A Tatuagem de Camélia - Capítulo 24
Logo depois, Betty trouxe duas xícaras de chá de lavanda, conhecido por seus efeitos calmantes. Beber o chá ajudou a acalmar o coração nervoso de Amber, preparando-a para ouvir e deixar passar qualquer palavra dura que Jean pudesse dizer.
— Eu tenho te interpretado mal, duquesa.
No entanto, as palavras de Jean foram totalmente diferentes do que Amber esperava.
— A senhora… já tinha um plano desde o início. Comprar as galinhas, estocar suprimentos e até aqueles barris de óleo.
— …
Amber permaneceu em silêncio.
— Então, o que quero dizer é… me desculpe. Eu queria pedir desculpas.
Antes que Amber pudesse responder, Jean se curvou.
‘Isso foi ideia do Igmeyer?’
Ela pensou brevemente, mas logo sacudiu a cabeça. Não, não podia ser. Jean não tinha feito nada de errado com ela.
Na verdade, Jean estava em uma posição onde era natural duvidar das ordens inexplicáveis da nova duquesa do castelo.
‘Antes da minha chegada, não eram Jean e o mordomo que gerenciavam os assuntos internos e o orçamento?’
O Norte não estava à beira da miséria, mas certamente também não era próspero. Então, comprar galinhas e óleo barato talvez não tivesse sido bem-visto por eles.
Amber entendia essa perspectiva.
Igmeyer poderia repreender um subordinado que estivesse insatisfeito com a duquesa, mas só isso.
Um assunto tão pequeno não justificaria um pedido de desculpas pessoal.
Portanto, essa foi uma decisão que Jean tomou por conta própria, após refletir.
‘Ele abriu o coração… para mim.’
De repente, os olhos de Amber se encheram de lágrimas, e ela mordeu os lábios com força.
No passado, o orgulhoso Jean nunca havia lhe pedido desculpas.
Ele sabia que suas palavras a machucavam e, mesmo assim, falava frequentemente de forma ainda mais cruel.
Jean era o tipo de pessoa que só se curvava diante daqueles que respeitava. Nem sob tortura falaria, se fosse capturado por inimigos. Quanto mais pressionado, mais zombava e ria… Um caráter difícil de lidar.
Amber nunca havia planejado conquistar Jean, considerando sua natureza desafiadora.
Nesta vida, ela só esperava manter uma relação cordial e amigável.
— Nunca mais a julgarei pelos meus padrões. Percebi que há coisas no mundo que eu não conheço.
Amber percebeu que havia desejado um pedido de desculpas.
Com as mãos trêmulas, pressionou o peito.
Uma observação dura de Jean, feita há muito tempo, ainda estava cravada em seu coração como uma adaga.
‘Por favor, fique quieta. Ou melhor, não saia do seu quarto. Todos estão desconfortáveis por sua causa, senhora. Nosso trabalho está mais lento porque temos que tomar cuidado com sua presença.’
Essa única frase a feriu por todo esse tempo.
Mas ouvir o pedido de desculpas de Jean agora era como finalmente remover aquela adaga.
— Eu… aceito seu pedido de desculpas.
Jean não entenderia a profundidade do perdão contido naquele sussurro. Ela havia decidido deixar para trás os ressentimentos que se acumularam ao longo do tempo, algo que ele jamais compreenderia por completo.
Somente ela sabia disso.
Mas Amber estava satisfeita com isso.
Afinal, tanto Jean quanto ela compartilhavam o mesmo objetivo.
Proteger e desenvolver o Norte.
Não havia razão para conflito.
‘Pode ser um pensamento otimista demais, mas… se eu tiver um filho, ele se sacrificaria e se esforçaria por ele. Alguém em quem confiar, que protegeria o herdeiro do Norte.’
Sim, isso já era o suficiente.
Sentindo os nós em seu coração se desfazendo, Amber continuou a conversa com calma.
— Não podemos ter certeza se essas Raças Fantasmas realmente vão aparecer, mas, se aparecerem, é bom estarmos preparados. E mesmo que não apareçam, comprar as galinhas não foram um desperdício completo.
— Sim, a senhora está certa. Soube que as aldeias onde distribuímos as galinhas estão cuidando bem delas. Os ovos estão ajudando no suprimento de comida, e todos estão felizes.
— Isso é um alívio.
Amber tinha receio de que os aldeões tivessem matado as galinhas, mas parece que suas instruções para não abatê-las até novo aviso estavam sendo seguidas.
— Mas vocês dois realmente tiveram o mesmo sonho?
— Eu não fazia ideia de que Igmeyer estava tendo o mesmo sonho. Pode levantar a cabeça agora.
— Uau, é como destino. Destino.
Assim que ela o perdoou, Jean voltou rapidamente a uma postura mais relaxada. Amber não achou isso irritante, percebendo um leve brilho de confiança em seus olhos voltados para ela.
— Jean.
— Sim.
— Eu confio em você. Acredito que você protegerá Igmeyer e se dedicará ao Norte.
Na verdade, Jean fez exatamente isso. Até o fim, ele realmente se esforçou para proteger o Norte.
Amber não conseguia se lembrar exatamente de como Jean morreu, mas uma cena estava vívida em sua memória:
Um corredor tão escuro devido à falta de óleo para tochas. Uma figura fraca encostada contra a parede. Um rosto abatido, olheiras profundas e aquele olhar faminto e determinado nos olhos…
Continua…
Tradução Elisa Erzet