A Tatuagem de Camélia - Capítulo 23
Nenhum dos Cavaleiros Gigantes de Gelo demonstrou qualquer sinal de medo ou hesitação. Em vez disso, seus rostos estavam preenchidos por um espírito competitivo.
— Ah, mais uma coisa que esqueci de mencionar. Algo ainda mais importante do que tudo o que eu disse.
Quando o burburinho acalmou, Igmeyer falou novamente, com seriedade.
Amber escutava atentamente, curiosa para saber o que poderia ser mais crucial do que tudo o que já havia sido discutido.
— No meu sonho, o cérebro da Raça Fantasma estava sendo vendido por um preço altíssimo. Considerados uma iguaria, aparentemente.
— !
— Quem arrancar o cérebro, fica com ele.
Uau!
Um rugido de empolgação explodiu entre os cavaleiros, assim que o dinheiro foi mencionado.
Igmeyer, com um leve sorriso, estendeu a mão para Amber.
— Vamos jantar agora. Você não está com fome?
— Não comi nada, mas me sinto satisfeita.
Seu coração batia forte.
Para ela, o modo como tratavam tão casualmente a temível Raça Fantasma como mera presa era, honestamente, impressionante.
Aliviada por talvez não ter que enfrentar seus medos sozinha.
— Raphael já foi escolta uma vez.
Diante da multidão que ria, conversava e bebia, Igmeyer apresentou Raphael de forma casual.
No entanto, o significado por trás de suas palavras estava longe de ser casual.
— Se eu morrer, quero que você lidere o Norte. Raphael vai te ajudar, então não se preocupe com o comando militar.
— … Por que você está dizendo algo assim?
— Apenas por precaução. Se eu morrer e você não puder voltar para Shadroch, ou se o Imperador tiver outras intenções, você precisará se defender.
Amber entendeu o que ele quis dizer.
Igmeyer estava genuinamente preocupado.
O que aconteceria se o Duque morresse sem um herdeiro? A resposta do Imperador era incerta.
Como uma princesa de um país pequeno e insignificante perante o Império, Amber sabia qual era seu destino: ela era um receptáculo para gerar uma criança capaz de matar o dragão maligno.
Certamente, ela seria usada até se quebrar.
A intenção de Igmeyer era encorajá-la a defender o Norte com Raphael, ou até mesmo se rebelar antes que algo tão repugnante acontecesse.
‘Eu entendo. Eu sei.’
Ela não queria ouvir aquilo. Não queria pensar no que aconteceria após a morte dele.
— Amber?
Preocupado com sua expressão, Igmeyer pareceu confuso. Relutantemente, Amber desviou o olhar para Raphael.
— Entendo sua intenção. Agradeço sua confiança.
— Eu apenas sigo meu coração.
O futuro era imprevisível.
Desta vez, não seria Raphael morrendo é Igmeyer quem partiria cedo?
À medida que um medo se dissipava, outra ansiedade surgia.
Mas estava além de seu controle.
Como mera humana, ela só podia deixar as coisas seguirem seu curso.
Amber, resistindo à tentação de jogá-lo na cama e envolver os braços ao redor de seu pescoço, pegou uma taça de vinho.
O vinho era doce, mas seu gosto residual, amargo.
🌸🌸🌸🌸
No dia seguinte, o castelo ficou incrivelmente movimentado e animado.
As criadas circulavam em torno dos jovens ferreiros, distribuindo lanches sem motivo aparente, enquanto os ferreiros, cientes da atenção, tiravam as camisas com naturalidade.
Quanto a Amber, ela passava a maior parte do tempo em seu quarto.
Talvez devido à tensão acumulada, sentiu um alívio e ficou levemente indisposta.
— Duquesa, duquesa!
Um dia, quando sua tosse havia diminuído e a febre, cedeu, Nora entrou correndo, com olhos arregalados como os de um coelho assustado.
— Um visitante…? Um convidado? Uh, como posso dizer. Jean! O senhor Jean pediu um breve encontro com a senhora!
— Jean?
— Sim!
Deitada na cama, coberta por um cobertor e lendo um livro, Amber achou a situação extremamente peculiar.
‘Jean está pedindo um encontro particular comigo.’
Era difícil de acreditar, mas Nora não teria motivo para mentir sobre algo assim.
Tentando esconder seu espanto, Amber perguntou:
— Quando ele deseja se encontrar?
— Quando a senhora estiver se sentindo melhor!
— Tudo bem. Então… diga a ele para me encontrar na sala de estar em uma hora.
Não havia motivo para Amber se arrumar demais para encontrar Jean.
Afinal, Jean ainda não gostava dela — então para quê o esforço?
Claro, ela não podia encontrá-lo de camisola, com a ajuda de Betty, Amber vestiu um confortável vestido casual cor de aveia.
Enquanto isso, ela refletia sobre o motivo de Jean querer vê-la especificamente, mas não conseguia imaginar nenhuma razão.
Eles não tinham nada em comum. Jean estava sempre ao lado de Igmeyer ou trancado no escritório lidando com papelada.
Não havia razão aparente para o braço direito do Duque querer uma reunião privada com ela, a Duquesa.
Igmeyer também não deu nenhuma pista.
— Ah, Duquesa!
Chegando à sala de estar com um sentimento meio ambíguo, Amber viu Jean, visivelmente nervoso, balançando as pernas. Ele se levantou rapidamente do sofá e pareceu animado ao vê-la, como se estivesse entediado de esperar.
— Você pediu para me ver em particular?
— Sim.
— Então fale. Há algo que precise discutir?
Amber se sentia bastante desconfortável com Jean. Estar a sós com ele a deixava ainda mais inquieta.
Continua…
Tradução Elisa Erzet