A Tatuagem de Camélia - Capítulo 22

— A princesa e eu compartilhamos o mesmo sonho. Uma grande comoção está prestes a acontecer aqui em breve.

… Ela não esperava que ele dissesse algo assim.

Cerca de uma hora depois, uma Amber agitada tentava controlar sua expressão, e os cantos de sua boca tremiam.

— Você deve estar curiosa sobre que tipo de comoção é essa. Deve estar preocupada… e talvez até perca o apetite, certo?

Os cavaleiros estavam em alvoroço, e os ferreiros pararam de comer.

Amber simpatizava profundamente com seus sentimentos, pois ondas de espanto continuavam a invadi-los.

— Bem, não posso afirmar com certeza sobre eventos futuros. Faz pouco tempo que comecei a ter esse sonho. Mas a princesa afirma que tem esse sonho desde antes de me conhecer, e de vir para o Norte.

— …

— De acordo com o sonho, cerca de um mês e meio a partir de agora, Nidhogg rugira. Uma nova forma de monstro aparecerá e levará nossos filhos, esposas e pais à morte.

Os rostos daqueles que perceberam que Igmeyer não estava brincando escureceram.

Choque, medo, raiva e desespero.

Aqueles ali presentes eram os que mais odiavam a calamidade causada por Nidhogg.

Alguns cavaleiros cerraram os punhos e até levantaram a voz.

— Vocês vão assistir às mortes de braços cruzados?

— Não!

— Vão impedir essas mortes?

— Sim!

Em resposta à pergunta séria de Igmeyer, os cavaleiros responderam com união.

Enquanto isso, Amber teve que tocar a testa, pois se sentia tonta.

‘Você teve o mesmo sonho que eu?’

Amber nunca pensou em algo assim.

Tudo o que lembrava eram eventos que aconteceram.

‘Igmeyer também voltou ao passado?’

Enquanto refletia, Amber concluiu que não poderia ser o caso.

A bênção do arrependimento aplicava-se apenas às princesas. Ninguém mais estava ciente das ocorrências no tempo.

Igmeyer está realmente tendo esses pesadelos? Com coisas que já aconteceram… como um sonho?

Seu coração começou a bater descontroladamente.

Se fosse verdade, esperava que ele não a visse como ela era no passado.

Nunca ouvi falar de um caso assim. Espero que não tenha efeitos negativos no futuro.

Devido à ansiedade, Amber só conseguia sorrir de forma desamparada.

— Agora vou explicar sobre o novo monstro. Seu nome é Raça Fantasma. Achei que fosse apenas um pesadelo, mas graças ao aviso da Senhora, percebi que não era só um sonho.

Enquanto o discurso de Igmeyer continuava, Amber entendeu por que ele contou essa história.

Igmeyer queria dar a ela todos os créditos sobre esses preparativos.

Se tal evento realmente acontecesse, ficaria claro quem ordenou os preparativos inicialmente.

— Quando descartei o pesadelo como apenas um sonho, a Senhora imediatamente comprou óleo e galinhas ao chegar ao Norte. Porque a fraqueza do Raça Fantasma é fogo e sangue de galinha.

Essa afirmação poderia parecer absurda.

Porém, como vinha do próprio Igmeyer, o respeitado centro do Norte e figura de lealdade e admiração entre todos os cavaleiros, não será considerada bobagem.

Especialmente aqueles que estavam com Igmeyer desde os tempos de mercenário acreditavam em suas palavras sem hesitar.

Tum. Tum. Tum, Tum, Tum!

Alguns cavaleiros responderam batendo os pés no chão e na mesa, um após outro, em ritmo.

Amber quase chorou ao ver todos no salão do banquete unido em seu objetivo.

Se perguntava se eles acreditariam nela, tendo trabalhado sozinha para evitar o desastre… Os tempos dolorosos de repente não pareciam mais tão tristes.

Em vez disso, estavam preenchidos com um senso de realização e esperança.

— Um brinde à Duquesa!

— Um brinde!

Um cavaleiro bem-humorado se levantou

abruptamente, erguendo seu copo. Comovida pelos brados em sua homenagem, Amber sentiu vontade de chorar.

Seu coração estava transbordante.

Ela nunca esperou que Igmeyer lhe desse tanto crédito.

Só o fato de essas pessoas tão reservadas e exclusivas abrirem um pouco seus corações para ela já era o suficiente para deixar Amber feliz.

— Obrigada, Igmeyer.

— Não foi nada. Só disse a verdade.

— Dizer a verdade… nem sempre é fácil. Mas, claro, você não é um homem covarde. 

Em Shadroch, incidentes como esse eram comuns.

Na época de sua bisavó, era impossível uma mulher sair sozinha, e conquistar algo em seu próprio nome era inaceitável ou severamente restrito.

Agora, no tempo de Amber, as coisas mudaram, mas em outros países, ainda é comum ver conquistas femininas sendo creditadas a homens.

— De agora em diante, o que fizer será reconhecido como mérito seu. Claro, da próxima vez, você deve ser a pessoa a contar diretamente aos cavaleiros. Só intervi desta vez devido a circunstâncias, e peço desculpas por isso.

Seus olhos vermelhos eram sinceros.

Amber não esperava um pedido de desculpas e isso aqueceu seu coração.

Tecnicamente, era certo que ela anunciasse seus feitos publicamente. Em Shadroch, foi assim que Amber foi criada e ensinada.

Mas aqui não é Shadroch, e o povo do Norte a rejeita.

Confronto só levaria à ruptura, então escolheu um caminho alternativo, e Igmeyer entendeu isso.

— Silêncio.

Pedindo desculpas suavemente a ela, ele então ergueu a mão para os demais.

Era impressionante como a multidão, antes barulhenta, subitamente silenciava ao seu comando.

— As criaturas criam ilusões daquilo que você mais deseja. Uma vez preso nessa doçura, elas mostram a mais horrível das alucinações em seguida. Repetem isso para destruir lentamente a mente da presa

— …..!

A multidão arfou em alarme.

— Esses seres não têm forma física. Têm cérebro e órgãos, mas sua aparência é como fumaça. Por isso precisamos de espadas e flechas embebidas em óleo. Precisam ser cortados com fogo. Acreditem em mim, já fiz isso várias vezes em meus sonhos. Só há uma maneira.

Sua voz, baixa e arrepiante, transbordava convicção.

Amber prestou atenção especial à frase “várias vezes”. Parecia que ele estava genuinamente aterrorizado com a experiência.

— Todos devem passar sangue de galinha nas pálpebras. Se o sangue secar e sair, é melhor lutar de olhos fechados, confiando nos sons. As alucinações só aparecem quando você abre os olhos. 

Como exatamente lutariam de olhos fechados, ainda era incerto, mas os Cavaleiros Gigante de Gelo eram muito mais adaptáveis e habilidosos que cavaleiros comuns.

De algum jeito, dariam um jeito.

— Vocês devem focar em matar a raça fantasma o mais rápido possível, mesmo que um companheiro esteja em perigo. Pensem sempre com lógica e julguem com frieza. Caso contrário, iremos morrer. Vou criar e distribuir materiais baseados em sua aparência e características, e mudaremos nossos métodos de treinamento a partir de amanhã.  

Após declarar isso, Igmeyer gesticulou para Raphael se aproximar.

— Fechem os olhos e ataquem a mim e ao Raphael. A partir de agora, é apenas combate real.

Suspiros brincalhões surgiram entre os cavaleiros, pressentindo que o treinamento não seria fácil.

Continua…

Tradução: Elisa Erzet