As Circunstâncias de Vivian - Capítulo 10
— Quantos… quantos cavaleiros estão indo…?
O Conde Lector mal conseguia falar e passou a mão pelo rosto. Parecia imaginar sua filha sozinha em um lugar que nem queria pensar. Vivian, ao ver o Conde tremendo, lembrou-se de Roger.
Na verdade, os rumores que Vivian ouvira inúmeras vezes pouco antes de ir estudar no exterior pareciam difíceis de acreditar.
Ela tinha três imagens do homem chamado Roger.
A figura dos rumores, a pessoa real e a que aparecia em seus sonhos.
As três formas eram como cascas, mas o que havia por dentro era completamente diferente. Claro, a que Vivian mais conhecia era a dos seus sonhos. Ao mesmo tempo, ela se perguntava se ele também sonhava como ela.
‘Só que eu nem posso perguntar.’
Era frustrante que não fosse fácil, já que o relacionamento deles envolvia casos de amor intensos.
Vivian voltou a si ao ouvir o som da xícara sendo colocada na mesa. Seguindo o olhar do Conde, ela encontrou os olhos da Condessa, que estava preocupada com ela.
— Vivian, você não precisa assumir toda a responsabilidade sozinha.
— Eu estou bem, sério.
Vivian suspirou, pois seus pais ainda a consideravam jovem demais. Era compreensível. O Conde e a Condessa nunca haviam visto o poder de Vivian em ação.
— Não sei exatamente o que os preocupa, mas mesmo que eu esteja em perigo, consigo lidar com isso.
Vivian ergueu o punho, e uma aura forte emanou dele.
Mesmo assim, a expressão preocupada do casal não desapareceu facilmente.
— Quando o Imperador começou a falar sobre estudos no exterior e medalhas, achei suspeito. Mas não esperava que ele fizesse uma proposta assim…
Disse o Conde Lector com uma expressão sombria, como se toda a situação fosse culpa dele. Vivian ficou sobrecarregada pelas tentativas dos pais de desfazer o que já havia sido decidido.
— Vou ao palácio agora mesmo…!
— Pai, mãe. Vocês nunca me viram usar meus poderes, não é?
— Hm?
O Conde, que havia endurecido o rosto em fúria, ficou sem jeito. Vivian se levantou, achando que seria melhor mostrar do que tentar convencê-los com palavras.
— Vamos ao jardim, não se preocupem. Vou pegar leve.
🌸🌸🌸
Enquanto isso…
A hora do chá ainda acontecia animadamente em uma sala privada do Palácio Imperial. Na verdade, era estranho chamar aquilo de “hora do chá”, já que o chá só havia sido servido, mas ninguém o havia tocado.
O dedo do Imperador batia levemente na mesa, como se estivesse tocando uma melodia. Apesar do ritmo sutil, Roger, do outro lado, estava sentado em silêncio, como se não ouvisse nada.
Pensando que ele era como uma pedra, o Imperador tomou um gole de chá lentamente.
— Não precisa fingir que estão noivos.
Assim que colocou a xícara de volta, o Imperador soltou a frase.
Os olhos de Roger se voltaram para o Imperador. Ele não respondeu, embora tenha entendido rapidamente. O Imperador, já acostumado ao seu silêncio, nem se incomodou.
— De qualquer forma, é necessário evitar os olhos da nobreza, afinal.
Roger respondeu após um tempo.
O Imperador riu e assentiu. Colocando a xícara cuidadosamente, olhou para Roger com interesse.
Para o Imperador, Roger era um homem realmente incomum.
Enquanto todos os cavaleiros tremiam diante do Imperador, o homem permanecia indiferente, como sempre. Mesmo quando tinha um status mais baixo, agia com a mesma confiança, como se o imperador não fosse importante.
Era evidente por que o Imperador o mantinha por perto, mesmo parecendo arrogante à primeira vista.
Roger era forte. É mais reconfortante tê-lo ao seu lado do que dez cavaleiros habilidosos.
No entanto, o Imperador confiava nas habilidades da espada do homem, mas não nele como pessoa.
Era alguém que brandia a espada mais rápido que a luz e, se você se distraísse por um segundo, poderia ser atacado pelas costas. Além disso, aqueles olhos amarelos-acinzentados eram perturbadores —porque nunca revelavam nada. 🥰
A relação entre o Imperador e Roger era puramente de interesse mútuo. O Imperador queria se livrar das ameaças que o cercavam, e Roger…
‘Eu não sei.’
Ele não sabia o que o homem queria, nem o que esperava dele. Isso deixava o Imperador desconfortável.
Uma pessoa que ele não podia controlar por dentro. Para o imperador, Roger era exatamente assim.
Suas ações do dia anterior também eram de intenções desconhecidas.
Originalmente, o Imperador planejava um noivado falso entre Vivian e Roger para despistar os olhares dos nobres. Mas, após refletir, concluiu que não era necessário. Principalmente porque Roger também havia recusado a ideia.
O Imperador descartou o noivado dos planos e apenas comunicaria a Vivian a situação.
Porém, de repente, Roger mudou de ideia. Especificamente, após o baile onde Vivian apareceu pela primeira vez.
“Farei o que Vossa Majestade ordenou da última vez.”
“O quê?
“Sobre fingir estar noivo da senhorita Vivian Lecktor.”
Ao ouvir isso, o Imperador armou a encenação do falso noivado.
“De repente? Não havia recusado?”
“Decidi que é melhor seguir suas ordens para evitar suspeitas.”
A resposta seca de Roger encerrou o assunto ali, mas o Imperador sentiu algo estranho. Roger não era do tipo que voltava atrás em suas palavras. Por que mudaria de ideia tão facilmente?
O Imperador, sempre perspicaz, ficou cheio de dúvidas. Mas não disse nada. Sabia que Roger não daria uma resposta direta.
Então, após falar com Roger, o Imperador consultou Vivian. Incluindo o caso do noivado quase descartado.
Vivian ponderou por um longo momento e soltou um suspiro profundo, antes de aceitar, mas ao ouvir as condições, seus olhos azuis, como o céu claro, brilhavam como joias. A pureza neles revelava que ela havia vivido uma vida protegida até então.
O Imperador desejava que ela não perdesse aquele brilho enquanto estivesse a serviço no Oeste.
— A senhorita Lecktor voltará ao Palácio Imperial em três dias, então por favor, apresente-a aos cavaleiros do Lorde nessa ocasião.
O Imperador sempre se referia aos Cavaleiros de Eckhart como “os cavaleiros do Lorde”—uma forma de reforçar que aquela ordem existia apenas por causa de Roger.
— Mas não sei se a senhorita vai aguentar. Mesmo que tenham melhorado, os cavaleiros do Lorde ainda são bem rudes.
O Imperador sorriu, como se achasse graça na situação. Mas sua expressão mostrava que, no fundo, isso não era problema dele.
Roger moveu os olhos discretamente, imaginando a preocupação do Imperador. Então sorriu de forma quase imperceptível — tão rápido e sutil que o Imperador nem notou
— Provavelmente sim.
Como se falasse de alguém que conhecia bem, Roger respondeu de forma concisa.
🌸🌸🌸
Vivian engoliu seco.
Não conseguia evitar um certo nervosismo. Quanto mais pensava, mais se arrependia. Por aceitar tão facilmente.
‘Era sobre o negócio do papai e a doença da vovó, então não pude recusar.’
A ideia de recusar só apareceu porque ela não queria lidar com Roger.
Vivian balançou a cabeça. Já que usou seus poderes para convencer os pais, tinha que ir até o fim. Se a missão der certo, o negócio do pai irá decolar e a doença da avó melhorará.
Vivian cerrou os punhos, reforçando sua determinação.
O lugar onde desceu da carruagem era a ala nordeste do Palácio Imperial. Enquanto outras áreas estavam iluminadas pelo sol, esta tinha uma energia sombria e estranha. Na entrada, havia uma placa dourada com o nome “Eckhart”, com a assinatura do Imperador abaixo—um sinal de que fora concedida por ele mesmo.
Vivian hesitou, parando diante da enorme porta fechada.
‘Devo voltar agora mesmo?’
‘Será que não posso adiar só um dia?’
Um conflito interno a consumia.
Foi então que ouviu passos. O som vinha de dentro do palácio, crescendo à medida que se aproximava.
Vivian percebeu que alguém estava saindo e tentou se esconder, mas já era tarde. Antes que pudesse reagir, a porta se abriu.
Seus olhos encontraram cabelos vermelhos escuros—como sangue. O rosto abaixo deles era tão impassível quanto sempre.
Ele pareceu surpreso ao vê-la parada ali, mas logo recuperou a compostura.
— O que está fazendo aqui?
— Bem, acabei de chegar e estava entrando.
Mentira. Ela estava ali há dez minutos, hesitando. Roger a observou em silêncio, como se tentasse decifrar a verdade.
Sob aquele olhar fixo, um suor frio escorreu pelo pescoço de Vivian.
— Venha comigo.
Roger voltou para dentro do palácio.
Vivian arregalou os olhos, confusa.
— Senhor, você não estava saindo?
Roger, que parecia ter pressa, agora voltava. Parando diante da pergunta, ele passou a mão pelos cabelos, despreocupado.
— Vou apresentá-la primeiro.
Parecia que, embora tivesse algo para fazer, não podia deixá-la sozinha.
Dito isso, ele se afastou, abrindo caminho para ela. Quando Vivian deu um passo, Roger assumiu a liderança naturalmente.
O seguiu em silêncio, como na noite do baile.
O homem era diferente dos rumores. Se fosse como diziam, ele já teria virado as costas e desaparecido. Vivian refletiu, observando suas costas largas enquanto caminhavam pelo palácio.
Caminharam um bom tempo sem trocar uma palavra.
Vivian percebeu, acima de tudo, que ele não tinha um temperamento gentil. Mesmo caminhando juntos, ele mantinha uma distância firme, como em uma formação militar—um método eficaz para evitar qualquer conversa desde o início.
Continua…
Tradução Elisa Erzet