As Circunstâncias de Vivian - Capítulo 09
— Não podemos mais deixar o Oeste assim. Talvez o muro resista até que Miriat me suceda como Imperador.
Miriat era o nome da primeira princesa, que herdaria o trono. Como ele disse, o muro havia sido construído há muito tempo e já estava bastante deteriorado, enquanto o número de bestas demoníacas aumentava sem fim.
— Eu estava pensando em como resolver isso quando soube que encontraram a única elementalista do nosso império.
O rosto de Vivian empalideceu.
— Então o senhor está me dizendo para erradicar todas essas bestas demoníacas?
O Imperador riu, como se a imaginação de Vivian fosse engraçada. Comparado à sua aparência gentil habitual, a reação foi bastante intensa.
— Bem, não acho impossível para a Senhorita Lecktor, mas seria um trabalho árduo.
Com a afirmação do Imperador, o coração de Vivian acelerou de preocupação. Como ele disse, era difícil—muito difícil. Mesmo considerando apenas o número estimado de bestas mágicas, ele superava o de navios nos territórios ocidentais.
Roger observou Vivian brevemente. Ela estava distraída com a conversa do Imperador e não percebeu seu olhar.
— Um dia, os batedores relataram uma fissura estranha no solo. E disseram que uma besta demoníaca saiu dela.
— Então a fissura…
O Imperador esfregou as têmporas e franziu a testa, como se estivesse com dor de cabeça.
— Sim, é de lá que essas bestas surgem.
Portanto, a cerimônia de premiação repentina era o preço por usar sua habilidade para selar as fissuras no Oeste. Se bem-sucedida, Vivian, é claro, alcançaria uma grande façanha.
Agora ela entendia o ponto principal do Imperador.
Não, não completamente.
‘Ainda há algo que não entendo.’
— Compreendo que minha habilidade é necessária para fechar as fissuras. Mas por que eu deveria ficar noiva do Lorde Orpheu?
Vivian perguntou sem olhar para Roger.
— Não é exatamente um noivado, é uma simulação.
O Imperador, corrigindo sua pergunta, continuou:
— O Oeste se tornou um ermo, e você sabe que o valor da terra diminuiu em relação ao passado. Mas isso é resultado da pobreza do povo e dos nobres que a desprezam. Porém, se a missão for bem-sucedida, não melhoraria? Talvez o valor do Oeste aumente novamente quando o problema das bestas for resolvido.
Ou seja, se a missão falhasse após ser divulgada, haveria desprezo—por isso tudo séria, mantido em segredo. Vivian assentiu, aparentemente compreendendo.
O Imperador lançou um olhar a Roger, que permanecia em silêncio.
— Estou planejando enviar a Senhorita e os Cavaleiros de Eckhart juntos nessa missão.
— …Perdão?
— Mesmo que não seja uma terra perigosa, como posso enviá-la sozinha?
Entre a luz e a escuridão, os Cavaleiros de Eckhart representavam definitivamente a escuridão.
Um grupo de assassinos cruéis, sem qualquer vestígio de moralidade.
Com tal reputação, talvez fossem qualificados para lidar com bestas demoníacas. Vivian balançou a cabeça, pausando ao se perguntar como diabos havia se envolvido com a Ordem.
Pensando bem, a explicação ainda era vaga. Era bom que os Cavaleiros de Eckhart, liderados por Roger, fossem resolver o problema.
Mas por que o assunto do noivado foi levantado?
— Pelos motivos que mencionei, pretendo manter essa missão em sigilo, exceto para poucos. Para disfarçar, o propósito declarado será uma inspeção territorial.
— Uma inspeção territorial?
— Sim, sob o pretexto de que Roger aqui será em breve nomeado senhor do Oeste.
Vivian pareceu entender por que o noivado foi mencionado.
Havia várias condições para receber um território no Império Mosbana, uma delas era estar casado ou no mínimo noivo.
— Se descobrirem que você, a única elementalista do Império, está indo para o Oeste, surgirão suspeitas. Então, você irá secretamente como noiva de Roger—alguém que ninguém conhece.
O noivado era um escudo: uma fachada para a inspeção do novo senhor feudal, escondendo a missão real e a identidade de Vivian como elementalista.
— Bem, não sei quanto ao resto, mas o senhor não odeia isso? Um noivado repentino comigo, sem ao menos me conhecer.
Vivian estava verdadeiramente constrangida.
Roger a olhou. Ela virou a cabeça e seus olhos se encontraram—seus ombos tremeram ao encarar aqueles olhos que lembravam um deserto em chamas e, ao mesmo tempo, uma gema colorida.
— Não se preocupe. Roger disse que gostou da ideia.
Vivian ficou boquiaberta.
‘O QUÊ?! Ele gostou?!’
‘Que diabos?’
Seus olhos, que haviam evitado Roger, voltaram-se para ele de repente. Ele já a observava, e seus olhares se cruzaram novamente. Quando ela abriu a boca para falar, Roger ergueu um canto dos lábios.
— Por que não podemos dizer que é algo bom?
Sua atitude desinibida lembrava sua notoriedade como “o cachorro louco”. Vivian, sem palavras diante de tal audácia, gaguejou:
— Se eu disser que não posso aceitar…
O Imperador riu, um pouco constrangido. Isso já fez Vivian sentir seus cabelos embranquecendo.
— Bem, para começar, a concessão da medalha seria um problema.
Ela tinha muito a dizer sobre a decisão do Imperador.
Afinal, a medalha não era algo que ela quisera—ele a forçara a aceitá-la.
Além disso, o Imperador dera mais: sua família recebera uma grande quantia para seus estudos no exterior. Ou seja, devolver tudo seria complicado.
— Se a Senhorita Lecktor recusar, compreendo. Mas se aceitar, posso prometer muitas coisas.
O Imperador insinuou, observando Vivian mergulhada em pensamentos. Mesmo curiosa, ela sentiu como se cobiçasse um fruto proibido—pois, ao ouvi-lo, percebeu que não havia volta.
— Sei que o Conde Lecktor tem um negócio no qual trabalha há anos.
— …
— Ouvi também que os custos com o tratamento da sua sogra, que sofre de uma doença crônica, são altos.
A confiança do Imperador vinha das cartas que tinha na manga.
Como dissera, faltavam poucos dias para o negócio do Conde ruir, apesar de seus esforços e investimentos absurdos. Além disso, a mãe da Condessa precisava de remédios caríssimos—tudo isso pesava sobre o Conde.
Nobreza não significava riqueza infinita. O dinheiro desaparecia tão rápido quanto era gasto.
Se Vivian aceitasse a proposta, esses problemas se resolveriam: —O negócio do Conde teria sucesso; – O custo dos remédios da avó seria garantido; —Ela não precisaria devolver a medalha nem o dinheiro dos estudos.
Sua hesitação não durou muito.
Havia apenas três ocasiões em que o Conde Lecktor chorara em sua vida:
A primeira, quando seus pais morreram. Quando sua amada esposa aceitou seu pedido de casamento sem o conhecer e quando Vivian nasceu.
Era óbvio que o Conde vivia em função da família. Apenas os laços de sangue abalavam seu coração.
Ele adorava crianças, mas, ironicamente, só teve uma—devido à saúde frágil da Condessa.
Mesmo assim, não se decepcionou. Sua única filha crescera belíssima, e ele sempre quisera uma menina.
Quando Vivian foi escolhida para estudar no exterior com apoio da família imperial, o Conde chorou mais que a própria Condessa. Ele era um paizão coruja. Enquanto a carruagem partia, sua esposa o consolava.
— De jeito nenhum.
O Conde endureceu o rosto ao ouvir que sua amada filha voltara trazendo “ouro e jade”—um sorriso despretensioso que o tirara do sono.
Vivian o encarou, constrangida.
— Pai.
— Meu negócio é um problema meu. O tratamento da sua avó também. Você não precisa ir para o Oeste.
Ele tinha muito a dizer, mas controlou-se ao ver a expressão da filha.
Houve um silêncio.
Vivian sabia do que seu pai estava preocupado, então não podia dizer que não se importava. Mas ela também não conseguia recuar. Como já havia dado uma resposta positiva ao Imperador, precisava assumir sua responsabilidade.
— Está tudo bem, mesmo. Não vou sozinha. Vou com os Cavaleiros de Eckhart.
— Vivian.
O Conde Lecktor bateu no peito com uma expressão de frustração. Parecia alguém carregando um peso na alma.
— É justamente dos cavaleiros que eu me preocupo tanto quanto das bestas demoníacas.
Se fossem os Cavaleiros Imperiais — que sabem defender a justiça e são honrados —, ele não precisaria impedi-la. O problema era que os Cavaleiros de Eckhart é que acompanhariam sua filha. Ele temia que eles não cuidassem dela.
‘Cavaleiros cruéis, ferozes, assassinos.’
‘Não é assim que a Ordem deles é chamada?’
A má fama deles na capital já era bem conhecida. E a imagem que o Conde Lecktor tinha em mente era a do líder dos cavaleiros, Roger Orpheu. 🥹🥹
Continua…
Tradução: Elisa Erzet