A Indulgência da Besta - Capítulo 05
Licht, alheio à intensa batalha silenciosa que ocorrera entre Louise e Ovella, olhava fixamente para sua mão com expressão vaga — a mesma mão que Louise retirara rapidamente assim que entraram na tenda.
Louise, sentindo-se constrangida por seu olhar direto, cerrou os punhos e se apressou para colocar água para ferver no braseiro.
Sentado ao lado dela, Licht a observou e perguntou:
— Você queria me encontrar, não é? Sobre o que queria conversar?
— Ah… hum… era sobre a reunião.
— Suponho que havia algo que eu precisava saber.
— Sim, Vossa Santidade. A senhorita Ovella recusou a entrada dos Cavaleiros Sagrados no castelo de seu senhor. Portanto, parece difícil continuar a jornada com eles a partir de amanhã.
— Senhora Ovella, é—? … Isso é inesperado.
Licht franziu a testa, normalmente serena, parecendo perplexo com o anúncio de Ovella.
Mesmo assim, ele pegou silenciosamente as xícaras de chá das mãos de Louise e preparou ele mesmo, permanecendo em silêncio por um longo momento, como se estivesse perdido em pensamentos.
Louise, olhando para ele de relance, sentia-se dividida.
Deveria perguntar…?
Se ele sabia dos sentimentos de Ovella. O que sentia por ela. Se consideraria casar com ela, caso fosse proposto.
Queria saber sobre os sentimentos dele…
Mas tudo isso era tão pessoal que não conseguia deixar de hesitar.
Não, na verdade, ela provavelmente tinha medo demais da resposta que poderia ouvir para sequer abrir a boca.
A família de Ovella, embora não estivesse entre as grandes casas nobres, era extraordinariamente rica. Isso graças à localização do seu território, distante das zonas de conflito, o que o poupou de grandes danos.
Era também por isso que seus cavaleiros eram tão inexperientes. Diferente dos cavaleiros de outros territórios, quase não tinham experiência em batalhas real.
Para a Ordem, que enfrentava dificuldades financeiras, uma aliança com uma família tão rica seria extremamente bem-vinda. Só a comissão por essa missão já era suficiente para impressionar — então, se um casamento com Licht acontecesse, quão enormes seriam as doações da casa do conde?
Além disso, do ponto de vista pessoal, Ovella era… excepcionalmente bela, mesmo aos olhos de outra mulher. Sua personalidade deixava a desejar, mas sua beleza mais que compensava esse defeito.
De qualquer forma, ela sempre agiu de maneira completamente diferente na frente do Cardeal Licht em comparação a como se portava diante dos outros.
Seu comportamento afetuoso e voz suave despertavam naturalmente instinto de proteção. Seria difícil imaginar sua atitude arrogante habitual em meio a tais gestos.
Portanto, não era impossível que Licht também se sentisse atraído por Ovella.
Enquanto Louise mergulhava em ansiedade, imaginando o pior cenário possível, o aroma do chá começou a se espalhar pelo ar. Finalmente, Licht, após servir o chá em xícaras de madeira e entregar uma a ela, falou:
— Então, os Cavaleiros Sagrados retornarão diretamente ao templo?
— Isso… ainda não foi decidido. É uma situação inesperada, então não sei o que fazer. Talvez, Vossa Santidade…
Louise, após muita hesitação, finalmente se forçou a fazer a pergunta difícil:
— Houve alguma instrução em particular antes de deixar o templo? Alguma possibilidade de isso acontecer?
— Bem… não tenho certeza.
Sua resposta ambígua fez o coração de Louise afundar. Sua mão, segurando a xícara, começou a tremer levemente.
Então, havia mesmo um indício.
— Minha opinião não parece tão importante nesse assunto. Como você tem o dever de liderar os Cavaleiros Sagrados, decida da maneira que achar melhor. Eu decidirei o que fazer com base nisso.
— Sim…
Diante de sua resposta fraca, Licht sorriu e provocou:
— Mesmo que você me abandone e parta, não vou culpá-la. Talvez eu fique um pouco decepcionado.
Louise o encarou em silêncio, perdida entre as dezenas de frases que passavam por sua mente, e uma delas escapou antes que pudesse se conter:
— O que o senhor acha de sacerdotes ou cavaleiros sagrados formarem famílias, Vossa Santidade?
— … O quê?
— Ah…
Após soltar a pergunta, Louise imediatamente pensou: ‘Pronto, estraguei tudo.’
— Quero dizer, hum… isto é…
Licht encarou-a por um longo momento, como se tentasse entender a intenção por trás de suas palavras. Quando ele finalmente abriu a boca, a pergunta que fez foi profundamente perturbadora:
— Quem você tem em mente? Alguém lhe propôs casamento? Seria… Sir Philip?
— Claro que não!
Louise se levantou tão abruptamente que quase derramou o precioso chá que ele havia preparado.
— Então? Poderia me dizer por que resolveu me fazer essa pergunta?
Embora sua expressão permanecesse gentil, havia um tom solene em sua voz, mais profundo que o habitual. Incapaz de mentir para ele, Louise não teve escolha senão confessar o que menos queria dizer:
— Acho que a senhorita Ovella… tem sentimentos por você, Sua Santidade. Eu queria saber como o senhor se sente em relação a isso.
Tendo finalmente terminando sua explicação truncada, Louise não conseguiu olhá-lo nos olhos e baixou a cabeça.
— Você acha que eu deveria considerar uma garota assim?
Sua voz, antes gentil, agora soava fria aos ouvidos dela.
— Uma mimada que não reconhece o valor das pessoas e ainda tem o hábito de agredi-las? 🥰🐶
Louise jamais esperava ouvir um comentário tão cínico vindo de Licht
Ela o olhou, chocada, ele a fitou firmemente, inclinando levemente a cabeça.
— Sua dúvida foi resolvida? Ou há algo mais que deseja saber?
Embora soubesse que deveria parar, Louise não conseguiu se conter e perguntou:
— Então… se ela lhe propor casamento, o senhor não aceitará, certo?
Nunca fora tão corajosa em toda sua vida.
Felizmente, Licht não se irritou. Em vez disso, respondeu gentilmente:
— Claro que não. Por que eu aceitaria?
Louise, sentindo um profundo alívio, quase desabou no assento. Só conseguiu se manter firme por que os olhos dele, observavam atentamente como se estudasse cada movimento seu.
— Agora é a minha vez, não é?
— … Perdão?
Quando ela olhou confusa, Licht serviu chá em sua xícara e falou:
— Eu disse que também tinha algo para conversar com você, lembra?
— Ah…! Sim, por favor, continue.
Após encher calmamente sua própria xícara, Licht tomou um gole e começou a falar:
— Achei que deveria conversar com você pelo menos uma vez antes que esta jornada termine. Tenho me sentido um pouco triste com isso. 🤏🏻🥹
— Comi… go?
A voz de Louise tremeu, como se o céu estivesse desabando.
— Sim.
Ele levantou os olhos para encontrar os dela e sorriu tristemente.
— É verdade que tivemos pouco tempo juntos por pertencermos a ordens diferentes, mas nem sempre fomos tão formais um com o outro. Você esqueceu todo o tempo que passamos juntos?
Os olhos de Louise se arregalaram. Como poderia esquecer? Sua vida, que já deveria ter se apagado, foi renovada por causa dele.
— Não, jamais, Vossa Santidade.
— E, ainda assim, mesmo agora, você me chama como se tivesse esquecido completamente meu nome. 🥹🥹
— Mas como eu… ousaria…
— É assim que você pensa?
Ele fitou seus olhos trêmulos intensamente.
— Louise.
Seu coração quase parou quando seu nome escapou de seus lábios vermelhos.
Presa em um transe, como se o tempo tivesse parado, Louise finalmente conseguiu responder após várias tentativas:
— … Sim, Licht.
Embora devesse ter se emocionado mais por ter permissão de chamá-lo pelo nome, ela apenas sentiu culpa por magoá-lo sem querer. Ele parecia tão feliz e radiante ao sorrir daquele jeito, e Louise se sentiu culpada por entristecê-lo.
Se ao menos soubesse que o deixaria tão contente, nunca teria se distanciado.
Sentiu-se patética por presumir que ele havia esquecido o tempo passado juntos. Se tivesse se aproximado primeiro, conversado e sido mais amigável, as coisas teriam sido melhores para ambos.
Enquanto o observava tomar o chá com um sorriso tão diferente do habitual, Louise tomou uma decisão.
— Mesmo que os Cavaleiros Sagrados retornem primeiro, eu… esperarei por você na vila mais próxima do castelo.
Seu rosto refletido nos olhos surpresos de Licht estava cheio de animação e alegria inconfundíveis.
— Quero escoltá-lo pessoalmente de volta ao Reino Sagrado. Então… vamos voltar juntos.
Embora já não precisasse mais de cura, Licht estendeu a mão com cuidado e tocou levemente seus lábios.
— Faz tempo que não fazemos uma viagem só nós dois.
Seu coração batia tão forte que parecia sacudir seu corpo inteiro. Mesmo que ele explodisse de tanta emoção, Louise tinha certeza de que nunca se arrependeria dessa decisão um tanto impulsiva.
Continua…
Tradução Elisa Erzet