A Tatuagem de Camélia - Capítulo 07
Amber virou seu rosto inabalável para olhar para o marido. Ele não usava capa, mas não parecia estar com frio.
— Peguei o grandão entre a matilha de lobos de um chifre, e Fenrir vai descer por aí amanhã. Só resolvi passar no castelo por um momento…
Os olhos vermelhos e ardentes, aparentemente indiferentes, passaram brevemente por Mariam antes de se fixarem em Huvern.
Huvern, engolindo a decepção contida naquele olhar, inclinou a cabeça. A situação atual, com a Madame até mesmo pegando uma bengala, não era digna.
— Parece que me tornei um obstáculo. Por favor, não se importe comigo e continue o que estava fazendo.
A expressão de Mariam se iluminou a princípio, como se encontrasse um salvador. No entanto, seu rosto ficou pálido com as próximas palavras de Igmeyer.
— Se fosse eu teria arrancado aquela língua insolente. Surpreendentemente misericordioso, não é? Então, viver neste lugar sórdido deve ser desafiador para a Princesa.
— … Eu não tenho tais intenções.
— Bem, tanto faz. Esse é o jeito de um plebeu bárbaro, e uma princesa nobre deve focar apenas em coisas refinadas.
Com essa única observação, os criados, especialmente aqueles que trabalhavam na cozinha, onde havia uma hierarquia rígida, foram os primeiros a perceber que seu mestre havia elevado sua esposa um degrau acima de apenas a senhora do castelo.
Pelo contrário, a Madame não usou nenhuma formalidade ou honorífico ao se dirigir ao Mestre. Parecia, de certa forma, que ela se sentia confortável lidando com ele.
Ela nem hesitou em chamar o formidável Mestre pelo nome. O que Mariam fez com alguém que o Mestre trata com tanto privilégio?
A equipe da cozinha olhou para Mariam com olhos cheios de suspeita. A nobreza parecia, nuvens distantes para eles.
No entanto, todos sabiam que o Mestre era assustador.
À medida que a percepção de que Mariam havia cometido um erro grave se tornou evidente, a equipe da cozinha começou a pensar que ela havia feito algo terrivelmente errado.
— Ah, ah, ahh…!
Mariam gritou, segurando a cabeça.
A atenção que ela desejava do Grão-Duque não era dela. Não havia saída para essa situação.
O mordomo já tinha arregaçado as pernas da calça e exposto as panturrilhas, pronto para o próximo passo. A vez de Mariam era iminente.
— Ughrrr!
Paff!
O som da bengala batendo na carne ecoou, e Mariam cerrou os dentes, não apenas pela dor, mas pela enorme sensação de vergonha.
Em um castelo sem uma verdadeira Senhora, Mariam se comportou como se ela fosse a própria Madame.
Ela negligenciava limpezas em grupo, evitava tarefas sujas como tirar o lixo e fazia apenas o mínimo necessário, como limpar o corredor perto do quarto do Grão-Duque.
Todo esse tempo, Mariam sonhou com um dia em que tudo seria dela.
Os homens da vila não conseguiam deixar de babar quando a viam, ansiosos, incapazes de igualar sua graça e charme. Embora ela não se misturasse com eles livremente, Mariam se deleitava com a adoração dos homens, confiante em seu próprio charme.
Até que ela viu a Princesa de uma terra distante sentada elegantemente uma manhã. Naquele momento, ela sentiu a derrota.
Apesar de suas tentativas de manter a elegância, Mariam podia ver a diferença gritante em suas mãos. As mãos da Madame eram distintas, fundamentalmente de uma classe diferente. Sardas e calos estavam ausentes, e sua pele era macia e clara.
Seus ombros eram retos, e seu pescoço ereto, exibia um senso de nobreza. Era algo que Mariam nunca conseguiria alcançar, não importa o quanto tentasse.
E os cabelos dourados brilhantes, como se refletisse o sol sobre os picos de Niflheim! Mariam percebeu que sua beleza, mesmo que ela a alegasse, só era reconhecida nesta remota vila.
Essa percepção abalou completamente a autoestima de Mariam.
— Tsk…
À medida que a punição severa continuava, as panturrilhas dilaceradas de Mariam começaram a doer, e lágrimas fluíam. Apesar da dor, ela se apegou a uma tênue esperança de que talvez o Grão-Duque viesse confortá-la e repreendesse a Madame por ir longe demais.
— Que decepção, Huvern. Eu confiei em você para lidar bem com as coisas até agora.
Mas Igmeyer não tinha interesse em Mariam. Ele casualmente se dirigiu a Huvern enquanto passava, não demonstrando nenhuma preocupação com o que estava acontecendo atrás dele.
— …. Eu vou corrigir. Peço desculpas.
Com um aceno educado de Huvern, Igmeyer descartou completamente os eventos que se desenrolavam atrás dele. Sua atenção estava somente nesta mulher, sua esposa.
Ela parecia delicada, mas, curiosamente, parecia ter raízes fortes.
— Ontem você me disse que ficaria fora por causa de Fenrir.
— Parece que você não queria que seu marido voltasse tão rápido.
Na verdade, Amber se sentiu um pouco decepcionada.
Depois de tanto esforço para arrumar a casa na ausência de Igmeyer, ela não esperava que seu retorno fosse assim. Ela se sentiu um pouco desanimada.
‘Ele não era assim na vida passada.’
Ela não conseguia identificar o que havia causado uma mudança tão drástica no comportamento de Igmeyer.
Amber olhou para o homem parado como uma sombra sobre ela.
‘Ele era assim naquela época quando tinha essa idade?’
Na luz brilhante, ele parecia mais travesso, como um garoto, em vez de decadente. Seus olhos eram difíceis de encontrar, ainda assombrada pela imagem dele coberto de sangue.
— Bem, não se preocupe. Sairei novamente em breve. Vou me certificar de capturar Fenrir para você usá-lo como um apoio para os pés.
O que ela deveria dizer em resposta? Ela deveria expressar gratidão? Elogiá-lo como um grande feito?
‘Mas eu nunca usei nada feito de pele de monstro antes, então realmente não sei.’
Amber estava familiarizada com chinelos feitos de couro macio de cordeiro ou travesseiros cheios de penas de ganso, mas ela não tinha conhecimento de itens feitos de monstros. No passado, ela teimosamente usava apenas coisas trazidas de Shadroch. Conforme elas se desgastavam, ela inadvertidamente contribuía para a deterioração de seu mundo.
Enquanto isso, Igmeyer nunca lhe deu nada.
‘Não, isso não é verdade. Talvez ele tenha feito isso, mas eu simplesmente não lembro.’
Amber culpou sua memória porosa e reconsiderou seus pensamentos.
‘De qualquer forma, é estranho.’
Observando Mariam sendo conduzida pelos criados conforme as instruções do mordomo, Amber ponderou sobre a complexidade da situação.
Igmeyer sutilmente se moveu para o lado, impedindo Amber de continuar olhar para Mariam. Ele se irritou ao ver outros recebendo atenção dela, quando ele raramente recebia.
(Elisa: Itimalia que possessivinho.)
‘Não sei por que me sinto assim em relação a essa mulher que conheci a apenas alguns dias.’ 🤏🏻🥹
Isso o estava incomodando.
Ele queria que ela prestasse mais atenção nele, apenas nele.
Igmeyer tentou encontrar uma razão para essa emoção anormal ou obsessão, mas acabou desistindo, pensando:
‘Talvez eu seja apenas louco’.
Esse pensamento lhe trouxe conforto, pois parecia não haver outra explicação.
— Meu rosto não vale a pena ser olhado?
— ….O quê?
— Normalmente, as pessoas se perdem quando olham para mim.
— Bem, você é bonito…
Por um momento, Amber ficou em silêncio, sentindo-se um tanto desprevenida. Igmeyer aproveitou o momento e lançou um olhar astuto.
— Então, você admite que eu sou bonito.
— …. Você não voltou rápido demais depois de ser chamado com urgência pelo tenente?
— Corri de volta para fazer uma reclamação urgente. Fiquei desconfortável em deixar você sozinha.
Ele sempre foi capaz de fazer tais comentários?
Amber olhou para Igmeyer com olhos desconhecidos.
‘O homem que eu conhecia era assim…?’
Ela já era como cinzas queimadas, mas ele parecia um espírito de fogo dançando sobre as ruínas. A vitalidade em seu abraço parecia muito escaldante para suportar, então Amber desviou eventualmente o olhar.
— Já tomou o café da manhã?
— Não, ainda não.
— Bom. Vamos comer juntos.
Igmeyer foi decisivo.
Continua….
Tradução: Elisa Erzet