao aeroporto Peretola de Florença por volta da hora do almoço. O intenso sol italiano derramou sobre seus ombros.
— O carro chegará ao aeroporto em trinta minutos.
Valentine estava usando óculos escuros com seu cabelo naturalmente caindo sobre sua testa. Seu cabelo loiro e pele branca se destacavam contra um moletom preto, calça e tênis cinza.
— Só poderemos ver Grace à noite?
— Sim, até então, vocês dois estão livres para se divertirem.
— Grace está sempre ocupada.
Yohan respondeu com um sorriso malicioso. Vestido com uma malha brilhante, camiseta branca e jeans, parecia mais britânico do que Valentine. O cabelo castanho, que era ralo e facilmente despenteado pelo vento, brilhava intensamente sob a luz, e os olhos verdes também brilhavam, se assemelhavam ao âmbar.
Tanto Yohan quanto Valentine eram muito chamativos, então os olhos daqueles que passavam por eles continuavam observando-os e seguindo-os por onde fossem. Sentindo-se melhor em sua viagem tão esperada, Yohan frequentemente sorria com sua bochecha rosada, e Valentine o encarou com um olhar calmo.
Após uma longa viagem ao longo da encosta sinuosa, ele viu um hotel antigo erguido na colina.
— Uau…Valentine, vem dar uma olhada nisso. A vista é incrível.
Depois de entrar na sala, Yohan soltou um suspiro e correu para a varanda. O luxuoso hotel em estilo villa no topo da Colina Fiesole oferece uma vista panorâmica de Florença. Com um hotel estilo rústico, o interior era espaçoso e confortável, e um ambiente descontraído pairava no ar.
Yohan se encostou na grade e esticou a parte superior do corpo para a frente. Uma suave e refrescante brisa de primavera roçou suas bochechas como se o acariciasse. Era hora dele aproveitar o sol de olhos bem abertos. Valentine se aproximou e estendeu a mão para o cabelo de Yohan. Seu cabelo macio tremulou como uma bandeira entre seus dedos.
— Yohan, seu cabelo fica um pouco avermelhado quando exposta à luz. Você sabia disso?
— Sério? Eu não sabia.
— É bonito e brilhante. Se tivéssemos a mesma cor de cabelo, seríamos mais parecidos?
A expressão de Yohan se tornou estranha com o doce sorriso e sussurro de Valentine. Talvez se deva ao devaneio sem sentido.
— Creio que sim, meu irmão…seus elogios são tão doces, parecem que foram ditos por um amante, Valentine.
Ao mesmo tempo, Julian passou por sua mente. Até mesmo a cena em que seus rostos foram sobrepostos em uma camada.
— …Você ficaria bem com cabelo loiro.
Sentindo-se um pouco desconfortável, Yohan afastou a cabeça da mão de Valentine. Foi quando Yohan, que havia arrumado rudemente seu cabelo bagunçado com os dedos, olhou para baixo.
— O que foi?
Talvez percebendo a rápida mudança, Valentine agarrou o queixo de Yohan com sua mão. Yohan, que de repente virou sua cabeça, abriu seus olhos e olhou para Valentine. As sobrancelhas de Valentine se estreitaram com um olhar de aborrecimento, e ele olhou para cada centímetro do rosto de Yohan. Tentando evitar aquele olhar, que parecia perfurar como uma flecha, Yohan revirou os olhos.
— O que?
— Você está evitando me olhar assim como está fazendo agora.
— Não estava.
— Mentira.
Valentine era muito generoso quando se tratava de Yohan. Mas ele não era tão generoso quanto Yohan estava se escondendo ou evitando qualquer coisa dele. Yohan estava bem ciente da sexualidade de Valentine, mas ele não podia dizer que imaginou ele e Julian se beijando ardentemente. Yohan, que hesitou, escolheu fingir. Contraiu a boca desajeitadamente enquanto a mão segurava seu queixo.
— Não, não estou. A propósito, você não está com fome? Estou morrendo de fome.
Valentine não gostou da cara de Yohan, achou que estava fazendo birra, mas quando Yohan disse que estava com fome, ele não demorou e pegou seu celular.
— O que você quer comer?
— Talvez…pode ser carne?
Com as palavras de Yohan, ele sorriu como se soubesse que ele responderia isso, e chamou o motorista. No caminho, os dois foram a um famoso restaurante local com vista para o rio Arno, onde comeram uma grande quantidade de bife. Depois disso, passamos um tempo vagando sem pressa até o sol se pôr.
Só pelo fato de estarem fora da escola, os dois riam com mais frequência do que de costume, e ficavam felizes até com as coisas mais triviais.
Eles tiraram fotos desfocadas um do outro, compraram pulseiras, que normalmente não comprariam, em lojas vintage ao longo da rua e tomaram sorvetes. Enquanto isso, o sol brilhante estava desaparecendo e caindo ao fundo.
— Oh espere, Grace.
Nessa hora, Valentine colocou um chapéu de couro de aparência engraçada na cabeça de Yohan, eles estavam em uma loja de designer. O rosto de Yohan se iluminou quando ele tirou o celular do bolso. Segurou a mão de Valentine e apertou o botão de chamada. O calor do corpo um do outro estava entrelaçado como se fossem um só. Yohan falou com Grace ao telefone enquanto Valentine inclinava a cabeça em um ângulo e olhava para a mão dele com um rosto inexpressivo.
— Grace, você terminou? Uh…você já está no hotel? Estamos na cidade agora. Não é longe, então iremos para lá. Até mais.
— Ela já chegou?
— Sim, está no hotel. Ela quer jantar. Podemos voltar?
— Ok, vou ligar para o motorista.
Chegando ao hotel, foram direto para o restaurante ao ar livre. Embora não fosse muito grande, o restaurante com vista panorâmica de Florença foi decorado de forma romântica e luxuosa. E no fundo do restaurante, em um local com a melhor vista, uma bela mulher em um vestido elegânte bebia e apreciava um aperitivo.
— Mãe, estamos aqui.
— Rapazes!
Vendo Yohan e Valentine, Grace deu um pulo e abriu os braços. Os filhos, que haviam crescido muito para serem abraçados em seus braços esguios, silenciosamente curvaram-se para ela.
— A quanto tempo?!
— Como você está?
— Bem, você fica maior a cada vez que te vejo.
— Eu acho que quanto mais eu olho para Grace, mais bonita ela fica.
— Oh, Yohan. Ser gentil.
Grace sorriu alegremente e acariciou a cabeça de Yohan. Apesar da idade, Grace ainda era jovem e bonita, embora tivesse mais de quarenta anos. Do contrário, não havia motivo para os garçons uniformizados espiarem por ali constantemente.
— Vamos sentar. Estão com fome?
— Nós estamos bem.
— Mesmo assim, veio para a Itália com muito esforço, então por que não comer frutos do mar? Além do mais, mesmo se você for menor de idade, uma taça de vinho seria suficiente.
Grace apertou os olhos para os dois e imediatamente pediu uma salada, um prato de frutos do mar e vinho branco. Nem Yohan nem Valentine tiveram a chance de abrir o menu. Sua personalidade egoísta, mas irresistível, foi um legado que Valentine herdou.
Grace exclamou, erguendo sua taça de vinho.
— Vocês não sabem o quanto estou feliz por vocês estarem aqui. Agora sou a mulher mais feliz do mundo.
O céu, onde o sol desapareceu completamente, tinha uma tonalidade azul clara. Luzes redondas pairando no ar se acenderam uma a uma, e a cidade sob a colina começou a brilhar como uma ilha de vagalumes. Já faz algum tempo que melodias românticas fluem ao vento. Belas paisagens, refeições deliciosas, vinhos moderadamente agradáveis e até companhia da pessoa amada. Tudo conspirava para ser uma noite perfeita.
Na verdade, se Grace não tivesse ficado bêbada muito rápido, teria sido uma noite perfeita.
— Presidente, vou leva-la primeiro.
— … Eu disse para você comer devagar.
— Não tenho conseguido dormir bem por causa da minha carga de trabalho pesada e parece que estou me sentindo melhor depois de reencontrar meus filhos.
— Eu te imploro.
Uma secretária e um grupo de guarda costas, que os observava de longe, abordaram e levantaram Grace. Menos de uma hora depois de se sentar, Grace, que bebia vinho sem parar, de repente começou a cochilar. A secretária, que estava observando a princípio, não aguentou mais quando Grace quase bateu com a cabeça na mesa, então, depois de pedir sua compreensão, ela desapareceu com ela. Os dois que ficaram na mesa olharam fixamente um para o outro, caíram na gargalhada. Valentine murmurou, pressionando suas pálpebras firmemente com as pontas dos dedos.
— Ela nos chamou até Florença e partiu sem estar conosco por uma hora. Da pra acreditar?
— Como assim?… Podemos tomar café da manhã juntos amanhã. Calma.
— Vá com calma, você deveria moderar na bebida.
Valentine, que respondeu com uma cara apreensiva, levantou a mão levemente e chamou o garçom. Então pediu outra garrafa de vinho. Yohan perguntou a Valentine com uma cara surpresa.
— Chama minha atenção e vai beber mais?
— Não estamos na escola. Até Grace se fará de desentendida. Você ainda não está bêbado?
Na pergunta de Valentine, Yohan balançou a cabeça. Ele não só poderia ficar bêbado com uma ou duas taças de vinho, mas também se sentia arrependido por terminar a noite assim.
O garçom trouxe uma nova taça e serviu o vinho com grande habilidade. Valentine sorriu e levou o vinho aos lábios. O homem bonito e brilhante sentado contra uma paisagem pitoresca era definitivamente o tipo de coisa que chamava a atenção. Yohan engoliu o vinho, olhando para a escuridão azul que descia atrás daquela cabeça loira brilhante. A acidez pesada e macia formigou em sua língua.
— Hoje realmente…me sinto bem.
À medida que o vinho entrava, um após o outro, os parafusos da mente e do corpo se afrouxaram. Yohan jogou fora as maneiras que usava até então, ergueu os braços sobre a mesa e apertou a bochecha. Os olhos semicerrados, os cantos dos olhos mais vermelhos do que o normal, a vermelhidão nas bochechas antes pálidas e os lábios vermelhos brilhantes. Era um rosto que parecia um sonho. Depois de olhar fixamente para o céu por um tempo, Yohan respirou fundo e fechou os olhos. Cílios longos e densamente preenchidos tremiam levemente na luz.
— É legal. Exatamente…como se estivesse no céu.
Depois de sentir a brisa roçando suas bochechas por um tempo, Yohan lentamente abriu os olhos. E a primeira coisa que apareceu foram seus olhos azuis como o mar. Valentine estava olhando atentamente para ele. Yohan ergueu o lábio em um ângulo e sorriu maliciosamente.
— Por que você está fazendo isso?
— O que você quer dizer?
— Está me olhando com olhos cobiçosos.
— Eu?
— Sim, você as vezes faz isso, não com frequência, mas faz. Não sabia?
Tudo o que ele não teria dito normalmente, saía da sua boca enquanto ele estava bêbado. Valentine encarou seu queixo com um olhar de quem não esperava ouvir tal coisa. Mas foi obviamente interessante que logo se ergueu acima de seu rosto. Valentine, que cruzou os braços para frente, respondeu com um suspiro e risos.
— Achei que seria chato, mas não foi.
— O que você disse?
— Nada. Mas, Yohan…
— Sim, Valentine.
— Eu tenho uma pergunta. Você pode me responder?
Valentine perguntou, inclinando sua cabeça como se hesitasse. Uma mão se esticou sobre a mesa e agarrou levemente o cotovelo de Yohan. Os ombros de Yohan tremeram levemente com a sensação de tatear lentamente sua camisa fina. Talvez tenha sido porque ele ficou bêbado e seu corpo ficou quente, ele estava reagindo até aos toques mais sutis.
— O que?
— Você vai me responder?
— Sim, irei. Qual é o problema?
— Você já beijou?
O corpo de Yohan estremeceu com as palavras de Valentine. Foi uma pergunta que nunca pensei que escutaria. Mas ao contrário de Yohan, que estava envergonhado, Valentine estava apenas descontraído.
— …Por que
Yohan, que lambeu os lábios, devolveu a pergunta a Valentine ao invés de responder mansamente. Como mecanismo de defesa, sua voz tornou— se aguda. No entanto, com uma cara que realmente não se importava, Valentine respondeu com orgulho, como se estivesse reivindicando seus direitos.
— Você disse que responderia.
— Não isso, por que você está perguntando disso em primeiro lugar?
— Se eu te disser o por quê, você vai me dar uma resposta honesta?
— Não sei. Depois de ouvir eu decido.
Valentine, que estava olhando para Yohan suavemente, disse em tom arrogante:
— Eu beijei Julian.
Paft
E com as palavras de Valentine, a pedra que estava presa no fundo do coração de Yohan rolou. Ele já sabia, mas quando Valentine confirmou com a própria boca, Yohan finalmente se sentiu estivesse bêbado.
— …O que está acontecendo comigo?
Frustrado, Yohan pressionou os lábios contra as costas da mão. Os lábios que cobriram a pele queimavam como se estivessem em uma onda de calor. Valentine apertou seu braço em sua mão como se isso fizesse sair uma resposta da boca de Yohan. E, felizmente, a voz de Yohan, que veio um segundo depois, não era diferente do normal.
— O que?
— Huh.
— Uh…quer dizer, parabéns…
— Fiquei um pouco surpreso por mostrar ironia. Tem certeza que está bem?
A expressão de Yohan desmoronou mais uma vez, apesar de seus comentários irônicos e de seus esforços. Mas mesmo no meio disso, ele estava pensando, ‘Foi a primeira vez de Valentine?’ Se Valentine fosse tão bom nisso quanto ele imaginou, ele não teria feito tal pergunta em primeiro lugar.
Ao pensar tanto nisso, um sentimento estranhamente tranquilizador deixou Yohan ainda mais confuso. Ficou chocado com as palavras de Valentine, aliviado de sua inesperada imaturidade, mas então, imaginou os dois entrelaçados, e não conseguia descobrir o porque de sua mente estar impaciente novamente. Por que pensaria nisso? Yohan mordeu o lábio dolorosamente. A dor aguda das membranas mucosas moles, martelou em sua cabeça. Era hora de Yohan tentar de alguma forma encobrir o conflito interno. Ele gentilmente puxou o braço que Valentine estava segurando, o incitando a responder.
— Yohan, me responde. Você já fez isso?
— …
— Você tem alguém?
Yohan, que hesitou por um momento, balançou a cabeça lentamente. Na verdade, ele nunca beijou ou sentiu que gostaria de beijar, mas de alguma forma seu orgulho foi ferido, para ser honesto. Pensando bem, Gregory conseguiu uma passagem de solteiro a namorando aos 12 anos e Dominic aos 15. E por 18 anos da sua vida, ele foi o único que permaneceu solitário. Sempre teve orgulho desse fato, mas se sentiu envergonhado por revelar que nunca tinha beijado Valentine. De qualquer forma, ele era mais velho que Valentine, e não queria olhar para ele.
— Sim existe.
Por causa desse sentimento, Yohan mentiu. E em resposta a isso, uma luz azul brilhou nos olhos de Valentine por um momento. Um silêncio frio pairou sobre a mesa, como se a água estivesse derramando de um balde de gelo intangível. Valentine, que estava encarando Yohan com um olhar vazio, perguntou em uma voz sem voz.
— Você fez isso?
— …
— Quando?
— …
— Com quem?
— …Não posso te dizer isso.
Era uma pergunta que não pôde ser respondida porque não havia ninguém em primeiro lugar. Quando o mudo Yohan se aproximou, Valentine bateu na mesa com um certo ritmo como se estivesse pensando em algo. Depois de um momento de silêncio, Valentine olhou para cima novamente, e Yohan, que parecia ter sido esfaqueado, evitou o olhar.
Analisando o olhar trêmulo de Yohan, Valentine murmurou baixinho para si mesmo.
— Pensei que soubesse tudo sobre você, mas acho que não era o caso.
— Que, do que você está falando?
— Simplesmente não consigo imaginar com quem você fez isso.
— …
— Bem, você pode me contar depois.
A atmosfera era de alguma forma estranha. A cabeça de Yohan gradualmente virou em direção ao chão sob a pressão estranha. Yohan estava apertando a mão que segurava seu braço, Valentine enrolou os cantos de sua boca. No entanto, seus olhos ainda estavam frios e fundos.
— Então, como você se sentiu?
— Huh?
— Como você se sentiu quando o beijou?
— …Eu acho.
— Não era eu.
Yohan levantou a cabeça com a resposta inesperada, ficou em silêncio por um momento porque não sabia o que dizer, assentiu com relutância, incapaz de superar o olhar de Valentine, que o incitou a responder.
— Certo…
— Você disse que Julian era bonito, mas quando ele pôs a língua na minha boca e as coisas dele esfregam nas minhas coxas foi simplesmente desagradável. (N/T: Está se referindo ao órgão genital.)
Yohan não conseguiu esconder sua expressão de surpresa com as declarações diretas que lhe acertaram golpes repetidos. Sem saber, Yohan revirou os olhos, com o braço ainda preso pelo aperto de Valentine. Eles não podiam ser chamados de amigos íntimos, mas por algum motivo, por um momento, Julian se tornou alguém lamentável.
— Bem, não sei o que dizer. Julian deve ter ficado chateado. Ele parecia gostar muito de você.
— Yohan, por que você está se preocupando com Julian de repente?
— O que? Por que você está falando sobre isso de repente?
— Você tem falado sobre ele desde a última vez.
Valentine agarrou o pulso de Yohan novamente com uma expressão insatisfeita. Yohan fechou seus lábios com um olhar preocupado. Ele sabe que Valentine está entendendo algo mal , mas não conseguia descobrir como explicar isso.
Yohan não se importava com Julian. Não estava nem aí pra ele.
Que tipo de expressão Valentine faria se Yohan dissesse que se preocupa com ele e Julian, e o fato de que está ansioso por eles se tornarem adultos antes dele? Por ter sido omisso, Yohan se perguntou como sairia dessa situação difícil.
— Yohan, eu perguntei a você.
Valentine apertou o pulso de Yohan pedindo uma resposta. Foi um toque áspero. Os dedos de Yohan se dobraram naturalmente em uma cócega inesperada. Tentando afastar o humor sutil, ele balançou a cabeça.
— Foi só…não foi nada, ao invés disso, você não estava namorando Julian?
— Eu? Por que você acha isso?
Havia um sorriso de escárnio óbvio em seu rosto. Naquele momento, um desconforto desconhecido estimulou Yohan. Nesse ponto, pressentiu um aviso da razão, de que seria melhor mudar a conversa, mas a boca de Yohan se moveu de forma irregular. Perguntas não refinadas, como flechas que saíram de sua boca, foram direcionadas a Valentine.
— Então é porque você queria me beijar?
— Não era isso que eu queria.
A resposta irresponsável fez Yohan chorar sem motivo. A voz da auto resposta se acelerou.
— Então você apenas o deixou fazer isso? Você nem mesmo gosta disso. Por que…
— Eu não sei…
— …
— Não sabe qual a razão? Tenta adivinhar.
Agora era uma pergunta que até parecia uma brincadeira de criança. De vez em quando havia momentos assim, mas Valentine hoje foi especialmente difícil de entender. Yohan, sem palavras, fechou a boca se tivesse medo de dizer algo que fosse se arrepender depois. A melodia do violino misturou-se ao silêncio monótono que fluía entre eles.
— Beijar alguém…me sinto estranho porque você disse que gostou.
Quanto tempo passou enquanto Valentine murmurava para si mesmo com uma expressão sombria em seu rosto. Havia uma expressão melancólica em seu belo rosto e quando ele baixou a cabeça, o cabelo loiro que parecia ter soltado mel em mechas flutuou sobre sua testa. Assim que viu aquele rosto triste, Yohan proferiu palavras de conforto involuntariamente.
— É estranho…não sei explicar.
— Por quê?
— …
— Você disse que foi bom. Por que você está assim?
— Não sei…vamos…
Valentine escolheu o assunto errado para conversar. Com esse pensamento em mente, Yohan balançou a cabeça com força.
— Será que é porque você não estava muito afim de Julian? Acho que seria diferente se você estivesse com alguém de quem você realmente gosta…
— Você acha?
— …Quem sabe?!
Yohan não sabia se isso funcionária, ele nem mesmo nunca beijou na boca. Essa era uma verdade incontestável, Yohan apenas assentiu. Valentine, que estava olhando para Yohan, sorriu levemente. Então, como se estivesse em conflito, ele inclinou a cabeça para trás e estreitou a sobrancelha.
— Se for esse o caso, Yohan…
— Huh.
— …Posso tentar com você?
E as palavras que saíram de boca de Valentine eram do tipo que Yohan nunca havia imaginado. Depois de piscar por alguns segundos, Yohan reconheceu as palavras de Valentine. Mesmo assim, ele ainda não poderia responde-lo imediatamente, então ele perguntou inexpressivamente.
— Que?
— Faça isso comigo.
— Como…
— Beijo.
Foi estranho. Claramente, ambos os ouvidos estavam abertos, mas ele não conseguia entender o que Valentine estava dizendo. Embora o choque tenha o feito congelar, um canto de seu coração reagiu mais rápido do que sua cabeça, era como se estivesse em chamas.
— O que você quer dizer?
Yohan sentiu uma repentina e pesada corrente de ar em suas bochechas tensas. Sorriu como se tivesse ouvido uma piada estranha, mas Valentine apenas o encarou sem muita mudança em sua expressão. Por causa disso, o sorriso anormal que pairava na boca de Yohan logo se dispersou como areia.
— O que eu quero dizer?
— Não entendi.
— …Claro que entendeu.
— Apenas imaginei, que você se sentiria melhor, se fosse com alguém que você gosta.
— Qualquer coisa é melhor se for com você. Então, Yohan, vamos nos beijar.
Valentine pediu para beijá-lo.
O rosto de Yohan, que não conseguia mais escapar da realidade, ficou vermelho em um instante. Yohan não conseguia descobrir se o calor insuportável estava se espalhando por todo o seu corpo era simplesmente por causa da embriaguez ou outra coisa.
— O que você quer dizer? Que idiotice.
Yohan bagunçou sua franja e respondeu apressadamente. Sua própria voz tremia com uma ressonância fraca que ele podia ouvir a si mesmo. Valentine, que assistia com atenção a reação infantil de Yohan, sorriu suavemente. Como de costume, uma voz calma fluiu lentamente sobre seus lábios vermelhos.
— Você se lembra?
— Do que?
— Quando te ajudei com a lição de casa antes, você disse que poderia fazer qualquer coisa que eu quisesse.
— Espere, isso é…
— Vou usar essa chance agora.
Assim que ele terminou de falar, Valentine agarrou o braço de Yohan. Devido a esse aperto, a taça de vinho que estava encostada no braço de Yohan tombou, deixando um rastro vermelho na toalha de mesa branca. Valentine, que se levantou primeiro, agarrou Yohan e o levantou. Olhos azuis cheios de um olhar divertido olharam para ele com alegria.
— Vamos lá.
— Espera um pouco.
A frágil recusa de Yohan parecia inédita para Valentine. Enquanto Yohan, que de repente se levantou, estava tentando acalmar sua mente, Valentine deu passos adiante. Depois de passar pelos guardas que não podiam nem imaginar o que estava acontecendo entre eles, Valentine sem hesitação apertou o botão do elevador para a suíte.
O pulso de Yohan ainda estava fortemente cerrado. Yohan tentou pensar racionalmente tanto quanto possível, mesmo em seu estado frenético. No entanto, seu cérebro que parou de funcionar não estava agindo corretamente.
Thump thump thump
Seu coração batia tão forte que parecia que ia saltar para fora das suas costelas.
Ding
Quando o elevador abriu a porta, apareceu novamente o quarto de hotel onde havíamos deixado suas bagagens durante o dia. Valentine conduziu Yohan e caminhou em direção ao quarto em grandes passadas.
— Vamos, espere… Valentine!
O próprio Yohan nunca considerou que ele era fisicamente inferior, mas estava longe de ser capaz de parar Valentine. Seu corpo cambaleante se moveu impotente atrás de Valentine, e em segundos uma ampla cama estava bem na frente dele.
— Valentine!
Pouco antes de ser jogado na cama, Yohan reuniu todas as suas forças e puxou Valentine. Valentine fez uma pausa e olhou para ele em silêncio. Yohan abriu a boca apressadamente.
— Ei, não faça isso.
— …
— Você não pode fazer isso. Você sabe…ah, não faça.
Uma voz que ainda não havia escutado, o fazia tremer devido ao som miserável. Mas Valentine apenas sorriu, como se tivesse ouvido uma piada muito ridícula.
— Ei, Yohan…
Com a cabeça inclinada para baixo e um sorriso lascivo, Valentine se endireitou na escuridão. O corpo, que sempre parecerá grande, parecia ainda maior no escuro. Enquanto Yohan estremecia com a pressão desconhecida, Valentine sussurrou em uma voz que parecia atrair uma criança com doces.
— Por quê? Porque você é meu irmão?
— …
— Provavelmente não é algo que possamos definir em termos tão gerais.
— Valentine, mas eu…
— Você é só você. Apenas existe.
— ….
— No momento, eu só quero provar sua boca.
Foi estranho. É impossível para um beta sentir algo como o feromônio de um alfa, mas o coração de Yohan bateu forte com as palavras vulgares e gritantes. Era como se o cérebro engolindo pela embriaguez tivesse enlouquecido e os cantos de sua cabeça parecessem derreter. Lambendo o rosto rígido de Yohan completamente com seus olhos, Valentine sussurrou em seu ouvido com voz baixa.
— Você também sabe o que seus superiores fizeram sob o pretexto de legitimidade.
— …
— Eu não quero fazer sexo, relaxa, por favor.
‘…Quem é o homem na minha frente? O Valentine que conheço é realmente capaz disso?’
Era hora de Yohan apresentar uma questão de bom senso em sua cabeça. Uma coisa suave e quente de repente tocou os lábios de Yohan, quando ele baixou a guarda. O corpo de Yohan tremeu muito quando percebeu que eram os lábios de Valentine. Valentine, atento à resistência de Yohan, o empurrou com força contra a parede.
— Ugh …!
Yohan tentou empurrar Valentine para longe, mas seu corpo sólido permaneceu firme. Em vez disso, enquanto ele estava envergonhado, uma língua quente e úmida explodiu em sua boca. Essa sensação é tão…
O vinho que bebeu no restaurante a noite, era como se estivesse explodindo devido a embriaguez, como bolhas em sua cabeça. Seu corpo inteiro perdeu as forças em um instante.
A língua, que rompia os lábios e tocava bem no fundo, estava queimando e escorregadia. Esfregou e varreu a boca de Yohan como uma criatura tentando saciar sua fome. Cada vez que a língua de Valentine tocava na membrana mucosa macia, o cérebro de Yohan perdia sua função. Dois punhos se levantaram para tirar Valentine da consciência, apertando sua camisa.
— Ugh…
Valentine se entregou à boca de Yohan sem piedade. Quando Yohan empurrou sua perna, apoiou o corpo no de Valentine, que desabou sob as pernas dele.
Sigh
Yohan abriu a boca em busca do oxigênio que lhe faltava. Valentine, que deu um momento para respirar, colocou os lábios novamente. O movimento de lamber a boca como um sorvete fez Yohan se sentir completamente sem noção.
— Hmph…
Yohan, que estava impotente seguindo o movimento de Valentine, não aguentou mais e puxou a cabeça para trás. A falta de ar ardia em seu peito. O peito reto de Yohan inchou violentamente e repetidamente se extinguiu. Valentine, que deixou Yohan ir, riu e sussurrou suavemente em seu ouvido.
— Yohan, você pode respirar enquanto beija.
— …
— Nenhum dos seus ex amantes lhe contou sobre isso?
Uma explosão de calor surgiu no rosto de Yohan com as palavras de Valentine. Yohan percebeu intuitivamente, o fato de que a história de sua própria experiência, que ele fingia ser pomposa, era uma mentira. Valentine sabia desde o início. A vergonha inflou seu coração com o ímpeto de explodir.
— Está bem, está bem…Agora saia daqui imediatamente.
Yohan empurrou apressadamente o peito de Valentine e virou a cabeça. Ainda sem fôlego, seu peito magro subia e descia abruptamente. Yohan fechou os olhos com força, tentando se afastar de Valentine de alguma forma. Ele não teve coragem de saber para qual tipo de rosto estava olhando. Mas aquele corpo forte não tinha a intenção de recuar.
— Não, não o suficiente ainda.
— …
— É estranhamente bom. Se isso for normal, Yohan…
Valentine curvou sua cabeça e pressionou seus lábios molhados perto da orelha de Yohan. Seus ombros sensíveis tremeram com a sensação da epiderme de seus lábios que estavam mais quentes do que o normal, roçando nos lóbulos de suas orelhas. Valentine disse, segurando os pulsos de Yohan com força.
— Você é meu primeiro.
… Quero fazer mais.
Assim que as palavras terminaram, Valentine mais uma vez cobriu seus lábios. A temperatura que caiu contra Yohan, era quente o suficiente para leva-lo para outro mundo. Mais uma vez, Yohan fechou os olhos inconscientemente, sentindo um lado de seu cérebro derreter em temperatura de ebulição. Algo que não sabia ao certo, uma dor de cabeça…
Yohan, guiado pela mão de Valentine, sentou-se na cama e um lençol frio tocou suas costas. Um corpo enorme lançou uma sombra escura sobre Yohan. As bochechas presas nas grandes palmas ardiam como se estivessem queimando. Ele chupou os lábios, enrolou a língua no fundo e fez cócegas no céu da boca, causando um som de formigamento no peito.
‘Isso é loucura. Ambos somos loucos…’
Yohan pensou com a cabeça tonta. Um aviso do inconsciente de que isso não deveria ser feito piscou em minha cabeça. ‘Bebi muito?’ Agora, não conseguia pensar racionalmente porque os lábios de Valentine eram tão bons que lhe causavam tremores.
Não deveria fazer isso.
Mas não importa o sinal que sua razão envie, o fato importante é que os dados do destino já foram lançados sem misericórdia. Com medo do dia que estaria esperando por eles depois desta noite, Yohan fechou os olhos.
No final, tudo o que ele pôde fazer foi engolir a respiração ofegante e enterrar a cabeça na grande mão que envolveu sua bochecha.
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Tradução e postagem original por Wasu Traduções.
Reupado com autorização de Wasu Traduções.